Banco Central eleva os juros, e Selic vai a dois dígitos pela 1ª vez em cinco anos

Copom promove a oitava alta seguida e sobe a taxa básica para 10,75%, o maior patamar desde 2017; autarquia sinaliza desaceleração na escalada no próximo encontro

  • Por Jovem Pan
  • 02/02/2022 18h42 - Atualizado em 02/02/2022 19h25
Selic fev/21 Banco Central promoveu o oitavo aumento da Selic e elevou taxa ao maior patamar em cinco anos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) subiu mais uma vez, nesta quarta-feira, 2, a taxa básica de juros da economia brasileira, passando a Selic de 9,25% para 10,75% ao ano. O terceiro acréscimo consecutivo de 1,5 ponto percentual era esperado pelos analistas e segue a estratégia de elevação dos juros anunciada pela autoridade monetária nas últimas reuniões. A mudança deixa a Selic em dois dígitos pela primeira vez em cinco anos e coloca os juros no maior patamar desde abril de 2017, quando estavam em 11,25% ao ano. Esta foi a oitava alta consecutiva promovida pelo BC. Desde março de 2021, quando a Selic passou de 2% — o menor patamar da história — para 2,75%, o Copom já acrescentou 8,75 pontos percentuais na taxa básica. A previsão do mercado financeiro é pela manutenção da escalada. Projeções do Boletim Focus, a pesquisa organizada pelo BC, mostram que os analistas estimam a Selic a 11,75% até a virada do ano. Para 2023, os especialistas estimam o início de uma nova temporada de cortes, trazendo os juros para 8%, enquanto para 2024 a taxa deve ser reduzida para 7% ao ano. A aceleração dos juros deve impactar negativamente na recuperação da economia por encarecer a tomada de crédito e impactar na redução dos investimentos. O colegiado se reúne a cada 45 dias. O próximo encontro do Copom está marcado para 15 e 16 de março.

Em nota, o Copom afirmou que o acréscimo de 1,5 ponto percentual foi unânime. Segundo o comunicado, a alta dos juros deve perder força na próxima reunião. “Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, informou. “O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.”

O colegiado citou que a insegurança do mercado do controle de gastos continua “segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação” e deve levar ao alongamento da trajetória da inflação. “O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”

O novo ciclo de alta dos juros ocorre em meio ao avanço da inflação em escala global e aos esforços em trazer a variação para a meta em 2022 e 2023, anos considerados como o horizonte relevante do BC. Em 2021, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação doméstica, encerrou com alta de 10,06%, muito acima da meta de 3,75% e quase o dobro do limite de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A alta da inflação contaminou as expectativas para 2022. O mercado passou a previsão para a inflação em 2022 para 5,38%, ante 5,15% na semana passada. A revisão afasta o patamar da meta de 3,5% perseguida pelo BC, com variação entre 2% e 5%. Para 2023, a pesquisa do BC apontou para alta de 3,5%, contra a expectativa de 3,4% da semana passada. No ano que vem, a autoridade monetária deve perseguir a meta de 3,25%, com limites de 1,75% e 4,75%. A escalada dos preços iniciou em 2020 em reflexo da mudança do eixo de consumo dos serviços para bens forçada pela pandemia da Covid-19. A desorganização das cadeias de produção, a elevação das commodities, a desvalorização do real ante o dólar e a crise hídrica deram impulso para a inflação ao longo do ano passado. O quadro foi agravado pelo aumento da percepção do risco fiscal, principalmente com o apoio de medidas do governo para mudanças no teto de gastos.

O principal remédio para trazer a inflação para baixo também desestimula as atividades ao “aumentar” o preço do dinheiro e desestimulando a tomada de crédito e investimentos. As recentes altas da Selic levaram a taxa para o nível contracionista, ou seja, quando o patamar dos juros prejudica o desenvolvimento da economia. Em dezembro do ano passado, associações do comércio e da indústria alertaram para os efeitos que a escalada da Selic vai ter sobre a retomada das atividades, principalmente na retração do consumo. A alta dos juros em 2021 levou a sucessivos cortes na expectativa para o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e 2023. Analistas do mercado reduziram a expectativa de alta da economia para 0,3% em 2022. No fim de dezembro, a estimativa era de 0,36%. Já para 2023, a projeção foi cortada para 1,55%, ante 1,8% há quatro semanas.

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