Al Qaeda na Síria espera que EI se arrependa algum dia e retorne ao grupo
Beirute, 3 jun (EFE).- O líder da Frente al Nusra, Abu Mohammed al Yulani, expressou nesta quarta-feira sua esperança de que o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) se arrependa algum dia de ter rompido com sua organização, embora tenha descartado uma negociar um acerto entre eles por enquanto.
“Não vejo nenhuma solução com eles (o EI) por enquanto. Espero que se arrependam e retornem”, disse Yulani na segunda parte de uma entrevista à rede de televisão catariana “Al Jazeera”.
Ambas as organizações nasceram vinculadas à Al Qaeda, mas o EI se separou do grupo de Ayman al-Zawahiri, depois de este ordenarem limitar sua ação ao Iraque e não operar na Síria, onde a filial da rede terrorista é a Frente al Nusra.
Yulani assinalou que tentou evitar a situação atual, mas que o EI não escutou Zawahiri sobre vários assuntos.
“Havia uma falta de compromisso em alguns temas entre o EI e nós”, destacou o chefe da Frente al Nusra, que afirmou que o grupo rival assassinou mulheres e menores, e crucificou membros de sua organização na Síria.
“Tivemos muita paciência. Tentamos tudo para não chegar a isto, sem resultados. Eles mataram 700 dos nossos no leste” do território sírio.
Ele qualificou o califado declarado há quase um ano pelo EI na Síria e no Iraque de “ilegítimo”, e prever que uma grande batalha se aproxima, embora ainda não sabe nem quando, nem como, nem onde.
Quanto ao seu próprio grupo, Yulani detalhou que não importa governar a Síria, porque o que interessa de verdade é “que todo o mundo tenha seus direitos” e seja tratado com justiça.
Ele esclareceu que 30% dos combatentes da Frente al Nusra são estrangeiros, e que há poucos americanos entre eles.
“Seremos os primeiros soldados de um governo islâmico que aplicará a sharia” ou lei islâmica, disse o líder jihadista.
Por outro lado, Yulani tomou distância de qualquer relação com o movimento da Irmandade Muçulmana, a quem criticou duramente por não ter governado com a lei islâmica no Egito quando um membro deste grupo, Mohammed Mursi, estava no poder.
Segundo ele a Frente al Nusra é muito diferente da Irmandade porque “eles se desviaram da origem do islã quando entraram no parlamento”, e o que deveriam fazer é voltar à religião.
“A solução final é a jihad (guerra santa)”, enfatizou Yulani, para quem o primeiro ponto é repelir “o agressor”.
Além disso, negou os rumores de uma hipotética ruptura com a Al Qaeda: “A questão não é romper com a Al Qaeda. É rebelar-se contra a hegemonia”, indicou.
Ao longo da entrevista, que durou cerca de uma hora, em que aparece de costas com um pano negro cobrindo a cabeça, Yulani falou longamente sobre o Irã, aliado do regime de Bashar al Assad.
O dirigente da Al Qaeda na Síria lembrou que após a retirada do exército dos Estados Unidos do Iraque em 2012 havia um vazio no país árabe que foi ocupado pelo Irã, com o beneplácito de Washington, para evitar que os “mujahedins” o fizessem.
Os Estados Unidos “colocaram o Iraque para o Irã em uma bandeja de prata. Inclusive treinaram um exército inteiro (o iraquiano) para que estivesse a serviço do Irã”, explicou Yulani.
Ele acredita que tudo isto faz parte de um plano contra os sunitas, que deveriam “entender a realidade desta guerra”.
Durante a entrevista, gravada em uma zona sob controle opositor na Síria, apareceram imagens de um treinamento da Frente al Nusra e de uma das escolas infantis desta organização, em que “as crianças aprendem sobre a jihad”, indicou Yulani. EFE
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