BC mantém taxa Selic em 14,25% e sinaliza convergência da inflação para 2017
No dia em que se soube que a inflação acumulada em 12 meses superou a marca de 10% em algumas regiões do País, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica Selic estável em 14,25% ao ano. Também sinalizou, no comunicado, que o IPCA não irá convergir para a meta, que tem como teto 6,5%, nem em 2016. Esta é a segunda vez consecutiva que o colegiado, por unanimidade, decide congelar os juros. O mercado financeiro também apostava em peso que não haveria mudanças.
Para a diretoria do BC, o foco na meta não está mais em 2016, como pregava até então. Conforme antecipou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, a diretoria já discutia internamente a possibilidade de rever esse prazo de atuação. Em setembro, o recado foi o de que a manutenção desse patamar por período “suficientemente prolongado” é necessária para a “convergência da inflação para a meta no final de 2016”. Agora, o comunicado do Copom traz que a manutenção por tempo prolongado é necessária para a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante da política monetária. Esse período, como é sabido, é de dois anos a frente da data atual.
2017
O comunicado de que a inflação deve convergir para a meta no “horizonte relevante da política monetária”, segundo economistas, é um sinal de que o BC vai agora trabalhar para que essa convergência ocorra em 2017.
Para Italo Lombardi, economista sênior para a América Latina do banco Standard Chartered, “o choque de câmbio e inércia de inflação deste ano para o próximo foram determinantes para o BC mudar o foco de convergência”.
“Num contexto da economia com a inflação rodando perto de 10%, estava muito difícil para o BC levar o IPCA para 4,5% em 2016”, disse Lombardi. Ele estima que esse índice de preços ao consumidor deverá subir 6,2% no próximo ano.
A elite dos cinco economistas que mais conseguem antecipar o resultado da inflação (Top 5) já prevê estouro da meta também no ano que vem. A tarefa do BC é não deixar que o IPCA ultrapasse a marca de 6,5%, mas esse grupo já calcula o índice em 6,72% em 2016. Isso é mais do que um “desvio significativo” que a diretoria escreveu nas últimas atas como praticamente uma senha de que poderá elevar a Selic. O BC nunca explicitou, no entanto, quanto um desvio tem de subir para tornar-se significativo.
Mesmo com a disparada dos preços, a decisão do comitê também levou em conta a recessão econômica, que não permite alta dos juros. Até por conta disso, as estimativas do mercado sobre a possibilidade de corte têm sido adiada semana a semana e também passam por redução de magnitude. O mais recente levantamento revela consenso sobre queda em julho do ano que vem, para 14,00% ao ano.
Analistas já não acreditam mais que o BC conseguirá cumprir a meta também no ano que vem. Até meados do ano, as instituições financeiras ainda consideravam essa uma possibilidade, mas com a mudança orçamentária para 2016 e outras notícias ruins das contas públicas jogaram por terra essa hipótese. Internamente, a instituição já calcula os impactos positivos e negativos de estender mais uma vez seu foco de atuação, para 2017, ainda que negue oficialmente.
O efeito do câmbio sobre os preços é outra variável que não pode ser colocada de lado nos cálculos da autoridade monetária. A diminuição da nota soberana brasileira pela Fitch foi mais um vetor negativo para o ambiente macroeconômico, ainda que o Brasil não tenha perdido o selo de bom pagador por essa agência de classificação. A perspectiva, porém, continuou negativa, como temia o BC. Do lado externo, pesou na decisão a indefinição nos Estados Unidos sobre os juros, que ainda podem aumentar a qualquer momento.
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