Traição e decepção são as palavras de ordem no Palácio da Alvorada
Apesar de esperadas, na lista das traições que irritaram bastante a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros do Planalto estão as dos ex-ministros da Aviação Civil Mauro Lopes (PMDB-MG) e dos Transportes Alfredo Nascimento (PR-AM).
Mas surpresa mesmo veio com um deputado do Ceará que esteve ainda na tarde deste domingo, 17, no Palácio da Alvorada com a presidente Dilma Rousseff e que, depois que saiu de lá, a convite do governador do Estado, Camilo Santana (PT), foi ao plenário da Câmara e votou a favor do impeachment. “Ué, esse cara não passou a tarde toda aqui com a gente e foi lá e votou contra?”, queixou-se, “perplexa”, Dilma. Em relação a Alfredo Nascimento, afastado por Dilma na “faxina” que ela fez no início do seu primeiro mandato, todos entenderam que houve uma “clara vingança”.
Dilma está na Sala dos Estados do Alvorada, ao lado da biblioteca, assistindo pela TV à sessão da Câmara dos Deputados. Neste momento, está acompanhada dos ministros Jaques Wagner, da chefia de Gabinete da Presidência, que estava conferindo o voto dos baianos; de Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo; Kátia Abreu, da Agricultura;, Aldo Rebelo, da Defesa;, José Eduardo Cardozo, da Advocacia-Geral da União; e Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação. Kátia, Aldo e Edinho chegaram há pouco.
“Traição” e “decepção” são as palavras de ordem no Alvorada. Na contabilidade do governo, os deputados Nelson Meurer (PP-PR) e Toninho Wandscheer (PROS-PR), por exemplo, votariam a favor do Planalto, mas acabaram votando contra. Momento de suspense na sala do Alvorada foi na hora de aguardar o voto do deputado Waldir Maranhão, do PP, que tinha primeiro se mostrado a favor do impeachment e, desde sexta-feira, 15, estava sendo comemorado como uma vitória importante para o governo.
Mudanças de votos do PSD também foram reclamadas, como de Marcos Reategui (AP), além de outras do PDT. Apesar de ter sido divulgada, por volta das 21 horas, uma foto do vice-presidente Michel Temer sorrindo enquanto assistia à derrocada de sua companheira de chapa, uma hora depois, os ministros ainda não haviam mostrado para Dilma a imagem. Com o quadro negativo e os votos “sim” andando a galope, todos evitavam apresentar a foto para a presidente.
Apesar de o número inicial de votos contra o impeachment ser de 140, o governo já admitia que não chegaria nem perto deste placar, tamanho o número de traições, seja em votos, seja em ausências que acabaram se tornando presenças. Eram esperadas pelo menos 20 ausências, e, no fim, foram apenas duas.
Dilma, que a princípio pretendia dar uma declaração ao fim da votação, desistiu de fazê-lo e estudava soltar uma nota. Mas, depois de algumas avaliações, estava preferindo deixar que o ministro José Eduardo Cardozo fizesse o papel de porta-voz. O governo estava decidindo se ele já anunciaria, na coletiva que está prevista para ocorrer no Planalto, a entrada de uma nova ação do governo no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o mérito do impeachment.
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