Caiado diz que ‘caiu a ficha’ com Bolsonaro e questiona falta de autonomia de Mandetta
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), afirma que o presidente Jair Bolsonaro deveria dar ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a mesma autonomia que tem o ministro da Economia, Paulo Guedes, e desativar o chamado “gabinete do ódio”, que o orientou a minimizar a pandemia do novo coronavírus.
Caiado conversou com o jornal O Estado de S. Paulo um dia após romper com Bolsonaro.
Por que romper com Bolsonaro?
Caiu a ficha. Ele jamais poderia ter vulgarizado a gravidade do coronavírus. Jamais. Eu sempre fui um aliado, nunca fui submisso. Ele se enganou, achou que eu pudesse estar incluído naqueles que estão para cumprir ordens. Eu não estou para cumprir ordens, sou homem para discutir e apoiar posições. Nos assuntos da Saúde, as ações do presidente não atingem o meu Estado.
Então, o senhor agora é oposição?
Tratarei com o presidente na formalidade, no protocolo a partir de agora. Eu vou tratar como fui tratado. Aliado é aquele que você pega o telefone e diz ‘meu amigo, vem cá, corre aqui que vamos decidir, as coisas precisam ser resolvidas agora e tal’. Todos nós entendemos a sobrecarga, mas não a desconsideração.
Há desconsideração com o ministro da Saúde? Mandetta sofre esvaziamento durante uma crise que está sob a responsabilidade dele?
Toda entrevista da área econômica tem aquela máxima: ‘Chama o Paulo Guedes, ele que vai entender e achar a saída, solucionar’. Tudo é o Paulo Guedes. Por que tudo na área econômica é o Paulo Guedes e o Mandetta não é o que fala na área da Saúde? Ele tem o melhor cara, preparado, tem independência intelectual e credibilidade no meio médico, sabe o que se deve fazer num momento como esse. O governo é uma constelação. Só pode dar certo se todo mundo puder brilhar em sua pasta. Agora, se só a estrela do presidente puder brilhar aí você não governa. Nesse momento todos devemos seguir o que o ministro Mandetta com seus quadros técnicos do ministério definir o que é o melhor caminho. Quando se trata de saúde pública, a decisão não é impetuosa, eleitoral. Ela é uma decisão embasada em dados que no decorrer do tempo você vai poder mostrar para pessoas que estava certo, mesmo discordando de você. É isso que o presidente não poderia ter perdido nesse momento.
O Mandetta arrisca a biografia médica dele ao permanecer no governo?
Médico só sobrevive na profissão se na hora que o doente complica ele não bate em retirada. Isso para nós é mandamento número um. O Mandetta não vai sair do Ministério da Saúde. Ele só sai se for demitido ou se contrair o coronavírus e não tiver condições clínicas de estar à frente do ministério. Nesse ponto ele está correto, eu respaldo a atitude dele.
Bolsonaro deve se afastar do ‘gabinete do ódio’?
Esse gabinete sequer deveria existir. E se ainda tem, deveria ser desativado. Todo cidadão que se comporta com ódio passa a ser escravo de quem odeia. As pessoas que me odeiam eu quero alforriá-las.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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