Jogadora se recusa a homenagear Maradona e recebe ameaças de morte

Atuando na Espanha, Paula Dapena sentou no gramado no momento do minuto de silêncio e gerou revolta dos fãs do argentino

  • Por Jovem Pan
  • 30/11/2020 20h00
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Reprodução/ Twitter Paula Dapena ficou sentada e de costas para as companheiras de time durante um minuto de silêncio por Maradona

A jogadora Paula Dapena, do Viajes InterRías, time de futebol da terceira divisão feminina da Espanha, afirmou nesta segunda-feira, 30, que recebeu ameaças de morte em redes sociais por ter ficado sentada no gramado no momento em que foi prestado um minuto de silêncio em homenagem a Diego Maradona, que faleceu na semana passada, antes de um amistoso no domingo. “Não esperava isso. Está sendo uma agonia, mas eu faria o mesmo mil e uma vezes”, admitiu à Agência Efe. “No sábado, quando fomos pegar o ônibus para jogar contra o Deportivo Abanca, uma companheira me disse que a Federação Espanhola havia combinado um minuto de silêncio por Maradona. Eu já tinha dito que me negaria totalmente a fazer isso, foi o que falei a toda a equipe. Acho que ninguém me levou a sério, mas, quando a árbitra nos avisou do minuto de silêncio, deixei claro. Eu me virei e fiquei sentada no chão”, contou.

Segundo ela, para ser uma boa jogadora e boa atleta “é preciso ter valores além do futebol, e Maradona era um agressor“. “Não podemos nos esquecer disso. Não o critico por ter se drogado, há muitos jogadores, cantores, atores, atrizes que fizeram isso, mas só estão prejudicando a eles próprios. No momento em que passa a machucar outras pessoas, deixo de considerar uma referência”, argumentou. A jogadora de 24 anos afirmou que recebeu mensagens de apoio, mas as ameaças chegaram após a notícia se espalhar por lugares onde Maradona fez história. “Na manhã de domingo, acordei com muitas mensagens de apoio e carinho. Mas, quando a notícia saiu da Espanha e chegou à Itália e à América do Sul, comecei a receber ameaças, inclusive algumas de morte. E não só eu. Algumas companheiras que me apoiaram no Instagram também foram ameaçadas e atacadas”, relatou.

Em 2014, Maradona foi acusado de agredir sua então namorada, Rocio Oliva. Na época, o sobrinho do ex-jogador, Chino Maradona, compartilhou um vídeo nas redes sociais da agressão que aconteceu em um hotel de Buenos Aires. Nas imagens, o ex-jogador aparece assistindo à televisão, levanta e vai em direção a Rocio cambaleando. Ao se aproximar, os dois têm uma breve discussão e Maradona a agride. Segundo o site Primicias Ya, a mulher disse a seguinte frase na gravação. “Você quer saber o que tenho gravado, agora vai ver. Agora, corto e te mando para que veja o que tenho, não me incomode mais”. Após a divulgação, Maradona se pronunciou e disse que iria acionar a Justiça.

‘Não vão me calar’

Apesar das ameaças, Paula Dapena não se intimidou, e garante que manterá a mesma postura sobre o assunto. “Faria mil e uma vezes mais. Tirei ‘prints’ para tentar denunciar essas ameaças, mas não vão me calar. Estou convicta porque tenho meus ideais. Não vão me calar. Respeito todas as homenagens que fizeram porque Maradona é considerado um deus do futebol, mas não compartilho. Infelizmente, o fanatismo faz com que nos esqueçamos de tudo o que há por trás dessa pessoa”, argumentou. Dapena também destacou que, apesar de o machismo ainda ser muito presente no futebol, a situação tem melhorado com o tempo. “Acho que é o esporte mais machista de todos, tanto em igualdade entre equipes masculinas e femininas como em insultos. Não entendo isso. Hoje, não há mais tantos comentários, mas antes era comum escutar: ‘Limpe a cozinha e largue a bola’ ou “O futebol feminino não é futebol, nem feminino”, analisou.

Após a enorme repercussão, a jogadora diz que prefere se concentrar nas mensagens de apoio para se sentir motivada. “Estou um pouco estressada porque recebo ligações o tempo todo, são vários jornalistas querendo falar comigo. As redes sociais também estão pegando fogo. Tento me esquecer as ameaças, prefiro focar nas mensagens positivas, que me dão força para continuar. Mensagens até de pessoas famosas e de referências feministas“, contou. “Gente de Argentina, México e outros países latino-americanos também mostraram apoio. Acho que abri os olhos de muita gente, espero que sirva para que outras deem o mesmo passo, sejam valentes e coerentes com seus ideais”, complementou a jogadora.

*Com informações da EFE

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