“Bilheteria online” encanta torcidas e ajuda clubes. Mas e os cambistas?

  • Por Jovem Pan
  • 13/10/2016 18h12
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O "cambismo" é crime e pode render até quatro anos de reclusão para seus praticantes

Estadão Conteúdo O "cambismo" é crime e pode render até quatro anos de reclusão para seus praticantes

“Já tem ingresso, chefe?! Compro e vendo arquibancada. Numerada é mais caro!”. As frases que, por anos, inundaram a mente dos torcedores que compareceram aos principais estádios de futebol da cidade de São Paulo estão em escassez. O desenvolvimento da venda de ingressos online, somado à evolução dos programas de sócios-torcedores, facilitaram a vida dos aficionados, que não precisam mais encarar horas de fila à frente das bilheterias; ajudaram os clubes, que podem se organizar melhor e oferecer um serviço de maior qualidade aos seus fãs; e contribuíram até mesmo para o incremento da segurança nos grandes eventos esportivos, já que um bilhete comprado pela internet é, na maioria das vezes, nominal e conta com os principais dados do seu respectivo dono. 

Mas e os cambistas? Como têm reagido a esta nova tendência?  

O repórter Zeca Cardoso foi atrás das respostas para estas perguntas. E, em matéria exclusiva que vai ao ar no próximo fim de semana, na Rádio Jovem Pan, descobriu que a prática de venda ilegal de ingressos para partidas de futebol vive uma crise sem precedentes. “Prejudicou muito. Eu diria que entre 60% e 70% do meu serviço foi comprometido”, revelou o cambista Beto, que vende entradas para shows e jogos de futebol há pelo menos duas décadas. 

Hoje em dia, está muito difícil... A gente tenta comprar alguns ingressos na bilheteria, mas é muito difícil. Não há mais aquela quantidade de vendas que havia há uns dez anos. Antigamente, eu vendia de 80 a 100 ingressos por jogo. Hoje, são 30, no máximo. Então, nem compensa mais comprar o mesmo número de ingressos que eu comprava antes. Corro o risco de encalhar com eles na mão“, explicou, ciente de que a venda online se transformou na grande vilã dos cambistas.

Hoje, são poucos os torcedores que optam pela comercialização física de ingressos. Tornou-se muito mais simples aderir ao programa de sócio-torcedor do clube do coração, pagar uma taxa mensal e ganhar privilégios na hora de adquirir entradas para uma determinada partida de futebol. Não é mais necessário encarar sol, chuva, cansaço, locomoção… Os únicos desconfortos podem ser causados pelas sempre imprevisíveis quedas de sistema. Ou, então, pelas igualmente irritantes filas virtuais. Mas a qualidade de cada serviço nem se compara. 

A prova disto está nas estatísticas. O número de sócios-torcedores dos clubes paulistas só aumentou nos últimos anos. O Corinthians, por exemplo, tem, hoje, mais de 132 mil associados – é o líder do ranking nacional. O segundo colocado, Palmeiras, conta com pelo menos 126 mil sócios-torcedores. São Paulo e Santos aparecem um pouco atrás, com 111 mil (4º) e 65 mil (8º), respectivamente. Ao mesmo tempo, a venda de ingressos via bilheteria só diminui. O clube alviverde, por exemplo, já conseguiu realizar a façanha de comercializar 100% das entradas para três partidas pela internet. Algo inimaginável há alguns anos. 

A nova prática fez mudar até mesmo a forma de acesso dos cambistas aos ingressos. “Antigamente, eu colocava entre dez e quinze pessoas numa fila, e cada uma comprava dez ingressos. No fim, eu tinha entre 100 e 150 ingressos para vender. Já hoje, eu compro ingresso de pessoas que já adquiriram o bilhete pela internet, mas não vão poder comparecer ao evento. A minha fonte, atualmente, é mais o consumidor que não quer perder dinheiro do que a própria bilheteria”, explicou Beto, que, na ânsia de conquistar novos clientes, tem oferecido todas as facilidades possíveis na hora da venda. 

Passei a trabalhar com maquininha de cartão, por exemplo. E, muitas vezes, dou um número menor de ingressos para um determinado grupo. Aí, as pessoas que têm ingresso passam pela catraca, e as que não têm ficam do meu lado, para se certificar de que os bilhetes são verdadeiros. Só depois é que elas pagam”, exemplificou.

“E, quando a maquininha de cartão não pega, eu deixo os ingressos com os clientes, peço o número do celular deles, e, depois, eles transferem o valor das entradas direto para a minha conta. Do jeito que está, tem que ser assim, na relação de confiança com um consumidor que, muitas vezes, você nem conhece“, finalizou, ainda sobrevivendo de uma prática que é considerada crime – o artigo 41F do Estatuto do Torcedor prevê multa e reclusão de até quatro anos para quem vende ingressos de eventos esportivos com um valor superior ao estampado no bilhete.

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