Cabral pediu ações na bolsa de NY para lavar dinheiro, diz Procuradoria

  • Por Estadão Conteúdo
  • 26/01/2017 15h04
BRA01. RÍO DE JANEIRO (BRASIL), 18/11/2016.- Fotografía cedida por la Secretaría de Administración Penitenciaria (SEAP) hoy, 18 de noviembre de 2016, del exgobernador de Río de Janeiro Sergio Cabral, quien fue detenido el jueves, acusado de corrupción por el cobro de comisiones ilegales que, al menos, alcanzan los 66 millones de dólares. Anthony Garotinho y Sergio Cabral, dos de los gobernadores que ha tenido Río de Janeiro en los últimos quince años, amanecieron hoy tras las rejas, tras ser detenidos esta semana por diferentes asuntos de corrupción. EFE/Secretaría de Administración Penitenciaria (SEAP)/SOLO USO EDITORIAL/NO VENTAS/NO ARCHIVO/MÁXIMA CALIDAD DISPONIBLE Secretaria de Administração Penitenciária Ex-governador Sérgio Cabral é fichado na Penitenciária de Bangu

O esquema de corrupção e lavagem de ao menos US$ 100 milhões do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), atualmente preso em Bangu, teria envolvido até a compra de ações da Petrobras, Vale e Ambev na Bolsa de Nova York. As suspeitas foram levantadas pela força-tarefa da Operação Eficiência, desdobramento da Lava Jato no Rio, ao pedir a prisão preventiva do empresário Eike Batista e outros investigados no esquema envolvendo o ex-governador em uma rede de propinas.

É a primeira vez, desde o início da Lava Jato, que os investigadores se deparam com este tipo de transação envolvendo a compra de ações em Bolsa. As empresas não são citadas na investigação. Sobre elas não recai nenhuma suspeita. Uma parte daquele montante, ou US$ 16,5 milhões, teria sido empregada na compra de ações. A propina passou por uma conta de Eike no Panamá e acabou custodiada em favor de Cabral no Uruguai.

“Não foi possível transferir os US$ 16,5 milhões, aí Sérgio Cabral pediu aquisição de ações em Bolsa, ações da Petrobras”, disse o procurador da República Eduardo El Hage. “Acabou adquirindo ações da Ambev, Petrobras e da Vale. Após foi feita a transferência dos valores para a conta no Uruguai.”

Dos US$ 100 milhões identificados pela Operação Eficiência como supostamente transferidos para Sérgio Cabral no exterior, US$ 22 milhões foram ocultos à ordem de dois operadores de propinas do ex-governador – US$ 7 milhões de Carlos Miranda e US$ 15 milhões de Wilson Carlos. “O resto (US$ 78 milhões) de Sérgio Cabral”, disse o procurador El Hage.

Ao detalhar a operação financeira para o pagamento dos US$ 16,5 milhões de propina de a conta de Eike no Panamá para uma conta dos operadores de Cabral no Uruguai, os delatores Marcelo Chebar e Renato Chebar (que são irmãos e receberam a quantia de Eike no exterior) revelaram que, por indicação do então governador, foram adquiridas ações na bolsa de valores que pertenceriam, de fato, a Cabral, apesar de não estarem em seu nome.

Eles chegaram até a apresentar os extratos de compras e vendas de 300 mil ações da Petrobras, 100 mil da Vale e 16 mil da Ambev, entre 2011 e 2012.

Renato Chebar relatou aos investigadores o encontro que teve com o peemedebista no Hotel St. Regis em Nova York, em 2011 onde teria sido discutido o assunto. “Que a indicação para compra das ações se deu em encontro do colaborador (Renato Chebar) com Sérgio Cabral em 2011 na cidade de Nova York; que nessa ocasião o colaborador explicou toda a estrutura financeira da operação, tendo Sérgio Cabral indicado a compra de ações da Petrobras, Vale e Ambev”, afirmou Renato, em sua delação premiada.

O delator entregou um extrato das compras de ações à Procuradoria da República.

Segundo relataram os irmãos Chebar, o então assessor de Cabral, Carlos Miranda, e o então secretário do Rio Wilson Carlos os procuraram em 2010 para que eles viabilizarem o pagamento de propina de US$ 18 milhões de Eike para o peemedebista.

Os delatores não souberam contar o motivo do pagamento, mas detalharam como ele foi estruturado junto a executivos que trabalhavam com Eike, incluindo na época o hoje vice-presidente do Flamengo Flavio Godinho, também preso na Operação Eficiência nesta quinta, 26.

Em um primeiro momento, aponta o Ministério Público Federal, para dar aparência de legalidade à operação foi realizado em 2011 um contrato de fachada entre a empresa Centennial Asset Mining Fuind Llc, holding de Eike, e a empresa Arcadia Associados, dos irmãos Chebar, referente a uma falsa intermediação na compra e venda de uma mina de ouro de R$ 1,2 bilhão.

Os irmãos, contudo, tiveram dificuldade em abrir contas no TAG Bank, no Panamá, onde Eike mantinha a offshore Golden Rock, subsidiária da Centennial, e acabaram abrindo uma conta no banco Winterbotham, no Uruguai.

“Que como houve problemas na abertura da conta no TAG Bank e atrasos no Winterbotham, foi acertado que a Golden Rock adquiriria ações em bolsa nos Estados Unidos, conforme orientação de Sérgio Cabral”, contou Renato Chebar em sua delação, sem especificar quem teria adquirido as ações pela Golden.

Seu irmão e também delator Marcelo Chebar corroborou a versão. “Que não sabe dizer quem comprou as citadas ações, mas as mesmas foram transferidas para a conta da Arcadia no Winterbotham no Uruguai”, relatou.

Diante dos indícios, a força-tarefa chamou Eike para depor, mas o empresário afirmou jamais ter pago propina a Sérgio Cabral. Com isso, os procuradores solicitaram ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal no Rio, decreto de prisão de Eike e de outros suspeitos, além de realizar buscas e aprofundar nas investigações sobre o esquema de Cabral, o que foi autorizado e deu origem à Operação Eficiência.

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