Pedido de prisão ao Brasil diz que Ricardo Teixeira criou “organização criminosa”

  • Por Estadão Conteúdo
  • 23/07/2017 16h30 - Atualizado em 23/07/2017 16h40
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José Cruz / Agência Brasil Ricardo Teixeira foi presidente da CBF de 1989 a 2012. Segundo a Justiça Espanhola, ele usava a Seleção para lavar dinheiro

A ordem de prisão enviada pela Espanha ao Brasil referente ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, usou como argumento central para basear o pedido o fato de o cartola ter sido supostamente o responsável por formar uma “organização criminosa” que desviou milhões de euros da Seleção Brasileira e da CBF. Nesta segunda-feira (24), procuradores brasileiros vão solicitar detalhes sobre o processo que corre em Madri e irão propor que o caso seja integralmente transferido ao Brasil para que Teixeira seja julgado no País.

Na última sexta-feira, o pedido de prisão feito pela Espanha ao Brasil veio à tona. A justificativa legal de maior peso na ordem é a acusação explícita de que Ricardo Teixeira teria sido a peça chave na formação da organização criminosa, além de seu principal beneficiário. Isso, na avaliação de pessoas envolvidas no processo, poderá levar os procuradores brasileiros a acusar formalmente Teixeira por lavagem de dinheiro.

Três documentos foram enviados à Brasília, que agora examina informações preliminares que poderiam resultado numa detenção. A decisão será tomada com base nas provas e documentos que o Ministério Público enviará ao Brasil. O caso será conduzido por procuradores federais no Rio de Janeiro.

No próximo dia 26, uma reunião em procuradores espanhóis e brasileiros poderá determinar os detalhes da cooperação e, se as informações preliminares forem confirmadas, a tendência é de que ele possa ser detido preventivamente. Para o Brasil, o que vai pesar é a forma pela qual os espanhóis qualificam como organização criminosa.

Entre os procuradores envolvidos no caso na Espanha, existe uma certa pressa compartilhar todos os detalhes sobre o caso e tentar pelo menos colher um depoimento do brasileiro. O motivo: um eventual risco de fuga de Ricardo Teixeira do Brasil aos Estados Unidos. Se houver algum tipo de acordo de delação premiada envolvendo o dirigente e a Justiça norte-americana, o acordo poderia prever a sua ida ao território norte-americano, com certas garantias de que não seria extraditado ao Brasil e muito menos para a Espanha.

Outros destinos para Ricardo Teixeira não seriam realistas como estratégias de fuga, já que nos últimos quatro anos a Procuradoria Geral da República tem conseguido convencer diversos países a extraditar brasileiros que estavam foragidos na Operação Lava Jato. Na Europa, todos os demais governos têm acordos com Madri.

O ex-cartola chegou a ter residência em Andorra. Mas esse direito foi encerrado pelo principado depois de polêmicas envolvendo suspeitas sobre Ricardo Teixeira.

Em um grampo realizado pela polícia espanhola, Ricardo Teixeira foi pego falando com o ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell. Na conversa, realizada em abril, ele “consulta com Rosell sobre que lugares do mundo poderiam resultar mais seguros na hora de evitar problemas derivados das investigações em curso seguidas contra ele em diferentes países”.

O brasileiro foi acusado na Espanha de ser o principal articulador de um esquema de desvio de dinheiro de jogos da Seleção Brasileira. Outras quatro pessoas implicadas no mesmo esquema estão em prisão em Madri, sem direito à fiança. Um deles é Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona.

A ordem de prisão partiu da juíza Carmen Lamela, da Audiência Nacional em Madri. “Teixeira obteve, de forma indireta, mediante a um emaranhado societário que se nutria da renda do acordo da ISE para a Uptrend, grande parte dos 8,3 milhões de euros que a ISE transferiu para a Uptrend pela suposta intermediação desta última”, afirmou. A decisão da juíza foi do dia 12 de junho.

Os acordos secretos permitiram que a renda dos jogos da seleção fosse desviada para uma empresa em nome de Sandro Rosell. No mês passado, Rosell foi preso e a Justiça espanhola apontou que parte do dinheiro que ia para sua empresa, a Uptrend, terminava com o próprio Ricardo Teixeira.

Os investigadores concluem, portanto, que “parte dos fundos não foi para a CBF, senão que, de uma forma fraudulenta, foram ao próprio Teixeira”. De acordo com a Audiência Nacional, os fatos apurados levam a crer que o brasileiro acabaria sendo o “destinatário do dinheiro, e não a Confederação (CBF)”.

As autoridades espanholas ainda chegam à constatação de que o delito de Ricardo Teixeira foi “a apropriação por parte do presidente da CBF dos fundos pagos para obter os direitos dos partidos jogados pela Seleção Brasileira”. Desde a prisão de Sandro Rosell, a defesa de Ricardo Teixeira tem negado qualquer tipo de irregularidade.

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