Despedida de Sampaoli? Nem vitória garante permanência do sétimo técnico do Flamengo após Jorge Jesus
Em crise com o elenco rubro-negro e malquisto pela torcida, argentino perdeu um pouco do moral que tem no Brasil
O técnico argentino Jorge Sampaoli costuma dizer para seus conterrâneos que tem mais prestígio no Brasil do que em seu país. No entanto, a sua passagem pelo Flamengo deverá arranhar a imagem de profissional inventivo, adepto do futebol ofensivo e que constrói times vistosos. Desde que assumiu o Rubro-Negro, em abril, o técnico em nenhum momento conseguiu fazer seu time repetir os bons desempenhos da época de Santos (2018 a 2019) e Atlético-MG (2020 a 2021). É verdade que a diretoria tem grande culpa pela bagunça que virou o “melhor time do Brasil” em 2023. Mas Sampaoli, com seu comportamento arredio, também contribuiu para a deixar o clima quente, sobretudo quando não repreendeu de imediato seu ex-preparador físico e fiel escudeiro Pablo Hernández, que agrediu Pedro após vitória sobre o Atlético-MG, em 29 de julho.
O argentino é o sétimo técnico a assumir o Flamengo após a saída do português Jorge Jesus, uma espécie de Dom Sebastião rubro-negro, a quem os flamenguistas sempre aguardam o apoteótico retorno. Todos os técnicos que comandaram o Mengão pós-Jesus conviveram com a sombra do Mister. Até mesmo Rogério Ceni e Dorival Júnior, adversário neste domingo, que foram dispensados mesmo conquistando títulos. Escolhido para suceder o português, Domenec Torrent sucumbiu após 23 jogos por não conseguir dar jeito na defesa. Renato Gaúcho chegou nos braços da massa, mas a perda da Libertadores para o Palmeiras, com futebol muito aquém das expectativas, decretou sua saída. Português como Jesus, Paulo Sousa foi quem mais viu o fantasma do Mister rondar, sobretudo quando o compatriota viajou para o Rio de Janeiro para passar o Carnaval e se mostrou aberto a voltar. Já Vítor Pereira não conseguiu se entrosar com o elenco e atraiu a ira das arquibancadas. Até de “burro” foi chamado, para alegria dos magoados corintianos que o secavam pelo que consideraram uma “traição”: trocar o CT do Parque Ecológico pela Gávea.
“Sonho antigo do Flamengo”, de acordo com o presidente Rodolfo Landim, Sampaoli chegou credenciado pelos bons trabalhos no Santos e no Galo. No litoral paulista, não conseguiu nenhum título, mas deixou saudade por respeitar o “DNA ofensivo” do Peixe, sempre priorizando o ataque. Tanto é que até uma eliminação encheu o santista de orgulho, contra o Corinthians, no Paulista de 2019. O Santos massacrou o adversário, criou chance atrás de chance, mas a vitória pelo placar mínimo levou a decisão da vaga na final para os pênaltis, e nesta disputa o Timão foi superior. “Bola, numa noite injusta, puniu aquele que a ama e não a despreza”, lamentou o clube, em uma rede social. Já em Belo Horizonte, o argentino se sagrou campeão mineiro em 2020.
“Sampaoli tem a cara do Flamengo. A determinação, a vontade de vencer, a energia… A forma de jogar que tenta implementar nos seus times é exatamente o modelo que toda a nação rubro-negra espera ver”, disse Landim, na chegada do novo técnico. Porém, faltou na avaliação — ou não pesou na hora de contratar — o histórico belicoso do comandante, que nem com Messi conseguiu lidar (seu desempenho à frente da Argentina na Copa de 2018 foi um fiasco). No Santos, as brigas com a diretoria por mais reforços deixaram o clima insustentável. Ele trocou o Peixe pelo Galo e no novo clube entrou em atrito com Hulk, a estrela do time. “O Keno falou que ele [Sampaoli] comentou que não sabia como iria fazer, mas que eu não jogaria com ele. Eu nem tinha treinado com ele. Os caras falavam que ele é assim: manda contratar jogador e não usa”, disse o ídolo atleticano.
Em seu terceiro clube no Brasil, o ex-lateral direito de 63 anos tem a chance de conquistar seu maior título no país onde sua reputação é respeitável. Ironicamente, Sampaoli nunca foi tão questionado por essas bandas e deve deixar o Flamengo mesmo que leve a equipe ao quinto título da Copa do Brasil — talvez o caneco o dê sobrevida até o final do ano, já que falta pouco mais de dois meses para a temporada acabar. Tudo indica que, no ano que vem, o Mengão terá o oitavo técnico na era pós-Jesus. Ou, se o sonho rubro-negro se realizar, o próprio Mister deixará a Arábia Saudita para acabar de uma vez por todas com a sombra que paira na Gávea.
Técnicos do Flamengo após Jorge Jesus
- Domenec Torrent (2020)
- Rogério Ceni (2020/2021)
- Renato Gaúcho (2021)
- Paulo Sousa (2022)
- Dorival Júnior (2022)
- Vitor Pereira (2023)
- Jorge Sampaoli (2023)
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