Ministro do Trabalho é alvo de protestos em discurso na sede da ONU, na Suíça

  • Por Estadão Conteúdo
  • 08/06/2016 11h47
Ananda Borges / Câmara dos Deputados Ronaldo Nogueira

O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, foi interrompido, nesta quarta-feira (8), em seu discurso na ONU, na Suíça, por sindicatos que protestaram contra o governo de Michel Temer. 

O ministro está em Genebra para participar das reuniões da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na sede das organizações. Quando começou realizar sua fala, na plenária da entidade, foi alvo de contestações. 

Com mensagens escritas em inglês e francês, os representantes da CUT e de sindicais estrangeiras denunciaram o “golpe” no País e se colocaram de pé diante de centenas de delegados estrangeiros. Na primeira fila e vestidos com camisas vermelhas, os representantes dos sindicatos gritavam palavras de ordem, enquanto mostravam cartazes dizendo ” Coup in Brazil ” (Golpe no Brasil) e ” Esse ministro não é legítimo “, também em língua inglesa.

A presidência da reunião interrompeu o discurso e pediu a intervenção da segurança para retirar os manifestantes. “Peço que a segurança garanta que a ordem seja restaurada”, colocou.

Um grupo de sindicalistas deixou o local gritando “golpista”, enquanto membros do grupo governamental respondiam. Por alguns instantes, a assembleia da ONU foi tomada por berros. O grupo governamental aplaudiu a decisão da presidência, inclusive com cartazes dizendo “Tchau, Querida”, usado nos protestos anti-Dilma

Ao retomar seu discurso, o ministro fez questão de dizer que a OIT era uma prioridade para o Brasil em responder às acusações do golpe. “No Brasil temos nossa democracia consolidada. Ninguém está acima da lei”, ponderou, enfaticamente aplaudido pelo comitiva oficial.

Sindicatos como a Força Sindical não participaram do protesto e criticaram a ação da CUT. “Nossos assuntos precisamos tratar no Brasil, não aqui”, disse Carlos Lacerda, secretário para Assuntos Parlamentares da Força Sindical e que levou o cartaz ” Tchau, Querida ” para dentro da ONU. “O golpe são os 11 milhões de desempregados”, retrucou. 

Já temendo protestos, a diplomacia brasileira em Genebra solicitou à ONU um reforço de segurança. A reportagem presenciou quando um grupo de sete homens e mulheres chegou até o plenário e recebeu ordens para ficar em locais estratégicos da sala.

Em anfiteatro para 2 mil pessoas, em grande parte vazio, Nogueira tentou dar garantias de que os direitos trabalhistas não seriam revogados. A delegação ainda contava com oito deputados, membros do Tribunal Superior do Trabalho e outros sindicatos que não seguiram os protestos da CUT. 

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Essa foi a primeira vez que um ministro do governo de Michel Temer foi alvo de protestos no exterior, em uma reunião oficial e durante um discurso. O chanceler José Serra já havia sido alvo de protestos em Buenos Aires, mas fora da embaixada.

Em Genebra, sindicatos coordenados pela CUT já vinham organizando protestos contra a diplomacia brasileira nas reuniões da entidade, mas nunca na presença do ministro. 

Na passada segunda-feira (6), também na plenária, o sindicalista grego George Mavrikos, presidente da Federação Mundial de Sindicatos, acusou a delegação brasileira de “fascista”. A comitiva brasileira pediu direito de resposta. Mas, quando foi falar, passou a ser vaiada. “Eles foram calados. É assim que temos de agir”, disse, depois, Valentin Pacho, representante do mesmo sindicato.

Na última sexta-feira (3), representantes do Brasil já tinha sido hostilizados numa das reuniões da OIT por corporações latino-americanas. Já na passada terça-feira (7), um grupo de trabalhadores da Venezuela acusou Temer de ter promovido “um golpe de estado”. 

Preocupados com a repercussão internacional, os representantes brasileiros receberam a orientação de não deixar nenhum ataque sem resposta. A embaixadora Regina Dunlop colocou um representante brasileiro em cada sala para garantir que nenhuma brecha fosse dada. Em todas as ocasiões, o Itamaraty pediu a palavra e leu dois parágrafos indicando que a Constituição estava sendo respeitada e que não existia o golpe denunciado.

Nos corredores, porém, diplomatas e a equipe do Ministério do Trabalho não escondiam o temor de “manchar a imagem” às vésperas das Olimpíadas diante da comunidade internacional. Ao concluir seu discurso, nesta quarta-feira, Nogueira convidou a todos para que fossem ao Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos.

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