Advogado de Dilma e peemedebistas articulam acordo

  • Por Estadão Conteúdo
  • 02/09/2016 08h01
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Plenário do Senado durante sessão deliberativa extraordinária para votar a Denúncia 1/2016, que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff por suposto crime de responsabilidade. Em discurso, à tribuna, advogado da presidente afastada Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado Geraldo Magela/Agência Senado José Eduardo Cardozo

O acordo que fatiou a pena da presidente cassada Dilma Rousseff surgiu de uma proposta feita por sua defesa há três semanas, negociado pelos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Kátia Abreu (PMDB-TO), e quase naufragou por causa de um discurso inflamado de Lindbergh Farias (PT-RJ). O presidente Michel Temer teria dado aval “como jurista”.

Os peemedebistas foram fundamentais para a aprovação do fatiamento. Dos 17 senadores que votaram a favor do impeachment, dez foram pela pena branda. Entre “contra” e “abstenções”, Dilma “virou” 19 votos. A proposta foi rejeitada por 42 votos a favor, 36 contra e três abstenções – eram necessários ao menos 54 votos

A medida que permite a Dilma exercer função pública abre precedente para beneficiar políticos ameaçados de cassação, como o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). 

O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a proposta polêmica do impeachment foi feita pelo advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo. Lindbergh e o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), tinham ressalvas sobre sua eficácia, mas decidiram levá-la adiante após conversas com senadores de vários partidos.

O tradicional almoço da bancada do PT de terça-feira, véspera do julgamento, serviu para discutir a proposta. A área técnica do partido iria se valer de uma resolução editada após reclamação feita pelo líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), em novembro do ano passado. 

Para garantir direito à oposição de questionar projetos de Dilma, a Casa instituiu a obrigatoriedade de votar separadamente um requerimento de destaque apresentado por uma liderança partidária.

Costa apresentou o requerimento de destaque às 22h31 da terça-feira, enquanto Kátia e Renan já trabalhavam nos bastidores. Renan havia recebido indicativos de que o ministro Ricardo Lewandowski não faria oposição. A essa altura, o presidente já havia sido sondado e um senador peemedebista revelou ao jornal O Estado de S. Paulo que Temer, renomado constitucionalista, deu seu aval “como jurista”. 

Agora, interlocutores do Planalto afirmam que o governo sabia das conversas sobre a proposta, mas não da articulação preparada e programada. A separação da votação em duas partes, classificada de “absurda” e “inconstitucional” por Temer, teria pego o Planalto “completamente de surpresa”. 

No dia do julgamento, as conversas se intensificaram. Após abordar em plenário o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), Kátia disse a Cardozo que estava “ok”. Eunício, contrário ao pedido, absteve-se. 

Risco

Minutos antes da votação, Lindbergh comparou Dilma a João Goulart, deposto pela ditadura militar. Ele citou a declaração de Tancredo Neves, líder do governo Goulart, de 2 de abril de 1964: “Canalhas! Canalhas! Canalhas!” Senadores aliados de Dilma que costuraram a estratégia se exasperaram. Receavam que a fala fosse encarada como uma agressão. Perderam um voto, o do senador Sérgio Petecão (PSD-AC). 

Apesar do voto perdido, a ex-presidente já havia angariado naquele momento apoio suficiente de aliados e defensores do impeachment para preservar seus direitos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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