Em crise financeira, CBV corta verba de clubes e atletas do vôlei brasileiro
O vôlei de quadra, modalidade que já rendeu ao Brasil 10 medalhas olímpicas, vai passar por mudanças profundas em sua gestão. Em crise financeira, a Confederação Brasileira da modalidade (CBV) decidiu acabar com os repasses anuais de R$ 100 mil de ajuda de custo para clubes que disputam a Superliga, além de economizar com voos ao comprar passagens em classe econômica para jogadores da seleção nacional, em vez bilhetes na classe executiva.
A informação foi publicada com exclusividade nesta quarta-feira no blog do jornalista Bruno Voloch, no site do Estadão.com.br. O corte é impacto da crise financeira enfrentada pela CBV, que tem dívidas estimadas em cerca de R$ 20 milhões. Procurada pela reportagem, a entidade não quis se manifestar.
Nos bastidores, quem está nas quadras da Superliga já aguardava a redução de custos. Jogadores procurados pelo jornal O Estado de S.Paulo preferiram não se manifestar publicamente sobre o assunto, mas reclamaram da redução de investimento e do impacto para a seleção brasileira masculina, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
A equipe campeã olímpica começa a disputar no mês que vem, na Sérvia, a Liga das Nações. Pela redução de gastos imposta pela CBV, a viagem dos atletas seria de classe econômica e não executiva. A mudança de patamar irritou alguns jogadores. Eles sentem que isso pode afetar a competitividade.
Atletas mais jovens do grupo nacional, no entanto, e que começam a ganhar espaço nas convocações da seleção, preferem relevar a situação e evitam reclamações internas contundentes sobre a queda de investimento. Na seleção feminina, o sentimento é o mesmo. Jogadoras mais renomadas da equipe costumam ser mais críticas à CBV nos bastidores, com reclamações sobre a organização dos torneios e a gestão da entidade.
Entre os clubes nacionais, a situação sobre a economia é de revolta. Para treinadores e dirigentes, o corte de R$ 100 mil é reflexo de má gestão. Recentemente, a CBV enfrentou redução da verba do seu principal patrocinador, o Banco de Brasil, e foi alvo de investigação da Controladoria-Geral da União (CGU), que encontrou irregularidades de R$ 30 milhões em contratos firmados pela entidade com parentes do ex-presidente da entidade, Ary Graça.
Um dos mais renomados técnicos do vôlei brasileiro e atualmente comandante do Osasco e da seleção do Peru, Luizomar de Moura, lamenta o momento que vive a confederação. Sua maior preocupação é com a musculatura dos atletas durante os voos longos caso as viagens internacionais tenham de ser feitas em classe econômica
“Lamento por essa informação. A gente sabe que para os atletas, viajar em classe executiva não é luxo ou soberba por serem campeões olímpicos, mas é uma necessidade pelo tamanho dos jogadores. Na Liga das Nações serão muitas e longas viagens”, lembrou o treinador.
Luizomar de Moura destaca que o conforto durante as viagens interfere no desempenho em quadra. “Estamos falando de ‘gigantes’, mesmo no time feminino. Quando a delegação viaja com mais conforto, chega mais descansada e a aumenta a chance de vencer os jogos. Eu tenho 1,94 metro de altura e sei bem como é desconfortável viajar nessas condições. Imagine para os atletas do Brasil”, comentou.
Multicampeão no comando de times femininos – ganhou, dentre outros títulos, o Mundial de Clubes em 2012, Luizomar de Moura lembra que a CBV poderia tentar um acordo com alguns de seus patrocinadores para resolver o problema. “Acho interessante que a CBV é patrocinada por duas companhias aéreas (Gol e Delta) e isso poderia facilitar uma comunicação com as empresas. Será que não dá para fazer um acordo com eles ou algo assim? Quando o Osasco era patrocinado pela Nestlé, a gente conseguia pegar chocolate bem mais barato. Então, não daria para a CBV conseguir lugares mais confortáveis?”
CONFLITO – O diretor executivo do Osasco, Marcelo Palaia, disse que o corte da ajuda de custo é só mais um problema que a CBV tem em relação aos clubes. “Não é uma questão de valores, mas sim de contrapartidas. Hoje, a gente recebe muito pouco do que vem da Superliga. É um campeonato feito pelos clubes, para os clubes e a gente ganha um porcentual muito baixo do que é arrecadado. Não recebemos nada de placas de publicidade, de TV, naming right, etc. O que a gente tinha era os R$ 100 mil”, lamentou.
Marcelo Palaia acredita que a crise da CBV se dá mais por gestão mal feita do que crise mundial. “A CBV está colhendo os frutos de tudo errado que fez nos últimos anos. Hoje, os artistas do espetáculo não ganham nada para jogar. A gente não tem premiação por título, troféu, hospedagem. Só recebemos os custos se chegarmos na final”, contou.
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