Desabrigados permanecem em acampamento próximo ao Largo do Paissandu
Parte dos desabrigados do edifício que desabou no Largo do Paissandu na madrugada da última terça-feira (1°) estava acampada no entorno dos escombros nesta quarta-feira. Até o início da noite, elas preferiram não se abrigar nos locais indicados pela prefeitura paulistana por se tratar de alternativas temporárias e não de um espaço para moradia. O município indicou dois abrigos provisórios: a sede do Movimento Nacional da População de Rua, localizado no viaduto Pedroso, e o Núcleo de Convivência Prates, centro de acolhida no bairro Bom Retiro. Ambos ficam na região central da capital paulista.
Apenas 23 pessoas tinham passado pela sede do Movimento Nacional da População de Rua, localizada no viaduto Pedroso, até a tarde de hoje, mas não permaneceram no local. Algumas tomaram banho, retiraram doações de material de higiene, outras se alimentaram e descasaram, mas retornaram para as proximidades do Largo Paissandu.
O coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, Darcy Costa, disse que a sede do movimento está servindo de apoio aos desabrigados. Há camas no local para atender essas pessoas de forma emergencial, mas normalmente o espaço não oferece dormitórios, somente oficinas, rodas de conversa e apoio à população em situação de rua. Ele lembrou ainda que os centros de acolhida municipais, os antigos albergues, não são espaços em que as pessoas possam se estabelecer, mas somente oferecem um teto provisório para os desabrigados.
“Albergue não é moradia, albergue não é solução, albergue é um projeto provisório”, disse Costa. Ele acrescentou que, em alguns casos, o albergue separa as famílias porque nem todos tem estrutura para acolhida de mãe, pai e filhos. “Vai separar o marido da mulher, às vezes separa até os próprios filhos”, disse.
Sara Lúcia da Silva, que estava no acampamento próximo ao largo, disse que não vai para os abrigos justamente porque seria preciso separar sua família. “[Não vou] porque eles separam as famílias, as famílias não ficam juntas. Eles chegaram com a proposta sim do albergue, só que não fica família. Minha família somos em seis filhos, eu e meu marido. O marido vai para outro canto e dependendo, se tiver muita gente, eles querem levar as crianças para um abrigo e os pais ficar em outro lugar”, contou.
Wilson da Silva estava com o filho de quatro anos também no acampamento e não pretende ir para os abrigos indicados pela prefeitura. “Eu por enquanto não [vou sair], só se eles enviarem tropa de choque para dar tiro de borracha e jogar bomba de gás, eu estou com uma criança de quatro anos, aí é problema”.
A prefeitura anunciou durante a tarde que haveria uma ação de limpeza exatamente no local em que os moradores estavam acampados e que eles precisariam sair dali. “A sujeira que tem aí daqui a pouco nós mesmo limpamos e pronto. Eles [da prefeitura] não tem que se meter com a gente agora. O que eles tinham que se meter com a gente é, quando o negócio [prédio] caiu, no outro dia chegar aqui e dar assistência pra gente, mas eles não deram assistência”, disse Wilson.
“A assistência que eles oferecem, até agora, continua na mesma tecla, é jogar a gente em um abrigou ou em um albergue. Eu sou um pai de família, não é para estar em albergue, nem abrigo não”, criticou a solução dada pelo município. Os centros de acolhida da prefeitura abrigam, em geral, população em situação de rua que esteja em situação de vulnerabilidade.
Outra mulher que preferiu não se identificar disse que não pretende sair e tem medo de acabar em uma ocupação novamente. “A gente não quer isso [ir para uma ocupação], queremos sair daqui para uma moradia digna, para a nossa casa”.
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