Crimes financeiros após delação “demonstram perfil criminoso” de irmãos Batista, diz PF

  • Por Jovem Pan
  • 13/09/2017 11h31 - Atualizado em 13/09/2017 11h58
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EFE/Sebastião Moreira Joesley Batista segura terço ao ser transferido de São Paulo para Brasília na última segunda (11); o empresário deve voltar para a capital paulista e permanecer encarcerado

Donos da JBS, os irmãos Joesley e Wesley Batista, alvos de prisão preventiva nesta quarta-feira (13) na segunda fase da Operação Tendão de Aquiles, “demonstraram um perfil criminoso” ao continuarem praticando crimes mesmo durante o firmamento de acordo de delação premiada.

Essa é a explicação do delegado da Polícia Federal Rodrigo de Campos Costa para o pedido de prisão dos empresários, que pode se alongar até o fim do processo (Joesley e Wesley não têm prazo para serem soltos).

Como Joesley já cumpre prisão temporária prevista para terminar na sexta (15) em Brasília por outra ação “absolutamente distinta” que revê o acordo de colaboração, ele deve ser transferido para São Paulo para continuar detido preventivamente. A justificativa alegada pela PF, e acatada pelo Ministério Público, para a prisão preventiva é a garantia da ordem pública e da ordem econômica.

“Eles descumpriram o acordo de delação premiada no tocante à cessação de atividades delitivas e demonstraram um perfil criminoso”, disse o delegado. “(Os irmãos Batista) abalaram o mercado financeiro e o grande prejudicado é o Brasil”, concluiu Costa.

Os donos do frigorífico são acusados de usar informações privilegiadas da própria delação para se beneficiar no mercado financeiro.

Cientes de que as acusações contra o presidente Michel Temer e a alta cúpula da República, que começaram a ser vazadas em 17 de maio deste ano, derrubaria as ações da empresa, Joesley e Wesley operaram para “diluir” os prejuízos futuros com outros acionistas da JBS. Apenas neste movimento, a PF calcula que os irmãos evitaram prejuízo de R$ 138 milhões.

Além disso, a dupla comprou dólares acima da movimentação normal de mercado, inclusive na véspera do vazamento, pois previam a alta da moeda americana.

Assistam à coletiva dos delegados da Polícia Federal:

Entenda

O delegado da PF Victor Hugo Rodrigues Alves, chefe da delegacia de repressão à corrupção e crimes financeiros, explicou como uma operação de venda e recompra de ações beneficiou os irmãos Batista.

Joesley e Weseley detêm sozinhos 100% da FB Participações, empresa que, por sua vez, possui 42,5% das ações da JBS S/A.

Antes da publicidade da delação bombástica, “Joesley determinou a venda (pela FB) de 42 milhões de ações da JBS S/A a um preço de R$ 372 milhões. Concomitantemente, a própria JBS, presidida por Wesley Batista, passa a comprar as ações”.

Por meio da venda de papéis pela FB e recompra pela JBS, os irmãos Batista “evitaram que o excesso de papéis no mercado forçasse uma desvalorização das ações e, ao mesmo tempo, diluíram o prejuízo com a queda dessas ações no momento em que a delação fosse divulgada”, explicou Victor Hugo.

“A maior parte do prejuízo com a desvalorização ficou com os outros acionistas, inclusive o governo federal por meio do BNDES-Par, que detém ações da JBS”.

“Na manhã do dia seguinte, houve uma valorização de 9% do dólar, a maior desde 1999, e uma queda de 8,8% do índice Bovespa”, relata. “Os papéis da JBS tiveram um pico de desvalorização de 37%”.

“A venda antecipada dos papéis evitou um prejuízo potencial de R$ 138 milhões. O prejuízo foi diluído entre os acionistas da JBS”, calcula Victor Hugo.

Dólares

Também foi identificado outro crime financeiro: a compra atípica de dólares. A JBS adquiriu “mais de US$ 2 bilhões” antes do vazamento da delação.

“Um dia antes do vazamento da informação, a JBS tem uma alavancagem que fica em segundo lugar na compra de dólares, algo que nunca tinha acontecido na história da empresa”, explica o delegado Costa.

Os irmãos Batista, segundo as investigações, “trabalhavam com a possibilidade de vazamento da delação, ou publicidade pelo Supremo (Tribunal Federal)”.

“O vazamento que houve na imprensa simplesmente coroou o que eles esperavam, tendo uma margem de lucro de 9%”, afirma.

O delegado ressalta, no entanto, que ainda não é possível medir o total de prejuízo evitado e lucro auferido que Joesley e Wesley tiveram com as operações ilegais.

Questionado sobre o acordo de imunidade que os irmãos tinham com o acordo com o Ministério Público Federal que está sendo questionado, Costa explicou que os crimes foram praticados após o firmamento da colaboração. “A imunidade não alcança fatos supervenientes ao acordo de delação”.

“A vítima é o País”

Victor Hugo também ressaltou que os donos da JBS e a empresa estavam sendo investigados em seis operações e, durante o acordo que estava em processo de homologação, se comprometeram em parar de delinquir. Mesmo assim, cometeram “crimes gravíssimos” pelo mercado financeiro, “comprovados por depoimentos, e-mails, relatórios da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e laudo pericial”.

“Mesmo após obter os benefícios da delação premiada, os investigados lucraram milhões de reais com essas operações ilícitas”, diz. “As vítimas não foram só os acionistas da JBS. Num contexto mais amplo, a vítima é o próprio País à medida os crimes abalaram a confiança no mercado, essencial para que se invista”.

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