Diretor de redação da Folha de S. Paulo, Otavio Frias Filho morre aos 61 anos
Otavio Frias Filho, diretor de redação da Folha de S. Paulo, morreu nesta terça-feira (21) aos 61 anos. Ele lutava contra um câncer no pâncreas desde o início do ano quando passou por uma cirurgia para remoção do tumor e começou a tomar medicamento quimioterápico. Idealizador de algumas das mais importantes mudanças já realizadas no jornal, dedicou a vida ao ofício do jornalismo – segundo ele, nosso “mal necessário”.
Tudo começou em 1962 quando seu pai, o empresário Octavio Frias de Oliveira, comprou a empresa que editava a Folha. Sua atuação, no entanto, iniciou-se de fato em 1975 escrevendo editoriais e assessorando Cláudio Abramo, o então diretor. Foi nessa época que os três, juntos, começaram a pensar em uma reforma editorial que acompanhasse os rumos do país. Afinal, o fim do regime militar e o início da abertura política se aproximavam.
Encabeçada por Otavio, a Folha passou a dar voz à sociedade civil e apoiou a campanha pelas “Diretas Já” em 1983. No ano seguinte, ele assumiu a direção e colocou o jornal “de cabeça para baixo”. Uma de suas primeiras medidas foi criar o Projeto Folha, determinando um conjunto de diretrizes que traduziam as linhas do veículo.
O documento diz que a Folha “se propõe a realizar um jornalismo crítico, apartidário e pluralista”, sustenta “a democracia representativa, a economia de mercado, os direitos do homem e o debate dos problemas sociais” e “adota uma atitude de independência em face a grupos de poder”. Além disso, considera “notícias e idéias como mercadorias a serem tratadas com rigor técnico” e acredita que “a democracia se baseia no atendimento livre, diversificado e eficiente da demanda coletiva por informações”.
Esses ideais foram adicionados no mesmo período ao Manual da Redação da casa. No último mês de fevereiro, esse manual foi atualizado e teve sua quinta edição lançada. Para marcar a mudança, o próprio Otávio publicou um artigo com algumas explicações não apenas sobre o texto, mas sobre seu próprio entendimento sobre o ofício.
“Ao disseminar notícias e opiniões, a prática jornalística municia seus leitores de ferramentas para um exercício mais consciente da cidadania”, disse. “Desde que comprometidos com o debate dos problemas públicos, os veículos servem como arena de ideias e soluções. O livre funcionamento das várias formas de imprensa, mesmo as de má qualidade, corresponde em seu conjunto à respiração mental da sociedade”, completou. Para finalizar, usou da acidez para fazer uma provocação. “A imprensa, que vive de cobrir crises, sempre esteve em crise”.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.