Chefe de missão da ONU na RCA renuncia por abusos cometidos por boinas azuis
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Nações Unidas, 12 ago (EFE).- O chefe da missão da ONU na República Centro-Africana (RCA), Babacar Gaye, renunciou nesta quarta-feira a pedido do secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, após os últimos casos de abusos cometidos pelos “boinas azuis”.
Ban, em entrevista coletiva, disse que aceitou a renúncia de Gaye e anunciou que convocou uma reunião com todos os responsáveis de operações de paz para abordar o problema dos assédios sexuais e outros crimes cometidos por uniformizados que operam sob a bandeira das Nações Unidas.
A decisão ocorre depois que na terça-feira a Anistia Internacional (AI) pediu à ONU que investigue o abuso contra uma menor de 12 anos e o suposto assassinato “indiscriminado” de um adolescente de 16 anos e de seu pai por “boinas azuis” desdobrados na República Centro-Africana.
“Não tenho palavras: angustiado, zangado e envergonhado. É assim me sinto pelas repetidas informações ao longo dos anos de exploração e abusos sexuais por parte de forças da ONU”, disse Ban aos jornalistas.
O secretário-geral ressaltou que não tolerará nenhum ato deste tipo e defendeu que todos aqueles que trabalham para as Nações Unidas devem fazer respeitando os ideais defendidos pela organização.
“As vergonhosas e indecentes ações de alguns poucos mancham o heroico trabalho de dezenas de milhares de forças de paz e pessoal da ONU”, lamentou.
Ban insistiu que toda denúncia deve ser investigada a fundo e disse, além disso, que espera receber em breve as conclusões da comissão independente iniciada para estudar os supostos abusos sexuais cometidos na República Centro-Africana.
“Acredito que o alarmante número de acusações que vimos em muitos países, mas particularmente na República Centro-Africana no período anterior ao desdobramento das forças de paz da ONU e desde então, falam sobre a necessidade de atuar já”, afirmou.
As últimas acusações reveladas pelo AI se somaram a outros abusos anteriores cometidos supostamente por forças internacionais, algumas desdobradas sob bandeira das Nações Unidas.
As tropas estrangeiras, lideradas pela França, chegaram à República Centro-Africana para aplacar a guerra civil do país em 2013, com milhares de mortos, meses depois do golpe de Estado de março desse ano e pelo qual foi derrubado o presidente François Bozizé.
As repetidas acusações terminaram por forçar a renúncia do chefe da missão da ONU (MINUSCA), que foi solicitada por Ban, segundo reconheceu o próprio diplomata sul-coreano.
O secretário-geral quis deixar claro, em todo caso, que o problema vai além de “um conflito ou uma pessoa”.
“A exploração e os abusos sexuais são uma praga global e um problema sistêmico que necessita de uma resposta sistêmica”, garantiu.
Por isso, além de reunir todos os chefes de missão, comandantes militares e responsáveis policiais que trabalham nas operações da ONU, Ban solicitou que seja realizada amanhã uma sessão especial do Conselho de Segurança para abordar o problema.
Ban disse que quer que os líderes de todo o mundo saibam que são responsáveis pelo o que suas tropas, policiais e civis fazem e que devem assegurar que todo esse pessoal recebe uma adequada formação em matéria de direitos humanos.
Além disso, Ban insistiu que a ONU fará todo o possível para que os supostos criminosos -que no caso dos militares são repatriados e respondem sob as leis de seus próprios países- sejam levados perante a Justiça.
“Às vítimas digo que estamos com elas. Por favor, denunciem. Por favor, sintam-se seguros sabendo que faremos tudo o que pudermos para responder a estes intoleráveis crimes”, disse. EFE
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