O que é ‘flurona’? Tire dúvidas sobre a dupla infecção por Covid-19 e influenza
Casos já foram detectados em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Ceará; cuidados principais como máscaras e higiene das mãos devem ser mantidos
O Brasil começou a registrar no começo de 2022 casos de infecção simultânea por coronavírus e influenza, conhecido como “flurona“. Apesar dos primeiros casos de “flurona” terem sido identificados nos Estados Unidos ainda no início da pandemia, em 2020, a coinfecção começou a ser frequentemente relatada no Brasil recentemente. Nas últimas semanas, foram detectados casos de dupla infecção em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Ceará. Mas afinal, o que é a “flurona”? Para responder os questionamentos mais comuns, a Jovem Pan conversou com a médica Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), e com Fernando Bellissimo Rodrigues, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
O que é a “flurona”?
Mônica Levi explica que “flurona” é apenas um apelido que se deu para a coinfecção, que nada mais é do que uma dupla infecção pelo vírus da Covid-19 e da influenza ao mesmo tempo.
Quais são os sintomas?
“Os sintomas se sobrepõem, já que as manifestações clínicas das duas doenças são semelhantes”, indica Bellissimo. Os sintomas mais comuns são febre, coriza nasal, dor de garganta e tosse.
Por que os registros de “flurona” estão sendo mais frequentes no Brasil?
A diretora da SBim atribui a frequência da “flurona” às duas epidemias que o país está vivendo: a da gripe e da Covid-19. “Com o aumento de casos da H3N2 da cepa Darwin, que não está inclusa na vacina da gripe aplicada em 2021, e a rápida disseminação da variante Ômicron, que já é prevalente no Brasil, os casos de ‘flurona’ começaram a aparecer”, afirma Mônica.
A dupla contaminação é normal?
Sim. “É um fenômeno natural para quem pesquisa essas doenças, principalmente no caso de infecção simultânea por vírus e bactérias. Não é nenhuma particularidade da Covid-19. A coinfecção da Covid-19 com outros patógenos, inclusive, foi relatada ainda em 2020 e 2021, mas quase não foi notado no Brasil no ano passado porque quase não tivemos casos de gripe”, afirma Mônica Levi. Fernando Bellissimo aponta que, no caso da Covid-19, não é tão comum ainda, mas pode se tornar.
“Felizmente, isso não é tão comum assim, mas pode se tornar com o avanço das doenças. Se não tomarmos as precauções devidas, isso pode vir a se tornar comum. No momento, ainda é um evento em infrequente”, analisa o professor da USP, que faz uma ressalva: “Mas, também, a gente tem que pensar o seguinte: nem todos os casos de pessoas com síndrome gripal são testados para os dois vírus. Então, pode ser que esteja acontecendo até mais frequentemente do que estamos documentando.”
O quadro causado pela “flurona” é pior do que Covid-19 ou influenza solo? O risco é maior para o paciente?
Ambos os especialistas afirmam que ainda se sabe pouco sobre a gravidade da “flurona”. “Existe um temor de que ela possa ser mais grave do que as doenças isoladas, mas, até o momento, isso não foi comprovado”, destaca Bellissimo. “Não temos dados nem para dizer que é mais grave ou menos grave. As duas coisas já foram aventadas”, concorda Levi. “A preocupação da ‘flurona’ é no sentido de complicar o diagnóstico, porque nem todos os lugares estão realizando teste para a influenza, e as condutas são diferentes em cada caso, o que também complica o tratamento. Pacientes idosos e com comorbidades precisam tomar Tamiflu para a influenza nas primeiras 48 horas de sintomas, diferente do que se preconiza para a Covid-19, por exemplo”, salienta a diretora da SBim. A ocorrência da “flurona” também pode sobrecarregar o sistema de saúde.
Quais cuidados devem ser tomados para evitar a contaminação?
As medidas de prevenção são as mesmas. “Os dois vírus são transmitidos de pessoa por pessoa pelas vias respiratórias. Então, o recomendado é usar máscara. É por esse motivo que não tivemos surtos de gripe em 2020 e 2021. O uso do equipamento conteve a transmissão da influenza”, relembra Mônica. Além da máscara facial, a higiene das mãos é essencial. “Higiene das mãos com álcool ou com água e sabão antes de se alimentar, após usar o banheiro e antes de tocar nos olhos, na boca e no nariz. A segunda medida é a etiqueta de tosse. As pessoas devem ser instruídas a não tossir sobre as mãos. Quando ela tosse na mão, ela a contamina e, depois, contamina o ambiente. É preciso tossir sobre o braço ou sobre o antebraço”, reforça Bellissimo.
Também é importante — e essencial — se vacinar, tanto contra a Covid-19 quanto contra a influenza. “A vacina da gripe contra a cepa da H3N2 está sendo produzida pelo Instituto Butantan e deve chegar ao Sistema Público de Saúde entre março e abril. Enquanto isso, devemos seguir medidas de restrição, ao contrário do que foi feito no fim de ano. Agora estamos recebendo o resultado”, diz a diretora.
Como saber se eu tenho “flurona”?
Por testes específicos. “De modo geral, os testes rápidos trazem agilidade e elucidam os casos. Recomendamos que sejam feitos em laboratórios, mas estamos vivenciado uma sobrecarga. Nesse caso, os testes rápidos realizados em farmácias também podem ser feitos. Eles são fidedignos quando o resultado é positivo”, explica Mônica, que acrescenta que esse tipo de exame deve ser feito nos primeiros cinco dias de sintomas. “Se der negativo e os sintomas persistirem, um teste molecular do tipo PCR deve ser realizado”.
O que fazer caso eu tenha “flurona”?
Isolamento. “Quando temos gripe, o tempo de isolamento depende do tempo de duração dos sintomas. Se acabou os sintomas, a pessoa não está mais transmitindo. Então a gente fala em uma semana, que é a duração média de uma gripe. Mas fica a critério médico a partir da avaliação e evolução do quadro clínico. No caso da Covid-19, o isolamento é de 10 a 14 dias, independentemente dos sintomas, já que existem assintomáticos transmitindo a doença. Sendo assim, recomendamos um isolamento de 10 a 14 dias para a ‘flurona’ com base na duração da infecção pela Covid-19, que é mais longa que a da gripe”, recomenda Mônica Levi.
Pode haver novo pico de internações?
Pode. “A H3N2 começou como um surto no Rio de Janeiro e foi se alastrando pelo país. A maior parte dos Estados do Brasil já está com surto da doença, alguns com quantidade tão elevada de casos que já estamos chamando de epidemia”, aponta a diretora da SBim. “Aqui no município de Ribeirão Preto já estamos tendo um aumento das internações. Mas, por enquanto, são apenas internações de enfermaria. Não detectamos um aumento de internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Isso porque estamos com uma cobertura vacinal muito alta para a Covid-19. A minha expectativa é de que no Brasil aconteça um pequeno aumento no número de internações de enfermaria e um aumento um pouco menor de internações em UTI”, prevê Bellissimo.
Para Mônica Levi, o momento é de cautela. Medidas devem ser recrudescidas para evitar esse aumento. O melhor caminho, segundo a diretora, é que cada um se preocupe com o seu trabalho de transmissor, ainda que seja involuntário. “É hora de recuarmos, intensificarmos o uso de máscaras e cuidados com aglomeração e ambientes fechados, principalmente nos locais de trabalho e em transporte público. Com sistema de saúde já ficando lotado, é a hora da gente botar um freio. A gente já viu o resultado de pequenas aglomerações familiares”, afirma a médica sobre as festas de Natal e Ano Novo. “Não podemos subestimar a gravidade da Ômicron. A grande circulação aumenta a chance de surgir novas variantes”, alerta. Com sintomas respiratórios leves ou não, a recomendação é que a pessoa procure fazer o diagnóstico. O quadro pode ser leve, principalmente para não vacinados, mas é importante confirmar para realizar o isolamento e quebrar a corrente de disseminação.
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