Em jantar de ‘conciliação’, Maia e Guedes pedem desculpas por atritos e falam em acelerar reformas

Presidente da Câmara e ministro da Economia selam paz após troca de farpas sobre teto de gastos, reforma tributária e Renda Cidadã

  • Por Jovem Pan
  • 05/10/2020 23h00
GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO Durante o jantar, Rodrigo Maia, Paulo Guedes e Davi Alcolumbre falaram à imprensa

Após uma intensa troca de farpas em público em razão da reforma tributária e do Renda Brasil, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (MDB-RJ), se encontraram na casa do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, em um jantar organizado para “selar a paz” entre os poderes e acelerar as reformas no país. Durante o jantar, os dois, acompanhados do presidente do Senado, David Alcolumbre, falaram com a imprensa, e se desculparam pelas recentes declarações.

“Gratidão não prescreve. Paulo Guedes foi a única pessoa que me apoiou na eleição. Fomos nos afastando, e na semana passada eu fui grosseiro, peço desculpas”, disse Maia. Segundo o presidente da Câmara dos Deputados, os poderes precisam “estar unidos dentro do teto de gastos para encontrar soluções para o problema de transferência de renda, que precisa ser criado”, afirmou. Maia reforçou que o teto de gastos é a urgência do governo. “Acho que a partir de amanhã, precisamos retomar o trabalho unidos, todos os líderes na Câmara e no Senado que compreendem a modernização do Estado e a importância da construção de um programa social dentro do teto de gastos, para dar suporte a milhões de famílias que vão precisar no início de 2021”.

Guedes também sinalizou com a bandeira branca em sua fala, agradeceu ao presidente da Câmara e afirmou que eles trabalham “muito bem juntos”. O ministro sinalizou que a PEC do Pacto Federativo está sendo atualizada para incorporar questões do Orçamento de Guerra. Ele endossou o discurso do deputado de que os poderes precisam trabalhar em conjunto. “Do meu lado nunca houve diferenças pessoais, estamos todos trabalhando pelo Brasil”, disse. “As vezes temos desentendimentos, são normais pelos pontos de vista, mas sempre abertos a conversar e recolocar no lugar a necessidade de cooperação que temos”.

O ministro afirmou que a pandemia “abriu duas chagas enormes na sociedade brasileira” – a primeira, em relação aos 20 milhões de brasileiros “invisíveis”, que não estavam incluídos nos programas de auxílio, além dos 40 milhões já cadastrados, além da necessidade da criação de um programa de emprego em massa. A iniciativa para a criação de vagas deve vir por meio da desoneração, disse Guedes. Sobre o Renda Brasil, o ministro reforçou que o projeto já está elaborado “do ponto de vista técnico”. “Não tem nada de novo, mas é bastante diferente do auxílio emergencial. Um programa mais estruturado que consolida 27 programas sociais. Tudo está basicamente pronto, mas quem dá o timing é a política. Quando a pandemia nos atingiu, a nossa pauta foi atrasada, e criou todo esse desconforto”.

Davi Alcolumbre (DEM-AP) também adotou o tom conciliador. “Tenho consciência da nossa responsabilidade. O gesto hoje é de reaproximação de uma agenda que é conciliatória, e foi fundamental para que possamos virar uma pagina nessa construção coletiva, cada um assumindo sua responsabilidade dentro do sue papel institucional, de forma republicana e democrática. Essa reunião de hoje marca o início dessa relação com franqueza, honestidade, divergências naturais, mas sempre respeitando e dialogando para construir o consenso”. Depois do pronunciamento, Guedes, Alcolumbre e Maia voltaram para o jantar.

O presidente da Câmara voltou a entrar em rota de colisão com Guedes na terça-feira passada, 29, ao criticar o ministro da Economia pela condução da segunda etapa da reforma tributária, que deveria ter sido entregue pelo governo federal, mas que pode ficar apenas para o próximo ano. “Por que Paulo Guedes interditou o debate da reforma tributária?”, questionou Maia em uma publicação no Twitter. O revide veio no dia seguinte, quando Guedes insinuou que o deputado havia se aliado aos partidos de oposição para travar a agenda de privatizações. “Há boatos de que haveria um acordo do presidente da Câmara com a esquerda para não pautar as privatizações. Nós precisamos retomar as privatizações, temos que seguir com as reformas”, disse Guedes durante a apresentação dos dados do Caged, na quarta, 30. Horas depois, Maia devolveu afirmando que o ministro estava “desequilibrado”, e sugeriu que ele assistisse o filme “A queda”, que retrata os últimos momentos de Adolf Hitler à frente da Alemanha e a derrota dos nazistas após o cerco das tropas soviéticas.

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