PF descarta emboscada de madeireiros no assassinato de índio Guajajara no Maranhão

  • 10/01/2020 12h18 - Atualizado em 10/01/2020 12h45
Divulgação/Josoaldo de Oliveira Índios Guajajara protestaram após assassinato de Paulo Paulino Guajajara

O inquérito da Polícia Federal que apura a morte do indígena Paulo Paulino Guajajara afastou as hipóteses de “conflitos étnicos ou mesmo uma emboscada de madeireiros” no caso. Guajajara foi assassinado em 1º de novembro de 2019 na terra indígena de Arariboia, a 500km de São Luís, capital do Maranhão. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) contesta a conclusão das investigações.

As investigações concluíram que “o lamentável episódio se originou da troca de tiros motivada pela posse de uma das motocicletas utilizadas pelos não indígenas”. A versão final do inquérito contraria a versão de Laércio Souza Silva, índio Guajajara que estava presente no confronto. Ele foi baleado no braço, mas sobreviveu.

Segundo a versão de Laércio, os índios foram vítimas de uma emboscada enquanto caçavam dentro do seu território. Quando pararam para beber água, ouviram um barulho no mato e, em seguida, vieram os tiros. Na ocasião, o não indígena Márcio Gleik Moreira Pereira também morreu.

As investigações se encerraram em 12 de dezembro, e contaram com exames periciais, testemunhos e declarações dos sobreviventes. O resultado do inquérito foi encaminhado à Justiça Federal em São Luís, juntamente com todas as provas colhidas.

Indigenistas repudiam inquérito

Após a decisão, o Cimi emitiu uma nota acusando a PF de “desconsiderar uma história de mais de 40 anos de conflitos com madeireiros nesse território, ao longo dos quais os indígenas vêm sendo assassinados e tendo seus territórios destruídos sem que nenhum assassino seja punido”, e repudiando a atuação da mídia no caso, que “ao reproduzir os argumentos falaciosos, reforça a criminalização e a posição desse governo e desse Estado etnocida.”

“Ao desprezar o contexto de violência e de violações aos direitos e territórios indígenas, mesmo quando se trata de terras indígenas já demarcadas, a Polícia Federal demonstra sua opção política pela criminalização dos povos e de seus processos de luta por direito e por território, naturaliza o racismo institucionalizado pelo Estado e acaba por reforçar, com esta posição, as políticas de extermínio dos povos originários”, continua.

O Conselho exige ainda a consideração das vozes dos povos na investivações, e pede que acabe a impunidade “dos que matam e mandam matar”.

* Com informações do Estadão Conteúdo.

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