Ebola: o novo desafio humanitário em meio ao aumento dos conflitos

  • Por Agencia EFE
  • 05/08/2014 12h03

Isabel Saco.

Genebra, 5 ago (EFE).- O surto de ebola em três países de África Ocidental se transformou no novo desafio humanitário do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho que pode atuar com eficácia superior às equipes e especialistas vindos do exterior, declarou nesta terça-feira em entrevista com à Agência Efe o novo diretor-geral da organização, o senegalês Elhadj As Sy.

Sy dirige a partir dessa semana o maior movimento humanitário do mundo, que se apoia no trabalho de 17 milhões de voluntários e que apenas no ano passado ajudou 85 milhões de pessoas.

“Nas crises sanitárias temos que dar mais atenção à proteção dos voluntários e da equipe através de um equipamento apropriado para trabalhar em condições seguras”, enfatiza Sy em seu escritório na sede mundial da organização, em Genebra.

O atual surto de ebola em Guiné, Libéria e Serra Leoa é o mais letal visto até agora e 2.500 voluntários das sociedades de socorro destes países trabalham para controlá-lo, com o apoio de dezenas de especialistas e uma equipe de profissionais estrangeiros.

O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho coordenou nestes dias o envio urgente de uma equipe de 20 especialistas a Serra Leoa para pôr em funcionamento um centro de tratamento e isolamento de doentes de ebola.

“Os voluntários estão bem equipados com todo o material que precisam: levam máscaras, roupas especiais, luvas e produtos de higiene antes de serem autorizados a ir às regiões afetadas. Também terão formação sólida sobre como se comportar com os doentes”, esclarece Sy.

Para a luta contra o ebola nas quais estão comprometidas as sociedades de socorro dos três países afetados, o financiamento ainda é escasso, com 40% de 2,2 milhões de euros solicitados para Guiné; 26% dos 1,5 milhão para Libéria, e 19% dos 1,1 milhões para Serra Leoa.

O novo diretor-geral considera que uma questão fundamental para romper a cadeia de transmissão do ebola é entender as particularidades socioculturais das comunidades afetadas.

“Quando às pessoas não têm permissão para entrar em contato direto com os parentes doentes ou não tratar os cadáveres como recomenda a cultura ou a religião isto cria uma incompreensão cultural. São situações difíceis nas quais devemos facilitar a compreensão”, explica.

A crise sanitária do ebola e outras que possam surgir no futuro se somaram ao grande desafio que já representa para o movimento humanitário a ajuda às vítimas de desastres naturais e de conflitos armados.

“As crises se multiplicam pelos caprichos da natureza e por conflitos políticos. As linhas entre o trabalho de urgência, de transição e de reconstrução estão desaparecendo e, agora, somos obrigados a fazer de tudo um pouco”, diz Sy.

No entanto, o campo de atuação dos voluntários está diminuindo nas situações de conflito por conta dos ataques cada vez mais frequentes contra os profissionais, veículos, hospitais e instalações cujo único fim é fornecer ajuda às vítimas.

“Os dilemas da humanidade são muito conhecidos e visíveis nas zonas de intervenção. Todas as partes de um conflito devem respeitá-los”, reivindica Sy, que vê nisto um dos maiores obstáculos à ação humanitária.

Na guerra civil da Síria 37 voluntários da Cruz Vermelha Síria morreram, dois na Palestina, recentemente em Gaza, e um no ano passado no conflito étnico da República Centro-Africana.

Ao contrário do que podia ser temido, o perigo não dificultou a mobilização de voluntários. Milhares deles tentam melhorar a situação nos mais diversos contextos: desde o Sudão do Sul e República Centro-Africana até Ucrânia, Iraque e Gaza.

Em cada situação, o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho é e deve ser “suficientemente flexível” para se adaptar às circunstâncias, enquanto tenta sensibilizar os doadores para financiar todo este grande movimento.

“As respostas variam e dependem da natureza da crise e de sua localização. Não acho que seja casualidade que o pedido de fundos para a Ucrânia esteja financiado em 67%, enquanto para o Sudão do Sul, que é anterior, esteja em apenas 20%”, comenta Sy. EFE

is/lab

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