‘Não é briga de marido e mulher, é crime hediondo’, diz promotora

  • Por Nicole Fusco
  • 18/02/2019 15h53 - Atualizado em 17/04/2019 14h16
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Reprodução Vinícius Batista Serra, de 27 anos, foi preso em flagrante depois de espancar Elaine Perez Caparroz, durante quatro horas

“A sociedade brasileira ainda reluta em atender ao pedido de uma mulher que grita por socorro por achar que ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher'”, avaliou Silvia Chakian, promotora de Justiça de Violência Doméstica do Ministério Público de São Paulo, sobre a demora dos vizinhos em ajudar Elaine Perez Caparroz, de 55 anos.

Neste final de semana, Elaine deu entrada num hospital particular no Rio de Janeiro depois de ser espancada durante quatro horas no apartamento em que mora. Ela e Vinícius Batista Serra, de 27 anos, conversavam há oito meses nas redes sociais e decidiram marcar um jantar na casa dela.

Eles tinham dormido juntos, quando Elaine acordou sendo agredida. “Ele falou então: ‘deita no meu ombro para a gente dormir abraçadinho, pra dormir juntinho. Aí eu falei: ‘tá bom’. Eu acordei com ele me esmurrando a cara”, contou a vítima.

“Infelizmente não é só nesse caso, é um padrão”, lamenta Chakian sobre o fato de os vizinhos de Elaine terem demorado para intervir. “A gente precisa parar e refletir sobre esses casos porque não é briga de marido e mulher, é crime hediondo e covarde”, afirmou ela em entrevista a Jovem Pan. “Toda vez que tem um lado notadamente vulnerável — e é o que mostram as estatitísticas –, nós temos o dever de interceder”, disse ela.

Segundo Chakian, o Brasil registra, atualmente, uma morte violenta de mulher a cada 36 horas. “Isso revela uma epidemia e não casos isolados.”

Chakian afirma que se, ver ou ouvir uma briga entre um homem e uma mulher, a pessoa deve chamar a polícia imediatamente. “Toque a campainha, ligue, interfone, vá até o apartamento para falar com a vítima e saber o que está acontecendo”, orienta a promotora. “Não tem que hesitar por quem grita por socorro. É inconcebível ouvir gritos e não interferir”, completou ela.

O agressor de Elaine, Vinícius Batista Serra, foi preso em flagrante por tentativa de feminicídio, pois a polícia entendeu que ela espancou Elaine por ela ser mulher. Ele disse que tomou vinho, dormiu e acordou em surto.

Chakian explica que o feminicídio “é um crime que atenta contra a vida da vítima, uma mulher, por circunstâncias de gênero”. “Isso significa que pode haver um contexto de violência doméstica e familiar; de relação de afeto; ou de contexto de menosprezo e discriminação contra a mulher”, disse. “Dependendo do que as investigações concluírem, esse crime vai ser enquadrado em uma ou mais dessas hipóteses”, explicou a promotora.

Ela também alerta para que a vítima não seja julgada culpada pela sociedade só pelo fato de ter conhecido o agressor na internet. “Ela e somente ela é a vítima”. “Não importa que eles não tivessem um relacionamdento duradouro. O encontro era amoroso, portanto, o feminicídio está configurado”, completou a promotora.

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