Dilma diz que trabalho escravo é “chaga” que tem de ser exterminada
A presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, afirmou hoje (6) que buscará segurança jurídica para resolver conflitos relacionados à demarcação de terras indígenas e à regulamentação da Emenda à Constituição do Trabalho Escravo, que desapropria áreas e bens onde se verifique o regime análogo ao de escravidão. Os dois temas estão entre os que mais geram críticas ao governo por parte do agronegócio.
Dilma fechou a sabatina desta quarta-feira na Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), com os três presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas, até o momento. Os dois primeiros foram Eduardo Campos, do PSB, e Aécio Neves, do PSDB. Os conflitos entre indígenas e produtores rurais têm se intensificado nos últimos anos, resultando inclusive em mortes. Segundo Dilma, a demarcação de terras indígenas é um dos principais desafios enfrentados pelo governo.
A candidata defendeu a revisão das normas administrativas relacionadas à demarcação e a instalação de mesas de diálogo com todas as partes envolvidas. Dilma lembrou já ter determinado ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que faça uma revisão nas normas administrativas para a demarcação de terras indígenas, “que proporcionem o pleno exercício de defesa de todos os interessados. Atuamos por meio de mesas de diálogo buscando solução pacífica para os conflitos com a participação de todos que possam contribuir,” disse ela.
Para a presidenta, o trabalho escravo é uma “chaga a ser exterminada”, e a regulamentação da emenda para definir o que é trabalho escravo tem de ser feita de forma “extremamente específica”, para não deixar lacunas. “Acredito que avanços nessa direção passam pelo aprimoramento da legislação no Congresso Nacional.”
Ao discursar para os produtores, a candidata mostrou-se satisfeita com o diálogo e disse que o governo firmou uma parceria bem-sucedida com o setor. “Criei interlocução qualificada entre o governo e os órgãos do setor, e especificamente com a CNA. Quando esse diálogo ocorre, não significa que tenhamos as mesmas posições, mas que estamos abertos para chegar ao bem do Brasil,” afirmou.
Dilma ressaltou que, desde que o PT chegou ao Planalto, foram criadas políticas consistentes de apoio ao agronegócio e à agricultura familiar e criticou os investimentos do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) no setor. Ao citar valores relativos ao agronegócio, ela comparou a produção de grãos no final do período 2001-2002, de 96 milhões de toneladas e a expectativa para a safra de 2014-2015, em torno de 200 milhões de toneladas. “Um aumento de mais de 60%”, destacou.
Ela anunciou a intenção de investir mais de R$ 180 bilhões em crédito para o segmento. “Há quase 20 anos, o Brasil não tinha uma política estruturada de assistência técnica. Vocês sabem, ela tinha sido desestruturada,” disse a candidata. Segundo ela, hoje o crédito para o setor avançou em relação ao período anterior aos governos petistas. “Não é mais variável negativa, como já foi, com altas taxas de juros.”
Segundo a candidata, também terão prioridade investimentos em obras de infraestrutura para escoar a produção agrícola, com ênfase na armazenagem da safra e construção de hidrovias. “Cabe reconhecer que houve, no passado um descasamento entre os investimentos em infraestrutura e os avanços do agronegócio,” acrescentou Dilma, que lembrou ainda o marco regulatório dos portos como um exemplo.
De acordo com a candidata, os investimentos vão priorizar os rios da Região Amazônica, envolvendo investimentos públicos e privados. Ela também citou investimentos na construção de ferrovias, para desafogar a malha das regiões Sul e Sudeste.
Perguntada sobre a regulamentação da terceirização trabalhista, a presidenta defendeu negociação entre as partes e disse que já houve avanços. “Entendemos perfeitamente o que significa terceirização. Temos controle acionário sobre grandes empresas que, de uma maneira ou de outra, utilizam terceirização. A questão maior é o problema da precarização do trabalho. Para passar uma legislação, temos que dar continuidade à mesa de diálogo. Eu acredito que se avançou na questão desse entendimento, de que terceirização não é precarização do trabalho.” Para ela, “todos os lados devem ceder e entender que uma legislação do século 21 é diferente de uma legislação do século 20”.
Dilma atribuiu a demora de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia à resistência do bloco europeu em apresentar sua oferta. “Há resistências dentro da União Europeia a qualquer proposta de acordo comercial. Atribui-se às propostas comerciais a crise que eles sofrem. O Brasil comunicou oficialmente que está em condições de apresentar sua oferta. ” A candidata lembrou que se dizia que o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai jamais conseguiriam entregar proposta conjunta e que os Estados Unidos, igualmente, não alcançaram acordo com a União Europeia, por causa do conflito entre democratas e republicanos no Congresso.
A candidata enfatizou que o Brasil precisará de uma postura mais aguerrida para encontrar novos mercados no exterior e disse que seu governo já iniciou o processo. “Precisamos cada vez mais cooptar e captar, tanto na Ásia quanto Oriente Médio.”
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