Romaria na pandemia: ‘Foram muitas as tribulações, mas nunca pensei em desistir’, diz devoto

Percorrendo o ‘Caminho da Fé’ pela primeira vez, o autônomo Robson Dias conta como foi sua experiência de caminhar 230 km em cinco dias

  • Por Flavia Matos
  • 12/10/2020 17h52
Arquivo Pessoal Robson Dias (à direita) e mais dois romeiros durante a caminhada pela fé

No dia 12 de outubro é comemorado o Dia da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida e, por ser feriado, o Santuário Nacional localizado no município de Aparecida, em São Paulo, costuma receber muitos fiéis nesta data. Apesar das restrições impostas pela pandemia de Covid-19, alguns romeiros se arriscaram na caminhada pela fé e percorreram longas distâncias. Foi o caso de Robson Dias, autônomo, morador da zona sul da capital, que fez sua primeira romaria à pé até a Basílica, percorrendo 230km em cinco dias.

Em entrevista à Jovem Pan, o romeiro explicou que sempre teve vontade de fazer o trajeto e, junto com amigos, decidiu dar o primeiro passo. “Procurei um sacerdote para conversar, fui informado que teria que ter um propósito, entrei em oração e Deus me mostrou. Então comecei a treinar com caminhadas diárias”, disse Robson. Ele e um grupo de 69 pessoas saíram da Praça da Sé na quarta-feira, dia 7, e fizeram o trajeto pela Via Dutra, chegando ao destino na manhã desta segunda-feira, 12. O grupo teve o apoio de dois caminhões e uma van para suporte.

“A experiência é maravilhosa, você se entrega em oração para Deus e as coisas vão acontecendo. A romaria é separada em três cores (bastões). Quem está mais disposto vai na primeira elite, o verde; a segunda é a amarela para quem caminha sem tanta rapidez e a última é a vermelha, para quem está mais debilitado. Nós vamos conversando com os pelotões”, explicou. Robson ficou no primeiro grupo e, como chegava cedo nas paradas, conseguia descansar um pouco mais até a chegada do último pelotão. Café da manhã, almoço e janta é fornecido pela equipe de apoio, mas nem tudo é fácil.

“Se vai encontrar um banho só Deus que sabe, é por providência divina mesmo. Tribulações foram várias, mas em nenhum momento pensei em desistir. Nesses momentos entrava em oração”, contou. A parte mais difícil do trajeto para ele foi a forte chuva que caiu no estado na sexta-feira (9). “Foi uma parte difícil. Estava molhado, com frio e no pior percurso da rodovia”, disse. As paradas, segundo ele, foram de muita ajuda. “Mesmo com a pandemia tinha bastante peregrino. Achamos que não teria muita assistência, mas muitas pessoas se doaram e ficaram na estrada doando água, frutas, pão ou só palavras de incentivo”, comentou.

Aparecida do Norte na pandemia

Grupo da igreja Nossa Senhora das Dores, no Grajaú, no qual Robson fez parte

Desde que foi decretado a pandemia da Covid-19 e o estado de São Paulo entrou em fase de restrições de circulação e eventos, as missas na Basílica de Nossa Senhora Aparecida foram suspensas ao público e eram transmitidas pela TV Aparecida. No último mês os devotos puderam voltar, mas com distanciamento e máscara. Na festa mais tradicional do Santuário, houve apenas uma missa para mil fiéis, com assentos bloqueados para manter o distanciamento social. Robson não conseguiu assistir à celebração. “Para ver a imagem tinha que pegar uma fila quilométrica que entravam só 50 em 50 pessoas, todos com máscara e usando álcool em gel”, comentou. Perguntado se indicaria a romaria a outras pessoas, ele respondeu. “Claro, é um retiro espiritual, só você e Deus, mas é importante fazer exames e treinar muito”.

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