BC indica extensão do ciclo de alta dos juros e vê ‘recuperação robusta’ da economia

Colegiado elevou a Selic a 6,25% ao ano e indicou nova alta de 1 ponto percentual na próxima reunião

  • Por Jovem Pan
  • 28/09/2021 11h38 - Atualizado em 28/09/2021 11h41
Adriano Machado/Reuters Homem passa em frente ao prédio do Banco Central em Brasília Banco Central deva manter trajetória de queda nos juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) indicou, nesta terça-feira, 28, a prorrogação do ciclo de alta da Selic para cumprir as metas da inflação dos próximos anos. A autoridade monetária acrescentou 1 ponto percentual na taxa básica de juros no encontro da semana passada e elevou a Selic para 6,25% ao ano. “O Copom concluiu que, neste momento, a manutenção do atual ritmo de ajuste associada ao aumento da magnitude do ciclo de ajuste da política monetária para patamar significativamente contracionista é a estratégia mais apropriada para assegurar a convergência da inflação para as metas de 2022 e 2023”, informou a autoridade monetária na ata da reunião. De acordo com o colegiado, o aumento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o medidor oficial da inflação brasileira, é pressionado pelos gastos do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus. “Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.”

O BC persegue a meta inflacionária de 3,75% em 2021, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 2,25% e 5,25%. A prévia do IPCA de setembro foi a 1,14% — o maior valor desde 1994 —, e acumulou alta de 10,05% nos últimos 12 meses. O mercado financeiro voltou a elevar a expectativa para o IPCA em 2021 e 2022. Para este ano, a previsão passou para alta de 8,45%, enquanto para o ano que vem a estimativa foi a 4,12%. Para 2022, a autoridade monetária nacional persegue a meta de 3,5%, com variação entre 2% e 5%. A inflação avança pressionada majoritariamente pelo encarecimento dos combustíveis e da energia elétrica. No primeiro caso, a alta é justificada pela elevação do preço do barril de petróleo no mercado internacional e a manutenção da cotação do dólar em patamar elevado. Já a alta na conta de luz é reflexo da pior crise hídrica que o país atravessa nos últimos 91 anos, que força a diminuição da geração de energia por hidroelétricas e obriga a ativação de estações termoelétricas — mais caras e poluentes.

A alta de 1 ponto percentual já era esperada pelo mercado financeiro após o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmar que a autoridade monetária iria manter o “plano de voo” para trazer as expectativas do IPCA ao centro da meta. Antes, os analistas previam acréscimo de 1,25 ponto a 1,5 ponto na Selic. Segundo a ata, o aumento acima do praticado foi debatido pelo colegiado. “O Copom avaliou os custos e benefícios de acelerar o ritmo da elevação dos juros, fazendo as seguintes ponderações. Em primeiro lugar, o estágio do ciclo de ajuste é caracterizado por uma política monetária já efetivamente contracionista, o que é evidenciado quando se observa a diferença das expectativas para as trajetórias da taxa de juros e da inflação ao longo do horizonte relevante de política monetária. Em segundo lugar, simulações com trajetórias de elevação de juros que mantêm o ritmo atual de ajuste, mas consideram diferentes taxas terminais, sugerem que o atual ritmo de ajuste é suficiente para atingir patamar significativamente contracionista e garantir a convergência da inflação para a meta em 2022, mesmo considerando a assimetria no balanço de riscos”, informou. “Finalmente, o peso de itens voláteis nas revisões das projeções de inflação de curto prazo e o ineditismo do processo de readequação econômica pós-pandemia reforçam o benefício de acumular mais informações sobre o estado da economia e a persistência dos choques em vigor.”

O colegiado também ponderou sobre as expectativas de crescimento da economia e afirmou que “contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre” diante do avanço da imunização contra a Covid-19. O movimento de retomada deve ser estendido ao ano que vem. “Para 2022, o Copom considera que o crescimento da economia será beneficiado por três fatores. Primeiro, pela continuação da recuperação do mercado de trabalho e do setor de serviços, mesmo que em menor intensidade do que se antecipava anteriormente; segundo, pelo desempenho de setores menos ligados ao ciclo de negócios, como agropecuária e indústria extrativa; e, terceiro, por resquícios do processo de normalização da economia conforme a crise sanitária arrefece”, informou o Copom. Sobre o cenário internacional, o BC afirmou haver dois fatores de risco para o desenvolvimento das economias emergentes. “Primeiro, reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid-19. Segundo, o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes, em reação a surpresas inflacionárias recentes. No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes.”

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