Contradições e fios soltos se multiplicam na investigação da morte de Nisman
Buenos Aires, 22 jan (EFE).- As contradições e fios soltos nas explicações sobre a morte do promotor argentino Alberto Nisman se multiplicaram com a passagem das horas no quarto dia de uma investigação judicial que avança com mais sombras do que certezas.
Horas depois de Nisman ser encontrado morto em casa com um tiro na cabeça, a Secretaria de Segurança argentina emitiu um comunicado que afirmava que a porta do apartamento do promotor estava fechada com chave por dentro quando foi achado.
No entanto, o chaveiro que foi na segunda até o local a pedido da mãe do promotor, Sara Garfunkel, informou que não abriu a porta principal, como se pensava até o momento, mas a porta de serviço, que não estava trancada com chave e podia ser aberta com facilidade “por qualquer um”.
A promotora que investiga o caso, Viviana Fein, declarou hoje que, segundo Garfunkel, a porta de serviço também era blindada e tinha duas fechaduras, uma que estava fechada com chave e que abriu com a cópia que possuía e outra que não estava fechada, mas estava com a chave na fechadura por dentro, a que foi aberta pelo chaveiro com ajuda de um arame.
Mesmo assim, os investigadores analisam se alguém pode ter entrado através de um terceiro acesso que comunica a casa de Nisman com um estreito corredor onde ficam os ares condicionados do edifício.
Embora Nisman tivesse sido ameaçado e contasse com proteção de dez homens da Polícia Federal, eles declararam que não faziam guarda 24 horas por dia, e nem em frente ao seu apartamento, mas na calçada do edifício.
Apesar das fortes medidas de segurança do prédio, as escadas não possuem com câmaras de segurança.
Além disso, o pessoal da guarda não revisou os pertences do colaborador de Nisman, Daniel Lagomarsino em sua visita sábado, quando ele entregou a pistola que o promotor tinha pedido emprestada e que foi a arma usada em sua morte.
Segundo Lagomarsino, Nisman confessou que o influente ex-diretor de Operações da Secretaria de Inteligência Antonio “Jaime” Stiuso o tinha prevenido contra sua custódia.
Stiuso foi nos últimos dias também um dos alvos das acusações da presidente Cristina Kirchner, que o acusou de ter feito “algo mais” que dirigir a investigação de Nisman que culminou em uma denúncia contra ela e alguns colaboradores de acobertamento dos terroristas responsáveis pelo atentado à Amia em 1994.
O paradeiro do ex-agente argentino é desconhecido, embora Fein tenha indicado que não pretende chama-lo a depor.
Fein também não deve intimar o secretário de Segurança, Sergio Berni, embora tenha sido denunciado por entrar no apartamento sem a presença da equipe judicial.
A promotora revelou hoje também que nas últimas horas foi roubada a casa de um jornalista que recebeu material de Nismam na véspera de sua morte.
No entanto, o jornalista Laureano Pérez Izquierdo replicou que não foi sua casa, mas outra contígua, e assegurou que descartou o envelope depois de recebê-lo porque a informação que continha era “mais do mesmo” e já a tinha divulgado em uma nota prévia.
“Não tenho provas, mas também não tenho dúvidas”, expressou hoje Cristina Kirchner em carta divulgada através das redes sociais na qual se mostra convencida que a morte de Nisman “não foi um suicídio, mas uma operação contra o governo”.
Até o momento, uma das poucas certezas é que a arma de onde saiu a bala que provocou a morte do promotor foi a emprestada por Lagomarsino e que foi localizada ao lado do corpo.
Embora a autópsia tenha determinado que não houve participação de terceiras pessoas na morte de Nisman, a ausência de pólvora em suas mãos impede por enquanto de determinar que ele se suicidou e deixa todas as hipótese abertas. EFE
mcg/cd
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.