Abertura da ‘Queermuseu’ no Rio tem galerias lotadas e protesto contra a mostra

  • Por Estadão Conteúdo
  • 20/08/2018 07h28
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MAíRA COELHO/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO Mostra "Queermuseu" teve grande público ao longo do fim de semana no RJ

Cerca de 6,8 mil pessoas passaram pelas três salas da exposição “Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira” no Parque Lage, no Rio, entre sábado, 18, e domingo, 19. A mostra, censurada em Porto Alegre no ano passado, abriu sua versão carioca neste sábado e fica por um mês no espaço.

De acordo com o diretor da Escola de Artes Visuais (EAV), Fábio Szwarcwald, por enquanto, a proibição de ingresso de menores de 14 anos, mesmo acompanhados pelos pais, se mantém. Os organizadores apresentaram recurso, no entanto, não conseguiram derrubar a decisão.

No primeiro dia, cerca de 40 manifestantes de movimentos como Brasil Livre (MBL), Liga Cristã e Templários da Pátria protestaram contra a exposição. A mostra abriu no Parque Lage depois de ficar apenas 26 dias em cartaz em Porto Alegre no ano passado, de ser censurada pelo prefeito carioca, Marcelo Crivella, e de mobilizar a classe artística da cidade em torno de um financiamento coletivo.

Na cerimônia de abertura da exposição, o curador Gaudêncio Fidelis acusou o MBL de criar uma farsa contra o evento. Segundo ele, por trás das manifestações “reside um movimento obscurantista com pretensões eleitorais”.

“É uma investida fascista e fundamentalista, que cresce no País e ameaça as liberdades. A abertura da exposição é uma das maiores derrotas para o fascismo”, disse.

Para ele, o legado da mostra é reabrir o debate que foi negado por grupos fascistas e pelo cancelamento da mostra em Porto Alegre. “Impedir o acesso ao conhecimento não é uma alternativa. Só os covardes fazem isso”, criticou. “Diante da censura não cabia outra coisa se não acreditar que o futuro reservava para nós a vitória.”

A exposição ficará no Rio apenas por um mês, período correspondente ao tempo em que ficou fechada no Sul. Ainda não há convites para levar para outras cidades.

“O Rio de Janeiro está de parabéns porque, historicamente, sempre esteve à frente dos movimentos de vanguarda e porque representa bem a diversidade. Mas essa não é uma vitória apenas para o Rio. É uma vitória para toda a sociedade brasileira”, disse Fidelis, que a todo momento fazia o sinal de vitória.

Acompanhado pelos dois filhos menores de 14 anos – que estiveram na cerimônia, mas não puderam entrar na exposição, em cumprimento da decisão judicial -, o diretor Szwarcwald disse que a mostra reafirma o comprometimento da instituição com a liberdade de expressão.

“O prefeito disse que a exposição aconteceria no fundo do mar”, lembrou. “Não estamos em Atlântida, e ela vai acontecer aqui”, declarou.

Protesto

Mesmo com o clima de vitória dos organizadores, houve uma pequena manifestação contrária à exposição. O publicitário Marlom Aymes, do grupo Templários da Pátria, disse no sábado estar no Parque Lage para proteger os manifestantes conservadores.

Segundo ele, o grupo foi criado há cerca de quatro meses para cuidar da segurança “contra os ataques da esquerda nas manifestações”. “Não estamos contra as pautas LGBT, mas contra algumas obras da exposição que incentivam a pedofilia, pregam o vilipêndio religioso”, declarou. “O Templário é um grupo de segurança, não podemos pregar a violência, mas se houver, precisamos nos defender”, disse ainda.

A candidata a deputada estadual pelo PSOL, Carol Quintana, discutiu com vários manifestantes, mas disse não temer a violência. “Tem muita mídia. Eles estão contidos e controlados. Mas não podemos ser silenciados por esse tipo de manifestação”, disse.

O próprio Fábio Szwarcwald disse que protestos contra a Queermuseu já eram esperados e, dentro dos limites da liberdade de expressão, fazem parte da democracia.

Segundo ele, além dos seguranças do Parque Lage, a exposição conta com uma equipe de segurança privada extra e câmeras de segurança.

Ele informou ainda que estão recorrendo contra a proibição de ingresso de menores de 14 anos mesmo acompanhados pelos pais. Para ele, essa não era a orientação do Ministério Público do Rio.

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