América Latina se despede com emoção do escritor uruguaio Eduardo Galeano
Montevidéu, 14 abr (EFE).- Centenas de pessoas deram nesta terça-feira (data local) o último adeus a Eduardo Galeano, o escritor uruguaio que “deu voz aos sem voz” e expôs “a crua realidade” da América Latina.
O parlamento do Uruguai foi palco do último capítulo escrito por um dos autores mais importantes e influentes da literatura latino-americana, que morreu ontem aos 74 anos.
“Ele deixa para uma humanidade um montão de histórias lindas”, afirmou à Agência Efe Valentina, sobrinha do autor, um dos vários parentes que permaneceram ao lado do caixão, recebendo os incontáveis gestos de carinho de amigos de Galeano e vários anônimos que se identificavam com seus livros.
“Compartilho a afirmação de que (Galeano) era a reserva moral da esquerda. Estou de acordo. E não acho que esteja esgotada, mas ele era um representante dela”, afirmou o cantor espanhol Joan Manuel Serrat sobre o amigo, após viajar da Argentina para o velório.
“Sinto muito não poder voltar a tomar vinho com ele, nem conversar sobre coisas cotidianas, nem falar de futebol, de literatura ou política. Mas agradeço à vida os anos que me permitiu fazê-lo”, acrescentou o cantor, quem definiu Galeano como uma “grande referência” com ideias “muito claras, mas não ortodoxas”.
O vice-presidente da Venezuela, Jorge Arreaza, acompanhado de sua esposa, Rosa Virgínia Chávez, também viajou especialmente ao Uruguai para prestar uma última homenagem ao escritor.
“Aprendemos muito com Galeano e sempre sentimos seu apoio, sua solidariedade com a revolução bolivariana, com o comandante Hugo Chávez e o presidente Nicolás Maduro”, afirmou Arreaza, que levou à família do autor uma carta do líder venezuelano e acrescentou que os livros de Galeano serão eternos para os latino-americanos.
Autor de “As Veias Abertas da América Latina”, um dos livros mais vendidos e conhecidos do continente, Eduardo Galeano nasceu em Montevidéu em 1940 e morreu na última segunda-feira em um hospital uruguaio, vítima de um câncer de pulmão que o acompanhava há anos. Seus restos mortais serão cremados nesta quarta-feira na capital uruguaia.
O carro fúnebre foi recebido com honras pela Guarda de Honra do batalhão de infantaria, que escoltou o caixão de Galeano até o centro do salão, onde em poucos minutos repousava rodeado de coroas de flores e coberto por uma bandeira do Uruguai.
“Ele nos ajudou a pensar a minha geração. Abriu-nos os olhos. Nos fez conhecer e entender a injustiça do continente e do mundo. A nos colocar ao lado dos oprimidos”, explicou entre as lágrimas Jorge, cidadão uruguaio, após entrar na capela onde o corpo era velado.
O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, afirmou que Galeano expôs a crua realidade da América Latina. Considerou o escritor como um gladiador que deu voz aos mais humildes, mostrando as desigualdades do continente.
“Escreveu como viveu e viveu como escreveu. Nos deixa uma lição de vida, de ética e de coerência muito grandes”, afirmou Vázquez.
No fim do velório, o público que ainda permaneciam no local se despediu do escritor com aplausos. EFE
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