Palocci reafirma que Lula negociou propina para filho com lobista
O ex-ministro Antônio Palocci reafirmou em depoimento à Justiça Federal nesta segunda-feira (18) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negociou com o lobista Mauro Marcondes Machado, do setor automobilístico, pagamentos ao filho caçula, Luís Cláudio Lula da Silva, para a aprovação de uma medida provisória. Palocci atuou nos governos do próprio Lula e também de Dilma Rousseff, ambos petistas.
A negociação, disse o ex-ministro, envolveu a atuação do ex-presidente da República junto ao governo federal para evitar que Dilma vetasse a emenda da MP 627 que previa a manutenção de benefícios para montadoras das regiões norte, nordeste e centro-oeste. De acordo com Palocci, a MP 627 foi a “campeã das propinas na história do Brasil” uma vez que teve em seu texto “vários contrabandos enxertados”.
Ainda segundo ele, Lula lhe informou que a atuação resultaria no repasse de valores por parte de empresa de Mauro Marcondes para Luís Cláudio. O ex-ministro prestou depoimento na manhã desta segunda, via teleconferência. A oitiva se deu no âmbito da ação penal da operação Zelotes em que o ex-presidente Lula é réu por suposto tráfico de influência na compra dos caças suecos da marca Grippen e na edição da MP 627.
No depoimento, conduzido pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, Palocci disse desconhecer qualquer irregularidade envolvendo Lula no caso dos caças Grippen, mas reafirmou seu conhecimento sobre os repasses do lobista ao filho do ex-presidente. Ele citou reunião ocorrida em 2014. “Luís Cláudio me procurou e disse que já estava com o projeto do futebol americano fechado e faltava cerca de R$ 2,5 milhões. Perguntou se eu poderia ajudar.”
Após esse encontro, disse o ex-ministro, ele se reuniu com Lula para perguntar se deveria atuar em favor de Luís Cláudio. “[Lula] Me contou que não precisava mais, porque através da MP 627 havia negociado recursos suficientes que o Luís Cláudio precisava.” Questionado pelo advogado Cristiano Zanin, defensor de Lula, Palocci afirmou que as conversas com Lula e Luís Cláudio não tiveram a participação ou foram testemunhadas por outras pessoas.
Histórico
Na ação penal em que Palocci prestou depoimento, a Procuradoria da República afirma que os crimes teriam sido praticados entre 2013 e 2015 quando Lula, já na condição de ex-presidente, “integrou um esquema que vendia a promessa de que ele poderia interferir junto ao governo para beneficiar as empresas MMC, grupo Caoa e SAAB, clientes da empresa Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia LTDA (M&M)”.
Em troca, afirma a denúncia, Mauro e Cristina, donos da M&M, repassaram a Luis Cláudio pouco mais de R$ 2,5 milhões. Ao longo de 154 páginas, os procuradores da República Hebert Mesquita, Frederico Paiva e Anselmo Lopes descrevem a atuação dos investigados em dois fatos a partir da existência do que chamaram de “uma relação triangular”. A denúncia também cita atuação de Lula em favor do filho.
A procuradoria faz acusações sobre o recebimento de vantagens indevidas e alega que o valor repassado só não foi maior por causa da deflagração da Zelotes, em março de 2015. Segundo a ação, a expectativa era de recebimento total de R$ 4,3 milhões, sendo R$4 milhões da M&M e o restante da montadora Caoa entre junho de 2014 e março de 2015, a M&M fez nove pagamentos à LFT que somados chegaram a exatos R$ 2.552.400,00.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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