Com as novas opções de transporte, carro e táxi perdem competitividade

  • Por Estadão Conteúdo
  • 20/06/2016 12h09
São Paulo- SP- Brasil- 18/09/2015- Sinalização de placas de trânsito informam a nova velocidade máxima (50 km/h), na avenida São Joaquim, no bairro da Liberdade, na altura da estação São Joaquim do metrô. Foto: Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas Oswaldo Corneti / Fotos Públicas VUC

Em São Paulo, uma metrópole de transporte público limitado, horas perdidas no trânsito e carros populares que custam R$ 40 mil, o veículo particular cada vez mais perde a característica de propriedade para se tornar um serviço. Uma calculadora desenvolvida pelo DataCustos e Zilveti Advogados, a pedido do jornal O Estado de S. Paulo, confirma essa tendência. Os números mostram os novos sistemas de transporte como uma opção econômica para quem pretende vender o veículo e morar perto do trabalho.

Na ferramenta, disponível no site do jornal, foram estimados os custos por quilômetro para carro, moto, táxi, Uber, bicicleta e transporte público. Em um percurso de 10 quilômetros por dia, as despesas  de um carro popular (Gol) fica empatada com as de um táxi na bandeira 1 em R$ 40. Já o UberX, modalidade de veículos compactos da empresa, é cerca de 30% mais barato. Na versão compartilhada, chamada de UberPool, o custo cai ainda mais, despecando para R$ 19,90.

“Carro não é investimento. Em termos econômicos, quem compra só perde dinheiro”, diz Nelson Beltrame, sócio diretor do DataCustos e autor da pesquisa. 

O levantamento leva em consideração diversos custeios para estimar o preço por quilômetro do automóvel particular, como depreciação, manutenção (pneus, óleo, filtro de óleo, filtro de ar e filtro de combustível), seguro, seguro obrigatório, IPVA e combustível. Beltrame explica que, quanto menos o carro é usado, maior é a parcela dos custos fixos por quilômetro. Por isso, para quem anda pouco, ter um carro é um péssimo negócio. 

Para o veículo valer a pena em relação ao UberPool, é preciso rodar ao menos 24 km por dia. Mas, considerando o preço inicial do carro, o gasto para mantê-lo e o tempo perdido no trânsito, o educador financeiro Rafael Seabra recomenda a venda, “uma opção para economizar é organizar caronas com colegas e, em alguns casos, até morar próximo do trabalho, ” alternar o carro compartilhado com o transporte público, cuja oferta é maior no centro expandido, também é uma opção.

No ano passado, segundo pesquisa da Rede Nossa São Paulo, a percepção em relação ao trânsito piorou e mais paulistanos disseram que iriam para outra cidade, se pudessem.

“Mais do que uma questão de custo de vida, é uma questão de horas de vida”, diz a coordenadora do curso de economia criativa e cidades criativas do Programa de Educação Continuada da FGV, Ana Carla Fonseca. 

Alternativas

A produtora de locação Isabella Alves, de 24 anos, uniu a falta de vontade de dirigir no trânsito caótico de São Paulo ao baixo preço do Uber e colocou seu carro à venda, “como moro em um bairro central, boa parte das empresas e locais de filmagem que vou são próximos da minha casa. Muitas vezes, a corrida não chega nem a R$ 10”, diz Isabella, que calcula rodar por volta de 10 quilômetros diariamente.

O advogado tributarista e também autor do estudo Fernando Zilvetti, questiona, no entanto, a falta de equilíbrio competitivo no mercado, a principal questão de conflito entre Uber e taxistas. Segundo Zilvetti, o aumento da concorrência é positivo, mas também depende de igualdade tributária para crescer e oferecer preços sem distorções. 

Sem isso, é difícil afirmar que os baixos valores do Uber, por exemplo, serão sustentáveis. A regulamentação definida pela Prefeitura de São Paulo prevê pagamento de créditos de R$ 0,10 para cada mil metros rodado.

A própria Prefeitura tem tomado ações para incentivar o uso do carro compartilhado e a intermodalidade. Segundo Ciro Biderman, diretor de inovação da São Paulo Negócios, já está sendo discutida a ideia de um Bilhete Único que integre vários modais, incluindo os compartilhados, “já imaginou você sair de casa pela manhã, pegar uma bicicleta com seu Bilhete Único, depois um ônibus e voltar de Uber?” 

Além disso, uma resolução liberou um “bônus” para as empresas de compartilhamento, para cada quilômetro percorrido, é descontado 1 quilômetro do limite que as empresas têm para operar.

Apesar da vantagem do preço, dividir um carro com um desconhecido ainda esbarra em barreiras comportamentais. Reticente no início, a produtora Isabella decidiu lutar contra a timidez e, atualmente, é usuária do serviço, “é impressionante ver quantas pessoas estão se movendo exatamente para o mesmo lugar ao mesmo tempo”, analisou.

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