Preso na Operação Timóteo comprou imóvel de R$ 2,7 mi com salário de R$ 11 mil

  • Por Estadão Conteúdo
  • 16/12/2016 12h56
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Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas Dinheiro

Com remuneração líquida de R$ 11 mil no serviço público, o diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Marco Antônio Valadares Moreira, preso na Operação Timóteo, deflagrada pela Polícia Federal nesta sexta-feira (16), comprou um apartamento de R$ 2,7 milhões num dos bairros mais nobres de Brasília. 

A aquisição do imóvel, supostamente em valor incompatível com a renda do servidor, está sendo investigada pela Corregedoria-Geral da União, órgão vinculado ao Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU).

Conforme a escritura do negócio, registrada em novembro do ano passado, o apartamento, no Setor Noroeste, foi adquirido pelo diretor juntamente com a mulher, Lilian Amâncio Valadares Moreira. O documento, obtido pela reportagem, registra que o valor foi integralmente pago em “moeda corrente nacional”.

A CGU, em nota, confirma a investigação sobre Marco Antônio e informou que o caso corre em sigilo. “Em razão de o processo estar em andamento, não é possível fornecer informações acerca de seu conteúdo.”

Moreira comanda a Diretoria de Procedimentos Arrecadatórios, responsável por gerenciar as receitas do DNPM. O setor cobra e distribui as cotas-partes da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), o chamado royalty da mineração, a Estados e municípios. Este ano, a arrecadação já alcança R$ 1,6 bilhão.

A PF sustenta que Moreira, detentor de informações privilegiadas a respeito de dívidas de royalties, oferecia os serviços de dois escritórios de advocacia e de uma empresa de consultoria, que pertence a Lilian, a municípios com créditos de CFEM junto a empresas de exploração mineral.

A pedido dos investigadores, a Justiça Federal em Brasília determinou o sequestro de bens do casal. Os inquéritos em curso apontam que eles podem ter recebido R$ 7 milhões por meio do suposto esquema ilegal. 

A PF alega que o núcleo captador da organização, supostamente formado por Moreira e sua esposa, cooptava prefeitos interessados em ingressar no esquema. O núcleo operacional, que seria composto por escritórios de advocacia e uma empresa de consultoria em nome da esposa do diretor, repassava valores indevidos a agentes públicos. 

Segundo registros da Receita Federal obtidos pela reportagem, Lilian é sócia da LCM Consultoria Financeira Especializada em Municípios. A suspeita de que a empresa “presta serviços” a prefeituras que recebem royalties da mineração, num possível caso de conflito de interesse, foi alvo de uma investigação interna da Corregedoria do DNPM, mas arquivada, conforme o órgão informou.

Procurado pela reportagem, Moreira disse que o imóvel foi adquirido há três anos, de forma parcelada. “Tenho uma herança que me foi disponibilizada pela família. Usei a minha herança e a senhora Lilian usou recursos dela”, justificou.

O diretor disse que deu todas as explicações solicitadas pela CGU. Ele explicou que a empresa de Lilian não opera mais e nunca pediu nada no setor comandado por ele no DNPM. ” (Ela) Já não existe há muito tempo.” Nos registros da Receita, no entanto, a LCM, aberta em março de 2008, ainda consta como ativa.

O diretor disse que parte dos recursos usados para adquirir o imóvel é fruto do trabalho de Lilian. Uma outra parte, acrescentou, é fruto de “um acordo que ela fez com outras pessoas”. “Não sei te dizer o que seria (o acordo)”, comentou.

A Ouvidoria do DNPM enviou à reportagem lista de oito bens, entre lotes, apartamentos e um carro, que teriam sido vendidos pelo diretor a partir de 2011 e que, supostamente, geraram capital para a compra do apartamento de R$ 2,7 milhões.

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