Conquistas e decepções marcaram reunificação da Alemanha após a queda do Muro
Rodrigo Zuleta.
Berlim, 5 nov (EFE).- A queda do Muro de Berlim foi um marco decisivo na reunificação da Alemanha, ao que se seguiu um longo processo de equiparação das condições de vida no leste e no oeste do país que ainda não terminou e no qual houve tanto conquistas como decepções.
Os avanços quase podem ser apalpados com as mãos por aqueles que estiveram na extinta República Democrática Alemã (RDA) em 1989 e que voltaram a percorrer agora esse território.
No entanto, em muitos cidadãos do leste persiste um vago sentimento de decepção, em parte devido a que a situação no oeste continua sendo claramente melhor.
Uma análise do Instituto de Estudos Econômicos de Berlim (DIW), por ocasião dos 25 anos da queda do Muro, chega à conclusão que, do ponto de vista econômico, a reunificação foi um êxito, apesar de persistirem diferenças.
Atualmente o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do leste é de 71% com relação ao do oeste, a produtividade 79%, e as receitas disponíveis 83%.
Em 1990 a produtividade do leste era um terço da ocidental, e o PIB per capita menos da metade.
Na riqueza é onde persistem diferenças maiores, já que o patrimônio que possuem os moradores do leste da Alemanha equivale a 44% do dos alemães ocidentais.
Isso implica que, enquanto cada alemão ocidental tem, em média, um patrimônio de 153 mil euros, os alemães do leste dispõem de 67.400 euros por cidadão.
Isso apesar de o patrimônio dos alemães do leste registrar um crescimento de 75% desde a reunificação, selada com o Tratado de Unidade, em outubro de 1990.
O verdadeiro problema, segundo o estudo, não foi o desenvolvimento, “mas as expectativas pouco realistas de que em breve surgiriam paisagens florescentes”.
Com essa frase se lembra no relatório o discurso pronunciado pelo chanceler da unidade, Helmut Kohl, em 1º de julho de 1990, por ocasião da união monetária e econômica entre a República Federal da Alemanha e a RDA.
“Com o esforço comum em breve conseguiremos que Mecklenburgo-Pomerânia, Saxônia-Anhalt, Brandemburgo, Saxônia e Turíngia (as regiões do leste) sejam paisagens florescentes nas quais vale a pena viver e trabalhar”, disse Kohl.
O que veio no curto prazo, no entanto, foi algo diferente; a perda de produtividade drástica do leste da Alemanha trouxe consigo o fechamento de empresas e um aumento do desemprego, com o que os cidadãos da antiga RDA se viram confrontados a uma experiência que desconheciam.
Em 1991 a taxa de desemprego no leste era de 10,2%, contra 6,2% do oeste. Em 2005 no leste o desemprego tinha disparado até 20,6%, enquanto no oeste o número se situava em 11%.
Mais tarde, em parte pelos efeitos das reformas da chamada Agenda 2010 iniciada pelo governo de Gerhard Schröder, o desemprego começou a diminuir até situar-se, segundo os últimos dados de setembro, em 5,8% no oeste e em 9,1% no leste.
Em todo caso, a situação inicial produziu uma onda migratória do leste rumo ao oeste e os que saíam eram precisamente os mais jovens e melhor preparados. Entre 1989 e 1997 o leste da Alemanha perdeu com isso um milhão de habitantes, embora as migrações internas tenham se reduzido desde então e em 2013 houve inclusive um saldo neutro.
O problema do desemprego em massa foi combatido com grandes transferências financeiras e prestações sociais que aliviaram as necessidades dos cidadãos do leste do ponto de vista econômico.
Segundo um estudo da Universidade Livre de Berlim, a reunificação custou até o momento cerca de 2 trilhões de euros, quantia que inclui essas transferências, os diversos programas de incentivos econômicos, os projetos e transferências para equilibrar o nível de vida de todos os estados federados e as subvenções europeias.
Não foi possível evitar, no entanto, que muitos cidadãos do leste tivessem a sensação que sua experiência e suas capacidades já não eram apreciadas na nova sociedade na qual tinham desembarcado.
Nasceu assim o fenômeno denominado “ostalgie” – neologismo que mistura as palavras “öst” (leste) e nostalgia -, marcado pela idealização de alguns aspectos da vida na RDA.
Embora esse sentimento pareça estar cada vez mais fora de moda, segue presente em parte da população, enquanto as conquistas já são consideradas algo óbvio que não vale a pena comemorar. EFE
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