Serra rompeu com alinhamento ideológico, dizem especialistas

  • Por Estadão Conteúdo
  • 08/03/2017 09h02
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Brasília - Entrevista do ministro de estado das Relações Exteriores, José Serra (Wilson Dias/Agência Brasil) Wilson Dias/Agência Brasil José Serra - ABR

Os nove meses de José Serra à frente do Itamaraty foram marcados pelo rompimento do alinhamento ideológico com os chamados “bolivarianos” e pela recolocação do Ministério das Relações Exteriores no centro da formulação da política externa, segundo avaliação de especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo.

“Ele corrigiu os rumos do governo anterior em relação ao Mercosul, particularmente pela incorporação artificial da Venezuela e o tratamento ríspido ao Paraguai”, disse o embaixador José Botafogo Gonçalves, vice-presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Durante a gestão de Serra na pasta, a Venezuela foi suspensa do bloco.

Serra entregou nesta terça-feira (7), o cargo ao senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), após pedir demissão no último dia 22, alegando problemas de saúde. O ex-ministro foi submetido a uma cirurgia na coluna em dezembro e afirmou que não tinha condições de cumprir a agenda de viagens como chanceler.

Embora o Mercosul tenha começado a sair da “paralisia” – sobretudo nos temas da área comercial – na gestão do tucano, Botafogo Gonçalves afirmou que ainda há muito a avançar. Para o embaixador, o Mercosul deveria revisar “profundamente” seus objetivos. Segundo ele, o grupo deveria ser uma aliança de países que se complementam para “conquistar o mundo”, principalmente na área de agronegócio, infraestrutura e energia. “Isso o Serra não fez, seja por motivos de saúde, seja porque não teve tempo”, disse o embaixador.

Aloysio Nunes, que assumiu o Itamaraty nesta terça, viaja nesta quarta-feira, 8, para a Argentina. Participará de uma reunião do Mercosul, bloco econômico ao qual prometeu dar “nova vida”.

Estrutura

Outra mudança que promete render frutos é o reforço da área de comércio exterior na pasta. A incorporação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) pode ser considerada “histórica”, conforme avaliou o ex-secretário da Câmara de Comércio Exterior (Camex) Roberto Giannetti da Fonseca, da consultoria Kaduna. Só no ano passado, foram realizadas 400 missões empresariais a diversos países.

Por outro lado, o presidente Michel Temer desistiu de uma mudança que havia feito na estrutura do Itamaraty para fortalecer seu braço de comércio exterior. A secretaria executiva da Camex, levada para a pasta por Serra, voltou para o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviço (MDIC).

No tempo em que esteve no Itamaraty, a Camex buscou retomar seu papel de formulador de estratégia para a inserção do Brasil no comércio mundial.

Outra iniciativa que deve marcar a gestão do tucano é a criação do “grupo China”, que coordena os diversos ministérios que mantêm diálogo com o parceiro, em áreas como exportação de alimentos e investimentos em infraestrutura.

O fortalecimento do diálogo com a China e outros parceiros como EUA, Europa e Japão foi uma das diretrizes do tucano, segundo especialistas. Sob Serra, a pasta obteve R$ 3 bilhões para pagar dívidas do País com organismos internacionais. 

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