“Tenho de arrumar um dinheiro para o Ítalo”, diz Vaccarezza em mensagem

  • Por Estadão Conteúdo
  • 22/10/2017 11h23
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Saulo Cruz/Agência Câmara Saulo Cruz/Agência Câmara Ex-deputado Cândido Vaccarezza foi preso na Operação Abate, mas alegou problemas de saúde e foi soltou por Moro

A Polícia Federal analisou telefones celulares apreendidos na casa do ex-deputado Cândido Vaccarezza (ex-PT-SP), na Mooca, em São Paulo. Chamou a atenção da PF mensagens trocadas pelo ex-parlamentar com interlocutores sobre um suposto pagamento de dívida que deveria ser feito por Cândido Vaccarezza a Ítalo Cardoso.

O ex-parlamentar foi preso temporariamente em São Paulo na Operação Abate, desdobramento da Lava Jato, em 18 de agosto. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal queriam a conversão da custódia temporária em preventiva, mas Moro soltou o ex-deputado por causa de problemas de saúde de Vaccarezza.

Na análise dos celulares, a PF destrinchou meses de diálogos travados entre Vaccarezza e Ítalo Cardoso. Os contatos começam em 19 de abril e vão até 29 de junho. O assunto central é a suposta dívida do ex-parlamentar.

Segundo a Federal, durante este período, Vaccarezza e Ítalo chegaram a marcar encontros. Um deles teria sido ‘em frente ao Tribunal de Contas’.

O relatório da PF destaca um trecho da conversa com Ítalo no qual o ex-deputado afirma que ‘aquele problema’ seria resolvido por ‘intermediários’. De acordo com a PF, o problema de Vaccarezza era falta de dinheiro.

Às 15h54, de 19 de abril, Ítalo afirmou a Vaccarezza. “Boa tarde, Vaccarezza, conforme o combinado, aguardo seu contato. Ítalo.”

Vaccarezza respondeu em 24 de abril, às 9h16. “De hoje não passa Como te disse. Você tem razão de me esculhambar. Eu não queria assim, mas não tive como resolver. Me redimirei no futuro.”

Em 22 de maio, às 12h49, o ex-deputado afirmou. “19:00 irei ao teu encontro.”

“No escritório”, escreveu Ítalo.

“Estou aguardando. A pessoa que combinei. Assim que resolvi aqui ligo”, disse Vaccarezza. “Abs. Será hoje.”

Na noite daquele dia, Ítalo quis saber se Vaccarezza ia ao escritório no dia seguinte.

Vaccarezza avisa ao interlocutor que mandaria “alguém te entregar”. “Estou de plantão e sairei do plantão para Brasília, fui chamado lá por um amigo. Fui chamado por um amigo, não por inimigos. Já estou de plantão, mas sairei para resolver nosso assunto.”

Em 23 de maio, Ítalo insiste. “Bom dia, eu preciso de certeza. Tenho compromissos!”

“Estou atendendo agora. Na hora do almoço sairei e mandarei para você. Abs”, afirmou Vaccarezza.

Dois dias depois, o ex-deputado escreveu. “Estou em Brasília. Acho que aquele problema que eu estou sempre em falta será resolvido pelos meus intermediários podemos ir direto nós dois lá. Lá podemos ir sem agendar. Acho que lá deveremos ir nós dois e depois você como advogado pode ir com eles.”

Ítalo concorda. “Para mim esse é o caminho. Podemos agendar então para a segunda as 16h30?”

Vaccarezza confirma. “Combinado te encontro na Brigadeiro.”

Em 28 de abril, o ex-deputado escreve mensagens em sequência. “Confirmado. Segunda-feira, 12:00hs. Av Padre Arlindo Vieira, 3375. Coloca meu celular na agenda para qualquer problema. Vamo-nos encontrar na porta.”

“Desculpe vamos-nos encontrar às 15h na frente do Tribunal. Escrevi o endereço errado. Segunda 15:00 na frente do Tribunal de Contas.”

No dia seguinte, Vaccarezza escreve. “Meu amigo, Liguei e você não atendeu. Você tem motivos, mas vou resolver. Naquela segunda fiquei esperando o cara, que me deve, até as 20, depois embarquei para Brasília. Um dia vou te recompensar. Vou resolver esta semana. Lá no Tribunal será às 16:00 então vamos chegar 15h45.”

A PF destacou outras mensagens trocadas por Vaccarezza e Ítalo. Em 6 de junho, o ex-deputado escreve novamente ao interlocutor.

“Estou indo para Brasília, mas estou tentando resolver. Aguente o pouco que o momento é muito difícil. Não tem sacanagem da minha parte. Cada dia levantando tentando resolver mas não tá fácil. Eu dei um salto maior que as pernas e me ferrei mas vou resolver. Se tiver solução hoje João te procurará. Juro.”

Dois dias depois, o ex-deputado volta a marcar um encontro. “Amanhã 10:30 no tribunal. Estou tentando resolver minha dívida e não me queira mal, acredite não é sacanagem. Abs.”

Ítalo afirma. “Te quero bem, e sei que não é sacanagem. Abraço.”

Cândido Vaccarezza diz. “Vamos superar esta situação em breve. Estou com pé no céu outro no inferno, só que vou firmar o pé do céu e lá entrarei.”

No dia 21 de junho, Ítalo insiste com o ex-deputado. “Vaccarezza, estou precisando do dinheiro. A minha reserva acabou e só tenho expectativa de entrada daqui a 2 meses.”

“Amanhã a tardezinha. Falamos às 15. Sei que você tolerou demais Como te disse não foi sacanagem”, escreve o ex-parlamentar.

Entre 23 e 28 de junho, Ítalo manda quatro mensagens em sequência. “Infelizmente ainda não foi hoje.”

“5?”, escreveu em 24 de junho. “É isso?”

“Ou melhor, 4.900.”

Vaccarezza promete. “Te entregarei 20 amanhã. Estou numa reunião, não posso falar agora. Abs”

Em um dos diálogos, de 21 de junho de 2017, Vaccarezza conversa com ‘João Lima’. A PF suspeita que seja um assessor do ex-deputado.

“Consta em um dos trechos a seguinte frase redigida supostamente por Cândido Vaccarezza: ‘Vaccarezza, estou precisando do dinheiro. A minha reserva acabou e só tenho expectativa de entrada daqui a 2 meses’, em resposta João Lima escreve: “TB estou. Ninguém quer emprestar , tá difícil””, aponta o relatório da PF.

“Na sequência Vaccarezza informa que teria que arrumar um dinheiro para a pessoa de Ítalo, conforme segue: “Tenho de arrumar um dinheiro para Ítalo amanhã de qualquer jeito” e João Lima responde que não teria conseguido.”

A reportagem procurou a defesa de Cândido Vaccarezza, mas até o momento da divulgação do texto ainda não havia obtido resposta.

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