Na boa e na ruim: as conversas que uniram Cássio e Tite e podem definir vaga à Copa

  • Por Jovem Pan
  • 08/05/2018 08h00 - Atualizado em 08/05/2018 14h19
Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians/Divulgação Tite, Cássio, corinthians Tite e Cássio: relação que vai além das quatro linhas e pode levar o goleiro à Copa de 2018

Seria ingênuo limitar a relação entre Cássio e Tite ao âmbito profissional. Apesar de não se falarem com a mesma constância desde que o treinador assumiu a Seleção Brasileira, em 2016, o goleiro e o técnico desenvolveram um laço que vai muito além das quatro linhas – não à toa, o arqueiro de 30 anos é o favorito a ser convocado para as reservas de Alisson e Ederson na Copa do Mundo da Rússia.

Engana-se, porém, quem pensa que o vínculo entre Cássio e Tite foi construído apenas “no amor”. A relação próxima nasceu na confiança do comandante no comandado, mas se consolidou na franqueza do técnico durante um dos momentos mais difíceis da vida do goleiro.

Em entrevista exclusiva ao repórter André Ranieri, da Rádio Jovem Pan, Cássio abriu o coração e relembrou as duas conversas que o fizeram enxergar Tite não só como um técnico fora de série, mas, principalmente, como um homem leal e confiável.

Dessa relação, pode sair o nome do terceiro goleiro da Seleção no Mundial de 2018.

“Aqui, as paredes têm olhos e ouvidos”

Tite não hesitou em apostar em Cássio quando quase ninguém apostaria. O ano era 2012, o então titular Júlio César havia acabado de falhar na precoce eliminação para a Ponte Preta no Campeonato Paulista, e o Corinthians teria o indigesto desafio de encarar o Emelec, no Equador, pelas oitavas de final da Libertadores. Foi quando o treinador chamou Cássio de canto e o encantou pela confiança.

“Quando eu virei titular do Corinthians, o Tite me chamou e me perguntou porque eu achava que estava ganhando aquela chance. Eu fiquei sem resposta… Mas ele me disse: ‘aqui, as paredes têm olhos e ouvidos. Muitas vezes, eu não estava vendo o treino, mas sabia que você mantinha o nível quando eu estava e quando eu não estava. Por isso você vai ganhar essa oportunidade.’ Essa conversa foi muito importante para mim, me deu muita confiança”, relembrou o goleiro.

Cássio, até então um desconhecido arqueiro contratado junto ao PSV Eindhoven, da Holanda, assumiria a meta do Corinthians no momento mais conturbado da temporada. O fim da história todos já conhecem: ele fechou o gol e garantiu o 0 a 0 contra o Emelec, no Equador; parou o Vasco e Diego Souza nas quartas de final; e se consolidou como ídolo do Corinthians ao ganhar Libertadores e Mundial como protagonista.

“Em setembro de 2011 eu assinei um pré-contrato com o Corinthians. Em dezembro fui fazer os exames. Me lembro de ter sido bastante contestado, pelo fato de não ser conhecido. Falavam que o Corinthians precisava de um goleiro com mais nome. Mas, desde que eu cheguei, eu sempre falei que, quando tivesse uma oportunidade, iria agarrar e não largaria mais. Naquela época, o sonho de todo corintiano era ganhar a Libertadores, e testar um goleiro numa situação daquelas era difícil. Mas eu me senti muito seguro. Todos me deram muito suporte, os jogadores, o treinador… Isso me deixou muito confiante.”

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“Fiquei chateado, mas em nenhum momento desrespeitei”

Se, em 2012, o “merecimento” tão pregado por Tite proporcionou a Cássio a maior chance de sua vida, quatro anos depois, por pouco não fez o goleiro encerrar precocemente a sua passagem pelo Corinthians. Em maio de 2016, o camisa 12 foi novamente chamado de canto pelo treinador. Desta vez, no entanto, o teor da conversa seria outro: Cássio ouviria as razões que o fariam perder a titularidade para Walter. Seria o ápice de um dos piores momentos da vida do arqueiro.

“Eu passei por um momento muito difícil naquela época. A minha avó, que sempre foi a minha referência, havia acabado de morrer… Então, eu fiquei um pouco desnorteado. Perdi a minha posição e, hoje, sei porque perdi. Eu me descuidei fisicamente, perdi um pouco do foco… Foi bastante complicado”, relembrou.

Na ocasião, Cássio se chateou com a reserva, desabafou na imprensa e revelou mágoa com Tite e o preparador de goleiros Mauri Lima. Hoje, no entanto, entende a decisão do treinador e é grato a ele por ter sido franco e leal em um dos momentos mais complicados da sua vida.

Marco Galvão/Agência Estado

“Eu tive uma conversa franca com o Tite naquela época, e ele me explicou tudo. Foi um aprendizado muito bom. Quando acontecem coisas ruins, a nossa primeira reação é ter raiva, colocar a culpa nos outros e não olhar para si. Mas, com o decorrer do tempo, eu consegui olhar para mim e entender por que havia perdido a posição”, garantiu.

“O Walter é um grande goleiro, sempre entrou bem, mas, ali, eu havia perdido a posição para mim mesmo. Conversei com o Tite, e ele deixou claro para mim que eu estava perdendo a posição não por questões técnicas, mas porque eu tinha me descuidado no peso e não estava na melhor forma. No começo, eu fiquei um pouco chateado, mas em nenhum momento desrespeitei. Tentei ajudar o Walter da melhor maneira possível.”

A recompensa veio sete meses depois. No início de 2017, já com Fábio Carille no lugar de Tite, Cássio abriu mão de 15 dias de férias para se preparar fisicamente e reassumiu a titularidade após lesão de Walter. Novamente focado, o goleiro agarrou a oportunidade e não deu mais brechas para o azar. Não à toa, tornou-se, hoje, o mais cotado para a reserva de Alisson e Ederson na Copa do Mundo da Rússia.

“A convocação está quase aí. Eu tenho que continuar trabalhando, fazendo o meu melhor. É lógico que eu gostaria muito de estar em uma Copa do Mundo, é o sonho de qualquer jogador, mas eu sei que o que pode me levar à Copa é o meu trabalho no Corinthians. O Tite pode me levar ou não. Se eu for convocado, vou ficar muito feliz, mas, se não for, vou ficar na torcida do mesmo jeito”, finalizou.

Tite anunciará a lista de convocados à Copa do Mundo na próxima segunda-feira, 14 de maio.

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