Brasileiro que abrigou refugiados se emociona com vagas à Rio-2016: “filhos adotivos”

  • Por Jovem Pan
  • 07/06/2016 17h40

Geraldo Bernardes entre Popole Misenga e Yolanda Bukasa: retrato de uma linda história de superação

Divulgação Geraldo Bernardes entre Popole Misenga e Yolanda Bukasa: retrato de uma linda história de superação

Um dos profissionais mais lendários da história do judô brasileiro, Geraldo Bernardes já mudou a vida de muitos atletas. Ex-treinador de medalhistas como Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Tiago Camilo e Flávio Canto, o sensei inspirou inúmeros esportistas em mais de 30 anos de carreira. Poucos casos, contudo, foram tão capazes de emocioná-lo quanto os de Popole Misenga e Yolanda Bukasa – como conta a matéria especial de Fredy Junior, que vai ao ar no próximo Domingo Esporte, na Rádio Jovem Pan.

Popole, de 23 anos, e Yolanda, de 28, nasceram no Congo e vieram ao Brasil em 2013, para participar do Campeonato Mundial de Judô. A realidade no país africano, que tem sido palco de intensa guerra civíl, já era das mais difíceis. Ao desembarcarem em solo carioca, no entanto, os dois judocas começaram a viver um pesadelo ainda maior. Maltratados pelos treinadores congoleses, foram confinados em um quarto de hotel, tiveram passaportes e tíquetes de alimentação confiscados e passaram fomeNão houve, portanto, outra alternativa a não ser abandonar a delegação e se recusar a voltar ao país de origem.  

A partir daí, a história dos africanosque tinha tudo para terminar com final triste, sofreu incrível reviravolta. Tudo mudou quando o caminho dos congoleses se cruzou com o do Cáritas, instituição que há mais de quatro décadas atua no acolhimento, proteção e integração de refugiadosPopole e Yolanda foram abraçados pelo órgão, que, aí sim, apresentou-os a Geraldo Bernardes. 

sensei é co-fundador do Instituto Reação, criado em 2003 por Flávio Canto para promover o desenvolvimento social por meio do judô. Os dois africanos passaram a treinar com Geraldo Bernardes em abril do ano passado e, há alguns dias, receberam a melhor notícia de suas vidas: vão disputar os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, pelo Time de Refugiados do COI. 

O exemplo de superação, é claro, comove até mesmo o técnico que já moldou tantos nomes de peso do esporte brasileiro. Vê-los na Olimpíada vai ser uma coisa diferente. Nós trabalhamos com crianças de no mínimo quatro anos no Reação, e costumamos considerá-las nossas filhas. O Popole e a Yolanda, então, serão os nossos filhos adotivos. Vai ser uma emoção muito grande“, definiu Geraldo. 

As vagas foram conquistadas depois de Popole e Yolanda se destacarem nos treinamentos com o sensei brasileiro. Geraldo foi chamado pelo COI, apresentou os dois congoleses a especialistas da entidade e, depois, só se preocupou em vibrar com a confirmação das convocaçõesElas, afinal, surpreendem. 

O jovem de 23 anos, por exemplo, teve participação decepcionante no Mundial de 2013: abalado psicologicamente, foi eliminado após sofrer três advertências por falta de combatividade. Já Yolanda, que fugiu após não resistir à fome, sequer compareceu ao torneio realizado na capital carioca. 

Mas se engana quem pensa que esta falta de experiência em eventos de grande porte preocupa Geraldo. O mestre brasileiro, tão acostumado a formar campeões, não ficará surpreso se Popole ou Yolanda vencer algum combate nos Jogos Olímpicos de 2016. “O importante é saber que estes 16 meses que eles ficaram no Brasil valem mais do que quatro anos de treinos no Congo. Os dois se desenvolveram muito bem, principalmente o Popoli, que vai disputar na categoria médio, e é muito forte. Pode surpreender…”, afirmou. 

O que Popole e Yolanda farão no mês de agosto, contudo, será apenas secundário. Geraldo Bernardes tem certeza de que, ganhando ou perdendo, ambos já conquistaram a grande medalha que poderiam faturar“O esporte tem este poder de promover transformações na vida das pessoas. O mais importante não será a participação deles na Olimpíada, e sim as chances que eles poderão ter aqui no Brasil, de estudo, de crescimento de renda e maior qualidade de vida”, encerrou.

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