Para Hernanes, “São Paulo esteve no fundo do poço e precisa aprender com erros”

  • Por Estadão Conteúdo
  • 23/11/2017 10h47
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Divulgação/Rubens Chiri/saopaulofc.net futebol, são paulo, hernanes Hernanes admite que não esperava encontrar o clube na luta contra o rebaixamento

Após escapar do rebaixamento no Campeonato Brasileiro em uma das piores campanhas de sua história, o São Paulo precisa aprender com os erros e se inspirar nos momentos de glória para voltar a ser o que era. Esta é a avaliação do ídolo e capitão Hernanes, que voltou ao clube do Morumbi depois de sete anos para se tornar a principal referência em campo.

Ele ajudou a equipe a reagir após ver ameaçado um dos principais lemas da torcida: “time grande não cai”. Mas o futuro depende de correções, profetiza o meia. “Erramos muito neste ano e esses erros vão ter de ser corrigidos em 2018. O São Paulo esteve no fundo do poço e agora tem de subir”.

Nesta entrevista ao Estado, Hernanes comenta sobre os ciclos do São Paulo e, sem perceber, traça um paralelo entre a sua carreira e a trajetória do clube. O time tricolor deixou de ser referência para seus rivais há alguns anos, depois de muitas glórias. Passou a amargar sucessivas decepções. Tem como desafio se reformular e se reerguer.

Da mesma forma, Hernanes teve os seus momentos, perdeu espaço fora do Brasil e agora também tenta renascer no futebol. Busca sua “segunda plenitude”, como ele próprio define, depois do ápice e até do esquecimento.

Lições de 2017

“A vida é feita de ciclos. O São Paulo vinha de um ciclo vitorioso há uns 10 anos, mas as peças foram embora e, para montar um grupo vitorioso, não é tão simples assim. Um clube conquista muitos títulos e aí achamos que ele vai sempre significar conquista. Mas é preciso ter jogadores de qualidade e boa gestão. Esses são alguns fatores para que a equipe permaneça tendo bons resultados. O que aconteceu em 2017 talvez tenha sido o fundo do poço, em que o São Paulo foi caindo depois do último ciclo vitorioso. Agora é preciso subir de novo”.

Sufoco no retorno ao Brasil

“Não imaginava que seria assim. Tanto é que, antes de eu vir, assistia às rodadas, via que de repente estávamos na zona de rebaixamento, mas imaginava que dali a pouco ganharíamos e pronto. E aí, quando cheguei, ganhamos o primeiro jogo, do Botafogo (4 a 3, no Rio de Janeiro), achei que as coisas iriam deslanchar, e nada. Parecia areia movediça. Quanto mais a gente se esforçava, mais afundava. Foi complicado, não esperava essa situação”.

Queda do São Paulo

“Eu sempre digo que pensar é um verbo. E uma coisa que acontece dentro da nossa cabeça às vezes não é exatamente pensar, mas é um fluxo de ideias. Sem querer pensar, algumas coisas passam pela nossa cabeça. Não pensei, mas passou pela minha cabeça a possibilidade de queda. São Paulo rebaixado, eu capitão… E cada vez que aparecia esse fluxo, eu o espantava, que nem passarinho, para que não ganhasse consistência”.

Permanência na Série A

“O clima ficou mais leve. Apesar do peso, o grupo foi forte. Mas não tem de comemorar muito. Não dá para estar satisfeito. Dá para comemorar pela realidade que enfrentamos, de termos passado 14 rodadas na zona de rebaixamento. Em alguns momentos, parecia que o negócio não andava, não ia… Então, foi comemorado o fato de que conseguimos alcançar a meta (de zerar o risco de queda), mas não significa que estamos satisfeitos com isso. A realidade do São Paulo é comemorar por outras coisas, coisas melhores. Este foi um ano à parte”.

Aprendizado pessoal

“Eu estava em alta quando atuava no São Paulo, quando fui para o futebol italiano. Na Juventus, joguei a Liga dos Campeões, que era meu objetivo na época, mas depois comecei a cair, fui esquecido… Eu vejo que, dentro desses ciclos, eu cheguei, naquela época, no que chamo de minha primeira plenitude, e aí o ciclo se inverteu. Então, agora eu estaria começando minha segunda plenitude. Estou em ponto de decolagem”.

Carreira e futuro

“Eu não tinha prazer em jogar futebol. Sempre tratei como um trabalho. Recentemente, estava estudando a origem da palavra ‘trabalho’. Vem de tripaliu, do latim, que significa tortura. Então, percebo que o prazer vem de um equilíbrio que parte do seu sacrifício. Encontrei um equilíbrio jogando futebol. Não deixei de fazer sacrifícios, mas achei um equilíbrio do sacrifício certo que tenho que fazer na minha profissão e então encontrei o prazer de jogar. Não penso em continuar no futebol depois de me aposentar, mas também não descarto. No ano passado, era uma situação oposta. Cheguei a pensar ‘acabou o futebol, não quero mais saber disso’, e hoje o que passa pela minha cabeça é bem diferente”.

Rendimento no São Paulo

“O desejo era grande de me surpreender, então tem sido muito especial jogar. Não esperava… Eu esperava fazer grandes coisas, mas não esperava alcançar esses resultados expressivos. Tem sido surpreendente”.

Seleção brasileira

“Estou fazendo meu trabalho, tentando manter uma regularidade e isso é primordial. Sem isso, a chance não vai aparecer. O critério e a decisão são do Tite. Mas com certeza eu busco essa oportunidade. Isso me motiva”.

Copa Libertadores

“Temos de lamentar um pouco. Vacilamos. Poderíamos ter chegado ao nosso objetivo (fugir do rebaixamento) há algumas rodadas, mas demoramos para chegar na meta. Agora, particularmente, acho que as chances são pequenas (de Libertadores). Espero que a gente consiga vencer os dois próximos jogos para acabar o ano da melhor maneira possível”.

São Paulo em 2018

“Se o grupo permanecer com esses jogadores, concordo que vai melhorar. Há qualidade, e chances de brigar por coisas boas. Nosso segundo turno foi uma das melhores campanhas. O elenco tem qualidade. Se todos permanecerem, temos chance de brigar lá em cima. Mas tudo passa por manter as peças, para não comprometer essa possibilidade. Sobre minha permanência, acho que é pequena a chance de eu ficar depois de encerrar meu contrato. Meu querer não conta nada. Se eu pudesse fazer alguma coisa, faria. Sou um espectador aguardando meu destino (está emprestado do Hebei Furtune, da China, até junho)”.

Profecia

“Profeta não é só para ler bola de cristal. Profeta pode apontar erro. A profecia é que o São Paulo errou muito neste ano e esses erros vão ter de ser corrigidos”.

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