“A USP sofre uma síndrome de pata; É preciso abrir o diálogo”, defende candidato a reitor

  • Por Jovem Pan
  • 23/10/2017 21h22 - Atualizado em 24/10/2017 19h40
Marcos Santos/USP Imagens Prof. Ildo Luís Sauer reconhece que a USP vive sua pior crise da história e acredita na retomada do diálogo com o governo do Estado e na transparência das ações junto à sociedade

A eleição na USP está em sua reta final com quatro candidatos à reitoria.  No próximo dia 30, a Assembleia Universitária (órgão composto por integrantes dos conselhos e congregações que compõem os institutos da USP) realiza o processo de eleição de uma lista tríplice de chapas.

O governador Geraldo Alckmin escolhe, então, um dos três nomes que assumirá o cargo em substituição a Marco Antônio Zago em vinte e cinco de janeiro de 2018 até 2022.

Em uma série de entrevistas, a Jovem Pan abre espaço para que todos os quatro candidatos apresentem suas propostas. Concorrendo pela Chapa 3 – Por uma USP participativa, o professor Ildo Luís Sauer reconhece que a USP vive sua pior crise da história e acredita na retomada do diálogo com o governo do Estado e na transparência das ações junto à sociedade.

Confira abaixo os principais temas abordados na entrevista.

Crise financeira

Sauer critica a atual administração e defende uma USP mais participativa. “A situação da USP vai além da financeira. Tem a ver na forma como, nos últimos quatro anos, a Universidade foi dirigida. Muito centralizadamente, com isolamento, ausência de diálogo e mesmo de transparência insuficiente em relação a série de medidas que foram tomadas. Ausência de participação dos docentes, dos servidores e dos estudantes”

Segundo o candidato, há certa redução da auto estima na USP, uma vez que as pessoas estão desanimadas com a série de encaminhamentos da atual gestão. “A USP é muito maior do que a crise que a afeta…a USP sofre hoje uma síndrome de pata, a pata coloca o ovo bem maior do que a galinha mas não cacareja. Isso se deve pela atitude da reitoria que se isola numa torre de marfim e em um prédio cheio de grades. Esse é o símbolo da ausência de diálogo”, salientou.

O professor reiterou que a USP passou por situações lamentáveis que afetaram a imagem da universidade. Por isso, o intuito é mostrar o que cada uma das 52 unidades especializadas fazem em prol da sociedade na área de ensino, em pesquisas e na difusão de conhecimentos.

Apoio da iniciativa privada

Já em relação a ideia de cobranças de mensalidades e do apoio de empresas, Sauer não rechaça a novas parcerias, porém destaca que o caráter público da USP deve ser mantido. “A Constituição federal diz que o ensino das universidades públicas é público e gratuito. Nem as universidades americanas conseguem custear os seus investimentos mediante mensalidades elevadas. O caráter público deve ser preservado e o aporte de recursos é muito bem-vindo. No Instituto de Energia e Ambiente (IEE) há parcerias com empresas elétricas e de petróleo, que são obrigados a investirem cerca de 1% das suas receitas em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento”, explicou.

Sauer citou ainda que há alguns projetos para as áreas de uso racional de água, tratamento de esgotos e produção de biogás. “Só em energia e água nós gastamos R$ 4 milhões/mês. Há um conjunto de medidas que podem ser tomadas, mas nunca comprometendo o caráter público da Universidade”, afirmou.

Novo sistema de reserva de vagas

Para Sauer não adianta aumentar a entrada de cotistas vindos da escola pública, se a Universidade não oferecer subsídios para que eles possam concluir a graduação. “A evasão de estudantes chega a 70% e de cada 100 alunos apenas 30 se formam. É uma perda de recurso e uma frustração enorme de alguém que consegue adentrar na Universidade e não conclui o curso. A USP precisa ter medidas que garantem que aqueles que entram possam concluir”, frisou o professor, que ainda completa: “o curso de odontologia exige que o aluno tenha um kit de equipamentos práticos que custa em torno de R$ 25 mil. Muito alunos são obrigados a trancarem o curso para trabalhar e buscar recursos”.

Entre as alternativas defendidas pelo candidato da Chapa 3 estão apoio a moradia estudantil, bolsas bolsas de iniciação científica e artística, apoio ao transporte e acima de tudo um “acolhimento para que o aluno tenha um sentimento de pertencimento junto a essa comunidade”.

Planos para creches, Hospital Universitário e Museus…

O professor Ildo Luís Sauer defende todos os esforço para que o Museu do Ipiranga volte a ter o acesso da população sem riscos de degradação do acervo e que possa contribuir para o enriquecimento cultural. Já em relação as creches fechadas pela atual administração, o Hospital Universitário e a Escola de Aplicação, o candidato criticou o encaminhamento dado pelo atual reitor ao promover o PIDV (Programa Incentivado de Demissão Voluntária).

“É preciso reorganizar com os servidores remanescentes e inclusive ampliar a atividade para aliviar aos professores que dedicam muito tempo à administração, enquanto deviam dedicar mais ao ensino, pesquisa e extensão”

Já em relação ao Hospital Universitário, o professor Sauer relembrou que o local se tornou referência na cidade de São Paulo, porém a Constituição determina que o custeio da saúde pública é obrigação do SUS, do governo federal, dos governos estaduais, do governo municipal e dos municípios da região. “Aquilo que é custeio para ensino e pesquisa deve estar no orçamento da USP. Mas o que é dedicado a saúde público é preciso buscar um novo diálogo com os governos. Infelizmente, o atual reitor criou uma celeuma internamente para fazer um processo decisório de transferir o Hospital para o Estado de São Paulo. Após muita discussão a USP aprovou a transferência e o estado não aprovou. Houve uma falha muito grande de liderança nesse processo”, afirmou.

Retomada de melhor Universidade da América Latina

No último mês de outubro, a USP perdeu o posto de melhor Universidade da América Latina, porém o professor Ildo Luís Sauer ressalta que essa não deve ser a maior preocupação, uma vez que o principal objetivo da universidade é oferecer mais à sociedade. “Os rankings são importantes como retorno para fazermos a nossa auto crítica e restaurar o que a USP sempre foi. O nosso principal motivo não é só subir no ranking é melhorar o que nós fazemos e dar mais à sociedade para que tenhamos o reconhecimento da sociedade. Isso nós podemos fazer apesar das dificuldades que vem passando como crise de liderança e crise de autoestima”, declarou.

*Com informações da repórter Carolina Ercolin

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