Autoridades de Kiev estendem a mão para sudeste de maioria russa da Ucrânia
Arturo Escarda.
Donetsk (Ucrânia), 11 abr (EFE).- O primeiro-ministro da Ucrânia, Arseni Yatseniuk, e vários membros de seu governo visitaram nesta sexta-feira Donetsk, onde fizeram promessas de diálogo para resolver a crise causada pela revolta da população de origem russa nas regiões do sul do país.
Terminado o ultimato de 48 horas dado pelo ministro do Interior, Arsen Avakov, para os manifestantes pró-Rússia se retirarem dos dois prédios públicos que ocupam há cinco dias na cidades de Lugansk e Donetsk, Kiev renunciou ao discurso de ameaças, que apenas aqueceu os ânimos no sudeste ucraniano.
“Só existe uma saída, e é pacífica. É preciso fazer todo o possível para que estas pessoas entreguem as armas e abandonem os edifícios que tomaram ilegalmente, que não se dediquem à atividade terrorista e que não ponham em perigo a segurança do povo”, disse Yatseniuk à televisão nacional ucraniana.
Em frente à sede do governo regional de Donetsk, um dos prédios ocupados pelos ativistas pró-Rússia mais radicais, centenas de cidadãos resistem ao gélido vento que sopra das estepes.
O chefe do governo ucraniano foi criticado por não aparecer diante deles e subir no palanque, como fez tantas vezes na Praça da Independência (Maidan), coração do protesto popular que destituiu o presidente Viktor Yanukovich.
“Em Kiev subia todos os dias no palanque para criticar Yanukovich, para exigir que saísse a falasse com as pessoas, mas aqui prefere ficar com os seus, com quem manda em Kiev”, disse à Agência Efe Vladimir, um caminhoneiro desemprego.
O primeiro-ministro se reuniu com políticos e grandes empresários de Donetsk, Lugansk e Kharkiv, as três regiões do sul do país mais sensíveis aos ares nacionalistas que sopram pela Ucrânia.
O chefe do Executivo assegurou que o russo, o principal idioma desta parte do país, não perderá seu status de língua oficial regional, apesar da decisão tomada pelo parlamento um dia depois da queda de Yanukovich.
Na ocasião, após três meses de revolta popular em Kiev, os deputados anularam a lei de 2012 que permitia a coexistência do russo com o ucraniano como línguas oficiais em algumas partes do país. O presidente interino da Ucrânia, Aleksandr Turchinov, no entanto, negou-se a promulgar a nova norma.
Apesar disso, não foi possível evitar o mal-estar em todo o sudeste ucraniano e em outras zonas do país, como Odessa, onde o russo predomina sobre o ucraniano.
Em qualquer caso, muitos em Donetsk e Lugansk não se conformam com o atual status do idioma russo, inclusive reconhecido como língua regional.
“Em minha cidade, de 70 mil moradores, só há dois colégios onde todas as classes são dadas em russo. E isso porque absolutamente todos falamos russo. Em outros vinte colégios, entre eles o frequentado por minha filha, as aulas são em ucraniano”, reclama Elena, que veio da cidade de Torez para protestar em Donetsk.
Seu marido, Ruslan explicou que sua filha, que em casa apenas fala russo, escreve em seu idioma materno mas com o alfabeto ucraniano.
Os homens e mulheres que se concentram no centro de Donetsk já não esperam mais um ataque da polícia, mas reforçam as barricadas que levantaram ao redor do edifício com arame arame farpado e desconfiam dos jornalistas e do governo central.
Outro morador local, o empresário Aleksandr, disse que não acredita nas promessas de Yatseniuk e frisou que o primeiro-ministro “já enganou uma vez Yanukovich”, quando em 21 de fevereiro, após os trágicos distúrbios no centro de Kiev, assinou com o ainda presidente um acordo para formar um governo de coalizão nacional.
Como disse hoje na reunião com Yatseniuk o oligarca mais importante desta região mineradora, Rinan Ajmetov, “o povo quer que a voz de Donbass (bacia carbonífera de Donetsk) seja escutada”, porque atualmente a sensação é de que Kiev não olha para esta parte do país.
O magnata, que dizem controlar praticamente tudo na região, no entanto, rejeitou os desejos separatistas de alguns manifestantes e deixou claro: “Donbass é Ucrânia”. EFE
aep/dk
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.