Mandetta critica possível retorno do futebol no Brasil: ‘Temos medidas mais importantes’

  • Por Jovem Pan
  • 08/05/2020 09h52 - Atualizado em 08/05/2020 10h00
Isac Nóbrega/PR Luiz Henrique Mandetta é ex-ministro da Saúde

Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta disse ser contra o possível retorno do futebol no Brasil devido ao avanço da pandemia de Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Em entrevista à emissora “ESPN”, na última quinta-feira (7), ele afirmou que o país está em uma situação muito mais complicada em relação a Alemanha, país que autorizou a retomada das competições a partir do dia 16 de maio.

“A Alemanha vai fazer um protocolo muito rígido. É um dos poucos países que tinha uma capacidade instalada. É um país que trabalha em seus hospitais com redundância: tudo que ela tem ativo, tem no depósito do hospital em dobro. Então, quando teve necessidade, expandiu a rede muito rapidamente. E tem profissionais muito bem formados”, comentou o médico.

“O Brasil tem problemas de equipamentos de proteção individual, de respiradores e de profissionais de saúde. Então o que seria razoável administrarmos essas duas variáveis, velocidade de transmissão e vulnerabilidade do sistema. Melhorando a performance do sistema e controlando o máximo possível a transmissibilidade, a gente passaria por esse estresse. De uma maneira mais lenta, mas passaríamos e com menos perdas”, comparou.

Há duas semanas, Jair Bolsonaro, presidente da República, defendeu o retorno dos torneios no país e disse que estava trabalhando neste sentido. Para Mandetta, a decisão seria precipitada e poderia prejudicar ainda mais a situação do sistema de saúde.

“Ao meu ver, temos outras medidas mais importantes a fazer antes de falar de futebol. Acho que a gente estaria atropelando a história natural desse vírus. Não tem elementos para fazer essa decisão no momento. Estamos aumentando o número de casos. Seria decidir pelo retorno e logo na frente ter que suspender”, opinou o político, que deixou a Pasta em abril.

“Seria flertar com a possibilidade de uma quarentena mais rígida, de um lockdown, como se chama. Seria a possibilidade de colocar o futebol como um dos corresponsáveis de uma situação crítica para a sociedade. Não faria bem ao futebol. Acho que não tem elementos. Acho que a gente deve esperar um pouco mais e ver como isso vai se dar na Europa, onde já passou o pior da crise. Para que aí a gente possa passar da nossa crise e tomar as nossas decisões”, completou.

Apesar do debate, o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, concedeu entrevista exclusiva à Jovem Pan na última quinta-feira (7) e reforçou que não é o momento de retomar as competições. Alguns clubes, como Internacional e Grêmio, retornaram aos treinamentos nesta semana.

“Não é hora de voltar. É consenso em relação a isso. O que está sendo feito pela CBF, federações e clubes é uma orientação coletiva, o que significa o recondicionamento físico e volta às atividades nos treinos, com toda preparação, exames clínicos e o que é fundamental na história desse eventual paciente. E se tiver qualquer tipo de contaminação, essas pessoas serão afastadas. Há um distanciamento social controlado nesses treinos. Em caso qualquer contaminação, eles são afastados”, disse o secretário.

De acordo com dados mais atualizados do Ministério da Saúde, o Brasil já contabilizou 135.106 casos de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus. O número de mortos já chegou a 9.146.

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