Picciani admite ter vendido gado para empresa suspeita de caixa 2

  • Por Estadão Conteúdo
  • 11/12/2017 11h20
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Tânia Rego/Agência Brasil O deputado foi ouvido pela PF dia 14 do mês passado, mesmo dia em que foi alvo da Operação Cadeia Velha, desdobramento da Lava Jato

O presidente licenciado da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani (PMDB-RJ), admitiu em depoimento à Polícia Federal ter vendido gado para uma empresa controlada pela Carioca Engenharia. Uma executiva da construtora afirmou, no ano passado, que a transação foi realizada para maquiar suposto pagamento de caixa 2 ao peemedebista no total de R$ 1 milhão.

O deputado foi ouvido pela PF dia 14 do mês passado, mesmo dia em que foi alvo da Operação Cadeia Velha, desdobramento da Lava Jato. Picciani confirmou que fez duas operações de venda de gado da Agrobilara, empresa que pertence à sua família, à empresa Zi Blue, controlada pela empreiteira Carioca.

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou Picciani e seu colegas de partido Paulo Melo e Edson Albertassi, também deputados da Alerj, e outros 16 investigados no início deste mês por corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Picciani nega que tenha feito caixa 2 com superfaturamento de gado. Ele e os outros dois deputados chegaram a ser presos, mas foram soltos após a Alerj votar pela libertação dos parlamentares – em seguida, foram presos novamente por decisão do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2).

No acordo de leniência fechado com o MPF em 2016, a matemática Tania Maria Silva Fontenelle, que foi diretora financeira da Carioca Engenharia, disse ter comprado “vacas superfaturadas” da empresa da família de Picciani. Na versão dela, o caixa 2 foi gerado por meio da compra de animais. “(As vacas) foram efetivamente entregues, porém parte do valor pago foi devolvida em espécie à Carioca Engenharia”, afirmou ela à época.

No depoimento de Picciani, a PF questionou o parlamentar sobre a venda de cabeças de gado para a Zi Blue em meados de 2012 e em 2013. Segundo o peemedebista, Ricardo Pernambuco, um dos controladores da Carioca, “tem muito conhecimento (50 anos) na área de criação de nelores”.

Segundo o relatório do depoimento, Picciani admitiu “ter havido duas aquisições, nos anos de 2012/2013, pela empresa Zi Blue, de 160 cabeças de gado da empresa Agrobilara”. Ele ainda confirmou ter participado “diretamente” da negociação.

“Pela experiência, Ricardo escolheu boas matrizes genéticas; que após a escolha, foi fixado o valor da negociação, sendo paga em 10 parcelas a aquisição realizada em 2012, e a de 2013, também sendo paga em 10 parcelas”, disse Picciani.

Vacas

Segundo o Ministério Público Federal, as operações de compra e venda de 160 vacas, efetuadas entre a Agrobilara e a Zi Blue, entre 2012 e 2013, tiveram pagamentos efetuados no período de 25 de maio de 2012 a 6 de janeiro de 2014, no montante de R$ 3,5 milhões. Os procuradores afirmam que o negócio gerou a devolução em espécie de R$ 1 milhão para a Carioca.

Picciani descreveu à Polícia Federal as atividades da Agrobilara O peemedebista afirmou que se trata de uma empresa de participações que “tem como atividade principal, a agropecuária, mas também arrenda imóveis para o plantio de soja e cana, bem como participa de outras empresas como cotistas ou acionistas”.

Segundo Picciani, a Agrobilara possui fazendas e imóveis. Uma das fazenda fica no município de São Félix do Araguaia, em Mato Grosso, e está arrendada para plantio de soja. Outras duas fazendas e uma chácara são em Uberaba, em Minas, onde está o criatório e os animais. A empresa, ainda de acordo com o parlamentar, em uma pequena propriedade na cidade de Veríssimo, em Minas, e uma fazenda pequena, na cidade de Rio das Flores, no Rio. Todos esses imóveis estão em nome da pessoa jurídica Agrobilara, disse Picciani.

O presidente licenciado da Alerj disse à PF que sua fonte de renda é composta por seu salário como deputado estadual, uma aposentadoria, além de pró-labore e distribuição dos lucros da Agrobilara. Picciani disse que não tem “negócios, bens ou contas no exterior”.

À PF, o deputado relatou ter negociado gado com o ex-presidente do Tribunal de Contas do Rio Jonas Lopes. Picciani disse que “entabulou negócio entre Jonas Lopes e a Agrobilara”.

Em delação premiada, Lopes disse que ajustou com Picciani o subfaturamento da operação para comprar gado. A PF o questionou se teria negociado com Jonas Lopes a devolução de parte do valor do negócio em uma transação que envolveu dinheiro em espécie.

O deputado afirmou que “não houve qualquer devolução de valores envolvendo Jonas Lopes e a Agrobilara”. Picciani disse ainda que “nunca” recebeu doação de campanha ou vantagens por parte dos empresários do ramo de transporte. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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