Entenda por que Lázaro Barbosa ainda não pode ser considerado um serial killer

Foragido há mais de 17 dias, criminoso tem uma lista extensa de crimes, que inclui assassinatos, estupro, roubo, sequestro e tentativa de latrocínio; especialistas avaliam motivações e perfil do assassino

  • Por Caroline Hardt
  • 26/06/2021 10h00
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Eduardo Bolsonaor/Twitter/Montagem de fotos de reprodução fotos de lázaro Lázaro Barbosa é procurado desde 9 de junho, quando matou um casal e seus dois filhos em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal

As buscas pelo criminoso Lázaro Barbosa ocorrem há mais de 17 dias. Entre confrontos com policiais e invasões de chácaras, o fugitivo soma novos delitos à lista de crimes cometidos, que já inclui ao menos seis assassinatos, tentativa de homicídio, roubos, estupro e sequestro. As buscas por Lázaro começaram no dia 9 de junho, quando matou um casal e seus dois filhos em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal. Desde então, uma série de detalhes sobre os crimes cometidos vem sendo relatados por pessoas que sobreviveram aos ataques do assassino. Entre as informações, está a prática de rituais satânicos, uso de drogas e bebidas e até gravações das vítimas nuas cumprindo suas ordens. Enquanto isso, mais de 200 policiais atuam nas buscas pelo fugitivo, que, agora, é popularmente conhecido como o “serial killer de Brasília” ou “serial killer de Ceilândia”. No entanto, sem uma análise dos casos e da motivação para os assassinatos, ainda há dúvidas se o criminoso pode receber a classificação. “Ainda é precoce para falar. Tenho dito que ele é um serial killer em formação. Ele tem tentado encontrar a forma como ele vai, de fato, atuar. Recentemente, as invasões que ele tem feito nas casas me parecem mais um instinto de sobrevivência. Mas ele não tem ainda um padrão, um modus operandi de como ele vai atacar a vítima e suas motivações, sejam por práticas sádicas, sexuais ou até psicológicas. Então ele ainda não é um serial killer, mas está no caminho para ser”, explica o psiquiatra Luís Guilherme Labinas.

Segundo o especialista, há diferentes interpretações sobre os critérios e características de um serial killer. Nos Estados Unidos, por exemplo, o termo é usado para se referir a um indivíduo que assassinou duas ou mais pessoas. Por outro lado, alguns profissionais usam a nomenclatura a partir de quatro homicídios. De qualquer forma, independente do número de mortes, é necessário que os crimes tenham acontecido em períodos diferentes, com um “momento de calmaria” e tenham outras singularidades, como o modus operandi, ou seja, a forma de matar ou de se livrar do corpo dos assassinados. Além disso, o perfil das vítimas também tende a ser o mesmo, o que não acontece com Lázaro. “Se a gente não fala nele como um serial killer ainda é porque não conseguimos constituir a motivação. A forma como assassinou as três pessoas de gênero masculino, a forma como assassinou a mãe e esposa da família são formas diferentes, a gente não tem um modo de atuação para identificar. O perfil também não conseguimos identificar. Temos a área de atuação [as chácaras], temos que ele assassinou mais de quatro pessoas, mas não temos toda essa completude de um serial killer para fazer esse diagnóstico”, afirmou o psiquiatra.

A psicóloga clínica Vanessa Gebrim também avalia que, a grosso modo, considerando apenas o número de mortes, Lázaro Barbosa pode ser chamado de serial killer, já que sua ficha criminal soma mais de quatro assassinatos. No entanto, ela afirma que o diagnóstico ainda é muito nebuloso e outros elementos devem ser considerados. “Lázaro matou uma família, você vê que não tem emoção, pode ser um traço da psicopatia. Mas ele saiu matando outras pessoas depois? É muito difícil falar que é ou que não é. A classificação de serial killer é quem comete dois ou mais assassinatos em série, com um intervalo de tempo que separa os eventos criminosos, pode ser dias, meses, anos. E as vítimas possuem o mesmo perfil. Então ainda é muito vago”, pontuou. Considerando o possível diagnóstico de psicopatia, a psicóloga alerta que o desenvolvimento do transtorno é influenciado pelo meio social e pelas experiências vividas, principalmente na infância e adolescência. “Geralmente falam que o serial killer tem presença de uma tríade. São pessoas que tiveram enurese [vazamento involuntário de urina] quando pequenos, desenvolveram algum tipo de violência contra animais ou crianças, também tiveram algum grau de piromania [obsessão com fogo]. Ou seja, já tinham comportamentos considerados não sociais, que fogem à regra, e isso pode ter começado na infância”, esclarece a especialista.

Psicopatia x serial killer

O psiquiatra forense Guido Arturo Palomba falou à Jovem Pan sobre as características de um psicopata e a relação com os assassinos em série. Para ele, o termo mais apropriado é “condutopada”, já que “a doença está na conduta do indivíduo. “Todo serial killer é um condutopata? Não, mas a maioria é. Ele fica na zona da fronteira entre a loucura e a normalidade. O que ele tem de diferente dos normais? Ele não sentimentos nobres, sentimentos superiores, que é a piedade, a compaixão e o altruísmo. Serial killers são extremamente egoístas, não têm remorso nunca do que fazem e ainda têm o desejo deformado, então por isso eles fazem coisas que as pessoas normais não fazem. Por exemplo, dar tiro em uma pessoa para ver sofrer, matar por qualquer motivo. Eles não têm sentimentos superiores”, afirma o psiquiatra. Pela forte relação entre os assassinos em série e o transtorno, Guido Palomba ressalta que a ressocialização de um serial killer é impossível. “Quem fala que existe ressocialização não conhece a matéria. O que você pode ter é que, com a idade avançando, diminui a potência delitiva, mas isso não é ressocialização. A pessoa nasce, cresce e morre assim, não tem cura. Está na constituição do indivíduo”, completou.

Embora nem todo serial killer seja um psicopata, os números apontam uma significativa relação entre o diagnóstico e os assassinos. Segundo Luís Guilherme Labinas, 80% dos serial killers têm traços de psicopatia. “A pessoa tem o desprezo persistente pelo direito dos outros, pode ser desprezo pela lei, então ele repetidas vezes comete atos que levam à detenção. É uma pessoa que mente repetidamente, que engana as pessoas, que manipula os outros para ter ganhos pessoais ou sensação de prazer, que age impulsivamente, são agressivas, irritadas, imprudentes, são irresponsáveis e não sentem remorso. Eles são indiferentes ao sentimento alheio e a tudo que fazem de maus tratos aos outros. Ele [Lázaro] está cometendo vários delitos, ele engana, mente, age de maneira impulsiva. Ele é irresponsável, ele não sente remorso no que está fazendo. Então ele preenche vários critérios do transtorno de personalidade antissocial, que é como chamamos a psicopatia”, pontua o psiquiatra. De acordo com ele, 36% dos psicopatas sofreram abusos físicos na infância, 26% abuso sexual e metade viveu episódios de abusos psicológicos. “A gente sabe que violência doméstica, viver em um ambiente ou em uma comunidade muito violenta também propicia a formação do transtorno de personalidade antissocial e também para a formação de um serial killer.”

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