Mesmo com pandemia e festas canceladas, capitais atraem turistas para o Réveillon
Maioria das cidades proibiu eventos com grande número de pessoas, mas há preocupação com eventos clandestinos e comemorações em cidades pequenas
A vacinação contra a Covid-19 ainda não começou no Brasil e os casos voltaram a aumentar nos últimos meses, levando o país a discussões sobre uma possível segunda onda. Porém, apesar dos esforços das prefeituras para impedir aglomerações, as comemorações de Ano-Novo nas capitais devem reunir milhares de turistas. Segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgados no dia 11 de dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de atividades turísticas no Brasil registrou alta de 7,1% entre setembro e outubro, impulsionado pelos serviços de alojamento e alimentação, que avançaram 6,4% e representam, por exemplo, hotéis e restaurantes. Além disso, pesquisa da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) indica que, embora os embarques estejam concentrados para o primeiro semestre de 2021, 30% dos roteiros procurados pelos turistas são entre o Natal e Réveillon, com saídas ainda em dezembro de 2020. A Jovem Pan contatou diversas vezes as prefeituras das principais capitais brasileiras sobre o número esperado de turistas para o período, mas não recebeu retorno.
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), administradora de 48 aeroportos brasileiros, incluindo Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ), estima que o número de pessoas que usarão seus terminais durante as festas de fim de ano será 41% menor do que em 2020. No entanto, o volume de passageiros nos 32 aeroportos com voos comerciais regulares que estão sob sua responsabilidade não é baixo: 1,91 milhão entre os dias 18 de dezembro e 4 de janeiro. Durante as festas de fim de ano de 2019, 3,27 milhões de usuários passaram pelos aeroportos administrados pela Infraero. Segundo pesquisa da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a média diária de decolagens previstas para ocorrer em todos os aeroportos do país em dezembro é de 1.663 partidas diárias — o que significa quase 50 mil no somatório dos 31 dias deste mês. Isso representa cerca de 70% do nível pré-crise sanitária, no início de março.
Maiores procuras são para o Nordeste
Devido ao fechamento das fronteiras, à malha aérea restrita e ao aumento do dólar, as maiores procuras são para os destinos nacionais — cerca de 70%, segundo a Abav. Para o Réveillon, a região Nordeste tem liderado em vendas, seguida do Sul e Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Entre os destinos mais comercializados, se destacam Fortaleza (CE), Natal (RN), Porto de Galinhas (PE), Foz do Iguaçu (PR) e Gramado (RS). Os dados da Abav são corroborados pelas agências de viagens e companhias aéreas: o Nordeste é o destino favorito dos turistas para comemorar a virada de ano. Segundo a plataforma MaxMilhas, a região desbancou grandes centros como Rio e São Paulo. A campeã de buscas no site é Recife (PE), seguida por Fortaleza (CE), Salvador (BA), João Pessoa (PB), Natal (RN) e Maceió (AL). Na agência Decolar, os destinos mais procurados são Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza, Maceió, Florianópolis (SC) e Recife, e, na companhia aérea Azul, Porto Seguro, Maceió, Natal, Porto de Galinhas (PE) e Fortaleza. Já na GOL, o principal investimento de capacidade para a alta temporada é no Nordeste, para cidades como Salvador, Fortaleza, Recife, Maceió e Natal. Outros destinos com apelo turístico, segundo as empresas, são a Serra Gaúcha e Porto Alegre (RS).
Daniel Vilardi, de 37 anos, é uma das pessoas que decidiram comemorar o Ano-Novo com a família no Nordeste, em Tibau do Sul, Rio Grande do Norte. Segundo ele, a viagem já estava planejada havia muito tempo, e eles ficarão em uma casa que possuem no local. Na virada, a intenção é ficar em casa. “Temos receio porque meus pais são grupo de risco e sabemos que as condições do sistema de saúde lá são bastante restritas. Mas estamos seguindo todas as orientações que nos têm sido dadas em relação à prevenção”, afirma. Vilardi conta que ficou aliviado ao saber que a festa de Ano-Novo que acontece em Tibau, uma das maiores do Brasil, foi cancelada por causa da pandemia. “Aqui é palco de uma festa muito grande e a cidade é super pequena, então, normalmente, fica lotado”, relata. Apesar da satisfação de Daniel, a festa Let’s Pipa briga na Justiça para ter sua realização garantida e ainda vende na internet um pacote de cinco dias evento que ultrapassa os R$ 6.000. Segundo os organizadores, só pessoas com teste negativo de Covid-19 poderão entrar.
Leonardo Viri, de 37 anos, um paulista que mora em João Pessoa, na Paraíba, vai comemorar na Praia dos Carneiros, em Pernambuco. Ele alugou uma casa com mais 16 pessoas, todas de São Paulo. De acordo com Viri, que sempre passa a virada do ano no Nordeste, o grupo resolveu viajar para um lugar mais tranquilo por causa da pandemia. A ideia é, no dia 31, fazer a festa em casa mesmo. “Até haveria uma comemoração grande, estávamos aguardando a confirmação, mas foi cancelada. Como é um ano atípico, acabamos resolvendo ir para Carneiros. Vai ser tranquilo, vamos fazer nossas festas dentro da casa mesmo e os passeios pelas praias da região.”
No Brasil, nenhuma empresa restringiu a ocupação das aeronaves neste ano. Houve queda de apenas 8,3% nos voos domésticos de março a outubro, quando comparado ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As ocupações dos ônibus também não diminuíram. De acordo com dados divulgados pelo Observatório de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo, que recolhe os números junto à Socicam, empresa que administra terminais de ônibus na capital paulista, os 26.998 veículos que desembarcaram nos terminais do Tietê, Barra Funda e Jabaquara, em São Paulo, tiveram média de 24.600 passageiros. No mesmo mês do ano passado, a média dos 53.125 veículos foi praticamente a mesma: 24.500. Entretanto, apesar da procura ainda ser grande, empresas de turismo relatam diminuição em relação ao ano passado. As agências CVC e Submarino Viagens, por exemplo, afirmaram que, ao contrário dos outro anos, em que a época de Natal e Ano-Novo concentrava forte demanda, “os embarques e programações de viagens de férias devem ocorrer de forma pulverizada, ao longo de 2021”. A MaxMilhas, única empresa a enviar o percentual de procura de viagens de avião para o período, informou que ele é 50% menor do que no ano passado. No entanto, a empresa esclarece que mais da metade dos voos dentro do Brasil já foram retomados, e a perspectiva do setor aéreo é chegar entre 70% e 80% até o final do ano.
Programação de Ano-Novo nas principais capitais brasileiras
Em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, no dia 17 de dezembro, o novo ministro do Turismo, Gilson Machado, defendeu que as comemorações de final de ano sejam realizadas no Brasil, desde que todos os protocolos de segurança sejam seguidos. “As festas de Réveillon têm que acontecer. Não dá para liberar grandes aglomerações, mas festas com público entre 150 e 300 pessoas, sim. A gente tem que viver a vida, não dá para morrer por antecipação”, declarou o ministro. No entanto, a maioria das cidades cancelou as festas tradicionais. Governadores e prefeitos recomendaram que as pessoas façam pequenos encontros, de até dez pessoas.
São Paulo (SP)
Após cancelar, em julho, a tradicional festa de Réveillon da Avenida Paulista, a prefeitura de São Paulo anunciou que a comemoração teria uma versão virtual neste ano, com shows de samba, funk, gospel e sertanejo. No entanto, com agravamento da pandemia na cidade e da reclassificação do município para a fase amarela do Plano São Paulo, a prefeitura decidiu cancelar todas as comemorações. “Embora tenham sido tomadas todas as precauções para total segurança de artistas e profissionais envolvidos, conforme determinação dos protocolos de saúde, a cidade de São Paulo espera enfatizar a importância de se manter o distanciamento social e as medidas de prevenção à Covid-19 durante as festas de fim de ano”, afirmou a administração, em nota, no último dia 18. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou a contratação de mil agentes para trabalharem em uma força-tarefa de fiscalização do uso de máscaras, respeito às normas de distanciamento social e restrições de atendimento ao público em estabelecimentos comercias no período de festas de final de ano. O governo recomendou que as pessoas evitem celebrações que reúnam mais de dez pessoas. Todo o estado de São Paulo irá regredir no Ano-Novo para a fase vermelha, a mais restrita do Plano São Paulo, para evitar a disseminação da pandemia. Entre os dias 1 a 3 de janeiro, só poderão funcionar serviços essenciais, como supermercados, padarias e farmácias. Outros tipos de estabelecimento, como comércio em geral, bares e restaurantes, não poderão funcionar no período. A decisão foi tomada após reunião do Centro de Contingência no Palácio dos Bandeirantes entre Doria (PSDB) e auxiliares do governo. O colegiado também determinou que a região de Presidente Prudente, no interior do estado, ficará por tempo indeterminado na fase vermelha por superar o nível de 80% de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Rio de Janeiro (RJ)
O tradicional Réveillon de Copacabana foi cancelado neste ano. Inicialmente, a prefeitura faria uma comemoração diferente, com shows e efeitos de luzes em vários pontos da cidade, mas o prefeito da cidade, Marcelo Crivella (Republicanos), decidiu cancelá-la no dia 15 de dezembro. Segundo a prefeitura, “a decisão foi tomada em respeito às vítimas e em favor da segurança de todos”. Com a decisão, os eventos organizados pelo poder público foram cancelados. Entretanto, a medida não interfere em festas e eventos particulares, embora as restrições que proíbem aglomerações ainda estejam em vigência. Crivella também revogou a autorização para os quiosques promoverem festas na praia durante a virada. O decreto municipal permitia festas particulares na areia, mas isso foi vetado devido ao aumento dos casos da Covid-19 na cidade. O afastamento do prefeito não alterou as decisões da administração municipal. O governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, determinou que o metrô só funcione até as 20h no dia do Réveillon, para impedir as pessoas de irem à praia. Além disso, afirmou que o Corpo de Bombeiros vai atuar na fiscalização do cumprimento das medidas de prevenção à Covid-19 no estado. A corporação também é responsável por aprovar a realização de eventos. “Os estabelecimentos/produtores devem seguir o que prevê o decreto 47.345 de 5 de novembro, que determina lotação máxima de 50% da capacidade total. Eventos privados em imóveis residenciais ficam isentos de autorização, desde que mantida a destinação residencial privativa e atendidas as medidas de segurança”, informou a corporação.
Fortaleza (CE)
A festa de Ano-Novo de Fortaleza, que chega a atrair mais de 1 milhão de pessoas, foi suspensa. “A gente está prevendo aglomeração de pessoas e não tem a menor condição de ter Réveillon”, disse o prefeito Roberto Cláudio (PDT). No dia 11 de dezembro, o governador do estado, Camilo Santana, anunciou a publicação de um decreto proibindo festas e eventos sociais ou corporativos no período de final de ano, incluindo Natal e Réveillon. Ele afirmou, ainda, que o horário de funcionamento do comércio será ampliado “para que o público tenha mais opções de horário e evite aglomerações”. O governo fez um decreto específico para o período de 15 de dezembro a 4 de janeiro, em que proíbe a realização de celebrações públicas de Ano-Novo, autorizando apenas que as cidades façam transmissões ao vivo sem a presença de público. No decreto, também consta a proibição de eventos sociais e corporativos em espaços públicos ou privados, ainda que abertos. Áreas comuns de condomínios também não podem receber eventos, e festas residenciais ficam limitadas a 15 pessoas, incluindo os moradores.
Salvador (BA)
Na capital baiana, a abertura dos bares, restaurantes e lanchonetes está permitida atualmente das 12h até as 0h, com limite de oito pessoas por mesa, segundo informou a prefeitura. Cinemas, teatros e demais casas de espetáculo, assim como das atividades sociais como festas, bares e lanchonetes nos clubes sociais, recreativos e esportivos, estão com as atividades suspensas até uma nova revisão das condições sanitárias locais. Além disso, a prefeitura cancelou o Festival da Virada, que este ano aconteceria sem público, em formato de live. “Não estamos vivendo momento de celebração, estamos vivendo momento de preocupação. O cancelamento é para mostrar que a cidade está encarando com seriedade, se preparando para situação mais grave”, afirmou o prefeito ACM Neto (DEM). O mandatário também anunciou interdição física da orla da Barra na virada do ano para evitar aglomerações. A queima de fogos em vários pontos da cidade está mantida, mas os locais onde o espetáculo acontecerá não serão divulgados para impedir que multidões se aglomerem para assisti-lo. O governador Rui Costa (PT) pediu que a inteligência da polícia monitore redes sociais para coibir festas clandestinas em bares, barracas e restaurantes. “A polícia fará o bloqueio de entrada desses estabelecimentos. Nós não permitiremos festa em nenhuma quantidade de público”, prometeu o petista.
Recife (PE)
A prefeitura de Recife suspendeu a tradicional queima de fogos e vai apostar em um show de luzes, que serão projetadas de cima de prédios localizados em pontos estratégicos da cidade para proporcionar visibilidade ao maior número possível de pessoas. No dia 31, véspera de Ano-Novo, bares e restaurantes do estado de Pernambuco terão que fechar às 20h para evitar que pessoas fiquem nas ruas. O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Bruno Schwambach, orientou que as confraternizações de fim de ano sejam feitas em âmbito familiar. Segundo ele, shows e festas estão proibidos em Pernambuco, incluindo os realizados em espaços públicos ou privados, como condomínios, clubes, hotéis e afins, com ou sem cobrança de ingresso, independente do número de participantes. Bares e restaurantes continuam podendo abrir, desde que obedeçam aos protocolos. Eventos sociais, como casamentos, formaturas e batizados, também podem acontecer, respeitando as medidas de proteção e o limite de até 300 pessoas. “Temos o apoio da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) na divulgação de informações e nas fiscalizações, que serão intensificadas”, pontuou Schwambach, que lembrou que a população pode fazer denúncias de locais que estejam descumprindo o protocolo estadual pelo WhatsApp do Procon Pernambuco: (81) 3181-7000.
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