Banco Central eleva a Selic para 5,25% no maior movimento de alta em 18 anos

Copom acrescenta 1 ponto percentual na taxa básica de juros da economia brasileira para evitar que o avanço da inflação deste ano contamine as perspectivas para 2022

  • Por Jovem Pan
  • 04/08/2021 18h48 - Atualizado em 04/08/2021 19h14
Adriano Machado/Reuters Homem passa em frente ao prédio do Banco Central em Brasília Banco Central deva manter trajetória de queda nos juros

Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) voltou a subir, nesta quarta-feira, 4, a taxa básica de juros da economia brasileira, passando a Selic de 4,25% para 5,25% ao ano. A dose de 1 ponto percentual é o movimento de alta mais intenso desde fevereiro de 2003 e quebra a sequência de acréscimo de 0,75 ponto percentual adotada nas últimas três reuniões do colegiado. O avanço deixa a Selic no patamar mais elevado desde setembro de 2019. O aumento da dose já era esperado pelo mercado financeiro em meio à persistência da trajetória de alta da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi a 8,59% na prévia dos 12 meses encerrados em julho. Os analistas esperam que o ritmo de aumento seja mantido nos próximos encontros da autoridade monetária e que a taxa de juros encerre 2021 em 7%, segundo dados do Boletim Focus divulgados nesta semana. O colegiado tem mais três encontros no calendário de 2021 e volta a se reunir entre os dias 22 e 23 de setembro.

Em nota, a autoridade monetária afirmou que deve fazer um novo aumento de 1 ponto percentual na próxima reunião, elevando a Selic para 6,25% ao ano. ” O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.” O colegiado reconheceu que o ciclo de elevação deve superar o patamar neutro dos juros, quando a taxa não estimula a economia nem frea a atividade, considerado em 6,5% pelos analistas. Além das pressões atuais, o BC apontou a reabertura do setor dos serviços “poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de inflação”. “O Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser mais tempestivo no ajuste da política monetária é a mais apropriada para garantir a ancoragem das expectativas de inflação. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.”

O Copom citou a disseminação da variante Delta da Covid-19 como um risco adicional à recuperação das economias globais e fator de pressão inflacionária. “Ainda assim, o ambiente para países emergentes segue favorável com os estímulos monetários de longa duração, os programas fiscais e a reabertura das principais economias”, afirmou. Para o cenário doméstico, o colegiado apontou que a queda do valor das commodities deve trazer alívio para o real ante o dólar, mas que o prolongamento de políticas de combate à pandemia pode deteriorar as expectativas. “Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.”

tabela selic

energia elétrica assumiu o papel de principal vilã da inflação com o encarecimento da taxa extra da fatura em meio à pior crise hídrica dos últimos 90 anos. O índice também é pressionado pelo encarecimento das commodities, sobretudo os combustíveis e os alimentos. A mediana da pesquisa feita pelo Banco Central com mais de cem instituições financeiras mostra que a perspectiva para a inflação subiu para 6,79%, ante 6,56% na semana passada e 6,07% há um mês. O presidente da autoridade monetária nacional, Roberto Campos Neto, já admitiu que a inflação vai fechar o ano acima do limite máximo ao projetar avanço de 5,8%, e afirmou que os trabalhos estão voltados para evitar a contaminação das perspectivas de 2022. Para o ano que vem, o BC tem meta de 3,50%, com variação entre 2% e 5%. O carregamento da pressão inflacionária de 2021 começa a prejudicar as estimativas para 2022, com a elevação da estimativa do IPCA para 3,81% no Boletim Focus, ante expectativa de 3,70% há um mês. Apesar da pressão no curto prazo, economistas afirmam que a autoridade monetária consegue reverter o processo, desde que mantenha a postura firma diante da trajetória ascendente do IPCA.  “Tem que fazer o que for necessário para controlar e dar confiança. Aí pode baixar os juros na frente à medida que as expectativas caiam. Acho que o Banco Central tem todos os instrumentos e tem tempo e condições para controlar a inflação corrente e as expectativas de inflação”, afirmou à Jovem Pan o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

O cenário inflacionário de 2022 ainda deve ser impactado pela forte volatilidade do câmbio em meio ao processo eleitoral. A retomada do setor de serviços a partir do avanço da imunização da população contra o novo coronavírus também é apontada como ponto de pressão na variação dos preços. Por outro lado, a normalização da cadeia produtiva, após a falta de insumos que afetou a indústria em 2020 e início deste ano, e a acomodação da oferta e procura — ambos fenômenos da crise sanitária sobre a economia — tendem a tirar parte da força do IPCA. A inflação vem em ritmo de escalada desde o segundo semestre de 2020. O IPCA encerrou o ano passado com alta de 4,5%, a maior variação desde 2016.

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