Clonagem da ovelha Dolly completa 20 anos

  • Por Estadão Conteúdo
  • 05/07/2016 08h07
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Wikimedia Commons Ovelha Dolly embalsamada no Museu Real da Escócia

Há 20 anos, em 5 de julho de 1996, nascia a ovelha Dolly, o primeiro animal clonado a partir de uma célula adulta. A façanha, obtida por cientistas do Instituto Roslin, em Edimburgo (Escócia), alvoroçou a opinião pública e surpreendeu até a comunidade científica mundial. Hoje, o legado deixado pela ovelha mais famosa do mundo para a ciência é enorme, mas os caminhos que levaram a esses novos avanços são bem diferentes do que se imaginava.

“O legado é muito importante. Não é à toa que houve uma repercussão muito grande naquela época. Foi a primeira vez que se clonou um animal, a partir de uma célula adulta de um animal adulto. Esse feito abriu oportunidades no campo das células-tronco que, há 20 anos, nem poderiam ser imaginadas”, diz José Eduardo Krieger, professor da Faculdade de Medicina e pró-reitor de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo ele, um dos principais avanços produzidos com base na clonagem de Dolly veio mais de uma década após o nascimento da ovelha: o desenvolvimento das células-tronco pluripotentes induzidas (IPS, na sigla em inglês). Criada em 2007, a técnica IPS permite reprogramar células adultas de um tecido e transformá-las em células-tronco pluripotentes, que podem diferenciar-se em qualquer outro tipo de tecido.

A descoberta rendeu o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina ao pesquisador japonês Shinya Yamanaka, em 2012. “O desenvolvimento do IPS, que veio na linha da clonagem da ovelha Dolly, não apenas possibilitou uma série de novas terapias, mas também impulsionou o conhecimento, permitindo que os cientistas estudem as várias fases do desenvolvimento das células e façam estudos de doenças a partir de tecidos humanos clonados.”

De acordo com Lygia da Veiga Pereira, pesquisadora do Instituto de Biociências da USP, a ovelha Dolly continua sendo um marco. “Abriu as portas para a reprogramação celular. Até ali, nós achávamos que a definição de identidade de uma célula era um processo irreversível. Com a Dolly ficou demonstrado que em mamíferos era possível uma célula reprogramar seu núcleo e regredir até o estágio embrionário. Dez anos depois, isso deu origem às células IPS, que revolucionaram a área de medicina regenerativa.”

O biólogo Renato Aguiar, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que essa clonagem foi uma importante prova de conceito. “No momento em que se demonstrou que era possível gerar um embrião a partir de um clone, foram abertas muitas portas para a pesquisa. Depois daquilo, tivemos muitos outros desdobramentos importantes e hoje, usando técnicas como IPS, não é mais preciso gerar um embrião inteiro para fazer a clonagem”, afirma Aguiar.

Segundo o biólogo, o desenvolvimento das técnicas de clonagem possibilitou inúmeras terapias. “Estão sendo desenvolvidas, por exemplo, terapias para o câncer, nas quais teoricamente consegue-se reprogramar células dos indivíduos para que elas combatam um tumor dependente do sistema imunológico. É possível também usar o transplante autólogo, isto é, com células do próprio indivíduo, para regenerar tecidos do sistema nervoso. Isso tem amplas aplicações em terapias para doenças degenerativas.”

Humanos

Aguiar explica que os temores levantados pela possibilidade de se clonar humanos foram aos poucos eliminados. “Cada vez mais a ciência deixou de manipular indivíduos, embriões, para manipular apenas células. Todas essas questões que envolvem vida têm apelo social e psicológico muito grande e os cientistas se sensibilizaram com isso. A comoção foi importante naquele momento.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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