‘Não tem distinção, acabamos com festas das classes A a E’, diz Frota sobre força-tarefa que atua contra eventos clandestinos

Criada há seis meses, ‘A frota do Frota’ ganhou notoriedade após caso envolvendo atacante do Flamengo e já debelou mais de 800 aglomerações

  • Por André Siqueira
  • 24/07/2021 14h00
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Reprodução/Polícia Civil de São Paulo Quatro homens de máscara em ação de fiscalização O deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) é coordenador da força-tarefa de combate a festas clandestinas

Na madrugada do dia 14 de março deste ano, a Polícia Civil de São Paulo fechou um cassino de luxo na Zona Sul de São Paulo. O estabelecimento, localizado na Vila Olímpia, desrespeitava o decreto do governo João Doria e foi palco de uma festa clandestina no mesmo dia em que o Brasil registrou 1.940 mortes causadas pela Covid-19. A operação contra a aglomeração flagrou o cantor MC Gui e o atacante Gabriel Barbosa, o Gabigol, do Flamengo, entre os presentes. O vídeo do momento da abordagem foi replicado milhares de vezes nas redes sociais e chamou a atenção pela atuação do deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP). À época, a força-tarefa, idealizada e coordenada pelo tucano, já existia há, aproximadamente, dois meses. Mas, a partir daquele dia, as ações que debelam shows e bailes no Estado ganharam notoriedade e respaldo de uma população enlutada pela perda de mais de 540 mil brasileiros. Em entrevista à Jovem Pan por mais de uma hora, Frota contou como concilia sua atuação como parlamentar com as blitz que já impediram a realização de mais de 800 festas clandestinas em pouco mais de seis meses, e relembrou episódios que o marcaram neste período.

A criação da força-tarefa remonta ao início deste ano. Frota conta que passou a ser procurado por empresários, donos de casas de shows que estavam fechadas em razão do Plano São Paulo e por pessoas que moram perto de galpões e reportam a ocorrência de festas clandestinas nos arredores destes estabelecimentos. O parlamentar compilou informações por semanas e decidiu procurar o governador do Estado, João Doria, e o então prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). “O deputado tem que zelar pela segurança e pela saúde do povo. Eu precisava fazer alguma coisa, não podia ficar de braços cruzados. Aliás, não há óbice legal que me impeça de atuar voluntariamente na força-tarefa. Juntei essas denúncias, levei ao governador, ao prefeito Bruno Covas e falamos da possibilidade de montar esta força-tarefa. O governo de São Paulo já vinha combatendo aglomerações com o Procon e a Vigilância Sanitária, mas não havia um núcleo destinado, especificamente, ao combate das festas clandestinas. Doria e Covas foram entusiastas desta ideia. Então, marquei reunião com a Secretaria de Segurança Pública, com a Polícia Militar, com a Polícia Civil, com o Corpo de Bombeiros, representantes da OAB, da Guarda Civil Metropolitana e do Ministério Público. Em paralelo, fiz uma denúncia ao MP sobre as festas clandestinas. Ela foi entregue ao procurador do Estado, que destacou um promotor exclusivo que acompanha as nossas ações. Foi unânime. Assim nasceu a força-tarefa”, disse o deputado à reportagem.

Nas contas do parlamentar, o grupo, coordenado por ele, já impediu a realização de mais de 800 festas. Em alguns casos, relata, a força-tarefa aposta na conscientização de promoters e organizadores que cancelam a realização dos eventos. “Ligamos para os proprietários, para os promoters, vamos na base do convencimento, eles entendem que não é bom fazer, muitas são adiadas ou canceladas”, afirma. Na maioria das vezes, porém, o trabalho para debelar as aglomerações é sofisticado e complexo. “No início, recebíamos as denúncias mas muitas não batiam. Tivemos que começar a rastrear, a entrar em grupos de WhatsApp, comprar convites, ganhamos alguns VIPs, também. São mais de 500 grupos com modus operandi diferentes. Eles anunciam a festa em cima da hora, o endereço divulgado não é o mesmo da festa. Você chega, deixa seu carro no estacionamento e vai para o local verdadeiro em uma van”, conta. Os voluntários, então, se infiltram, vão até as festas, se enturmam, compram bebidas, fazem fotos e vídeos e enviam o material para os grupos. “A nossa ação só começa depois desse positivo”, resume Frota.

Ação que envolveu Gabigol foi ‘a mais surreal de todas’

Uma ação também bastante comentada foi a interrupção de uma festa clandestina com cerca de 500 pessoas no dia 11 de junho, nos Jardins, bairro nobre da capital. O evento ocorreu em um escritório de advocacia, onde uma socialite comemorava seu aniversário com um show da dupla sertaneja Matheus e Kauan. Imagens da modelo Liziane Gutierrez, compartilhadas pelo deputado, em que ela gritava com os policiais e os mandava “ir para a favela”, viralizaram. “Vocês são uns merdas. Vai tomar conta de quem torra. Vai pra favela, car***o. Vai pegar na favela, e vocês assumem”. “Para mim, não tem distinção nenhuma. Acabamos com festas das classes A a E. Não tem diferença. Pode ser rico, milionário, festa rock, festa pop, sertanejo, brega, funk. Nós vamos para cima”, diz Frota. Os minutos que antecedem a batida são primordiais. O parlamentar e sua equipe trabalham minuciosamente para evitar o vazamento da operação. “Com esse positivo, entro eu, começa a minha parte. Me desloco, passo em frente ao local da festa uma, duas vezes, confiro e me posiciono a três ou quatro minutos de lá. Só depois do positivo completo é que eu dou o comando para a equipe do Garra DOPE [Departamento de Operações Policiais Estratégicas], da Barra Funda. Eu reservo a força-tarefa, disparo um Whatsapp e mobilizo o contingente. ‘Saída tal hora’, mando nos grupos. As equipes vão encostar 15 minutos antes, junta Procon, Vigilância Sanitária, bombeiros, PM, nossos cinegrafistas e fotógrafos. O MP acompanha online. É muito cuidado para evitar o vazamento”, explica.

O deputado federal coleciona diversas histórias e admite que a ação no cassino, que envolveu o atacante Gabigol, foi “a mais surreal de todas”. Mas uma operação, em especial, o marcou. Há um mês, a força-tarefa encerrou uma festa clandestina em Carapicuíba, município da região metropolitana de São Paulo. No local, um adolescente contaminado com a Covid-19 compartilhava narguile (usado para o fumo de essências, de tabaco ou outras substâncias) com colegas. “Levamos uma unidade móvel da secretaria de Saúde e, quando evacuamos a festa, propusemos que elas fizessem o teste. Muitos toparam. Um rapaz, que tinha acabado de chegar na festa, estava sentado em uma mesa com mais 15 pessoas, compartilhando narguile, testou positivo. Fez a contraprova, deu positivo. Só ali ele contaminou pelo menos 15 pessoas. São essas pessoas que saem da festa, vão para a casa e contaminam pai, mãe, irmãos. Vale dizer que, quando estas festas começaram, a vacinação não acontecia na faixa etária dos pais. É uma atitude muito irresponsável”, conta. Apesar das inúmeras diferenças entre as festas, um cenário se repete em muitas delas: “Encontramos lugares sem alvará, equipes de segurança sem certificação para exercer este trabalho, os funcionários da cozinha sem capacitação, fios desencapados, extintores de incêndio sem carga, em algumas casas não há nem extintor, não há brigada de incêndio, as bebidas falsificadas, encontramos drogas, maconha, loló, lança perfume”.

Mulheres abordadas em ação da força-tarefa

Força-tarefa desmantelou festa em estabelecimento na Vila Formosa, na Zona Leste de SP | Foto: Alex Painners

O implacável trabalho rendeu à força-tarefa uma série de apelidos – “A frota do Frota” é o principal deles. Outras denominações são dadas exclusivamente ao deputado federal, chamado de “exterminador de baladeiro”, “caçador de cachaceiro” e “xerife da noite”. “Levo isso com muita tranquilidade, porque estou ajudando a sociedade, ajudando famílias. É indiferente o apelido que vão dar. Para mim, é importante o trabalho que temos feito. O resultado é o que mais importa. Podem falar o que quiser, eu levo numa boa. A força-tarefa é um trabalho que faço com muito orgulho, com muito gosto”, comenta. Aos que o criticam e dizem que ele deveria se preocupar com o mandato, Frota é taxativo: “Sou um dos deputados que mais entrega projeto de lei, meu gabinete produz muito. Tenho trabalhado incansavelmente como deputado. Fico em Brasília de terça a quinta, muitas vezes volto na quinta a tarde para fazer as intervenções na quinta, na sexta, no sábado e no domingo. Quando preciso estar em Brasília na sexta, venho pra São Paulo na quinta, atuo na força tarefa, volto de madrugada, trabalho no gabinete, vou ao plenário e volto para contribuir com a força-tarefa. Minha atuação é muito forte. Estou muito seguro, o que comprometi como deputado eu tenho entregado. Sou um dos autores da lei Aldir Blanc, estou compartilhando as informações da CPMI das Fake News com o senador Renan Calheiros, relator da CPI da Covid-19. Além do mais, tenho todo o direito de fiscalizar a coisa errada. Isso ninguém pode tirar de mim. Essas pessoas falam sem conhecimento de causa”.

Desde que começou a desmantelar as festas clandestinas, há uma frase que Frota ouve com frequência. “Por que você não vai fiscalizar as aglomerações no metrô e nos ônibus?”, questionam os baladeiros inconformados. O deputado responde: “Ônibus e metrô é sobrevivência, é obrigação do trabalhador. Quem pega metrô lotado está sendo obrigado, está indo trabalhar. É muito diferente da pessoa que está aglomerando 4h da manhã, com a cara cheia de maconha e de cachaça, dançando e cantando enquanto temos mais de meio milhão de mortos. Quem está nessas festas não tem cara de quem sai 5h da manhã para trabalhar”. O deputado federal dá de ombro para as críticas que recebe e garante que seguirá trabalhando mesmo agora, no momento em que os índices de internações e mortes causadas pela Covid-19 diminuem e a vacinação avança. “A pandemia não acabou, a variante Delta é muito mais contagiosa, não é hora de relaxar. Seguiremos trabalhando. Ninguém é contra festas. Mas eu sou terminantemente contra festa clandestina enquanto as pessoas estão morrendo”.

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