Comércio tem o pior dezembro da história, mas fecha 2020 com alta de 1,2%

Impactadas pela antecipação de compras e redução do auxílio emergencial, vendas caíram 6,1% em dezembro ante novembro; inflação alta e fim de incentivos fiscais criam desafios para 2021

  • Por Jovem Pan
  • 10/02/2021 11h30 - Atualizado em 10/02/2021 11h41
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EDUARDO MATYSIAK/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO black-friday Antecipação da compra de de bens duráveis e semiduráveis durante a pandemia refletiu na queda do comércio no fim de ano

As vendas no varejo recuaram 6,1% em dezembro de 2020 na comparação com o mês anterior, o maior tombo desde o início da série histórica iniciada em 2000, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, 10. Foi o segundo mês seguido de queda, já que em novembro o volume de atividades havia registrado retração de 0,1%. A despeito dos índices negativos, as vendas no comércio encerraram 2020 com avanço de 1,2% ante 2019, o quarto ano seguido de crescimento. No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, o volume de vendas em dezembro recuou 3,7% em relação a novembro e fechou o ano em queda de 1,5%, após três anos consecutivos de altas.

Para analistas, o tombo histórico de dezembro é reflexo da antecipação das compras de bens duráveis e semiduráveis durante a pandemia do novo coronavírus, feitas tradicionalmente no fim de ano. A redução das parcelas do auxílio emergencial a partir de setembro, passando de R$ 600 para R$ 300, também influenciou na retração do consumo nos últimos meses do ano. “De acordo com o nosso índice de momentum, o número de setores crescendo a um ritmo significativo nos últimos 6 meses caiu de 69,5% em novembro para 53,2% em dezembro. Vestuário, material de escritório e artigos de uso pessoal e doméstico foram as principais surpresas negativas no mês, embora todos os setores tenham mostrado retração na comparação com novembro. Os piores resultados foram apresentados, em geral, pelos bens semiduráveis”, afirma Lisandra Barbero, economista da XP Investimentos.

O avanço da inflação no último trimestre do ano, sobretudo dos alimentos, também explica a retração das compras dos brasileiros. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial da economia brasileira, encerrou o trimestre entre outubro e dezembro com alta de 3,13%. No acumulado de 2020, o índice avançou 4,52%, o mais alto em quatro anos, puxado principalmente pela disparada de 14,1% no segmento de alimentos, o maior registro desde 2002. Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), aponta para a influência dos setores de hiper e supermercados, que registraram queda de 0,3% no mês, na composição do levantamento. “O que acontece nos mercados influencia bastante a pesquisa. E, por conta dos resultados recentes do IPCA, o volume de vendas acabou sendo afetado”, justifica. Em janeiro, a inflação avançou 0,25%, ante 1,35% em dezembro. No acumulado de 12 meses, porém, o índice já registra alta de 4,56%. A continuidade da pressão inflacionária e a redução de incentivos fiscais dados pelo governo federal no último ano devem gerar desafios para o varejo nos primeiros meses deste ano. “Para 2021, entendemos que o setor deve continuar perdendo fôlego, em meio à alta da inflação de alimentos e principalmente à redução dos incentivos fiscais. No entanto, sinais de aumento da ‘poupança circunstancial’ por parte das famílias mais ricas e condições de crédito positivas podem ajudar a preencher parcialmente essa lacuna”, afirma Lisandra.

Todas as dez atividades do varejo retraíram no mês de dezembro na comparação com novembro. Os destaques negativos ficaram para artigos de uso pessoal e doméstico, com queda de 13,8%, enquanto o setor de tecidos, vestuário e calçados recuou 13,3%. O cenário é diferente no acumulado anual de 2020. Cinco setores tiveram alta: material de Construção (10,8%), móveis e eletrodomésticos (10,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (8,3%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,8%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,5%).

Outros artigos de uso pessoal e doméstico caiu 13,8%, enquanto tecidos, vestuário e calçados recuou 13,3%. Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-6,8%), móveis e eletrodomésticos (-3,7%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-2,7%), além de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-1,6%), combustíveis e lubrificantes (-1,5%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,3%) completam o comércio varejista. No varejo ampliado, a queda em veículos, motos, partes e peças foi de 2,8% enquanto em material de construção, o recuo foi 1,8%. O cenário é diferente no acumulado anual de 2020. Cinco setores tiveram alta: material de Construção (10,8%), móveis e eletrodomésticos (10,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (8,3%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,8%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,5%).  “As atividades tiveram dinâmicas diferentes durante o ano. Algumas foram muito afetadas pela pandemia e pelos momentos mais rigorosos de isolamento, como vestuário e combustíveis. Já outras se beneficiaram de mais pessoas em casa, como material de construção, ou não fecharam em momento algum, como hipermercados”, afirma Cristiano.

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