Dólar cai a R$ 5,37 com otimismo externo; apreensão doméstica freia Ibovespa
A despeito dos sinais de aprovação do pacote de US$ 1,9 trilhão nos EUA, investidores analisam mudanças na política de preços da Petrobras e retorno do risco fiscal após fala do presidente do Senado sobre auxílio
Os sinais para a aprovação do pacote de US$ 1,9 trilhão em estímulos à economia dos Estados Unidos impulsionaram os mercados ao redor do mundo nesta segunda-feira, 8. A despeito do sopro de otimismo global, o clima no Brasil foi contaminado com a apreensão de investidores pelo risco de intervenção na política de preços da Petrobras e o acirramento do aumento dos gastos públicos. Mais influenciado pelo noticiário internacional, o dólar fechou o primeiro dia da semana com queda de 0,20%, a R$ 5,372. A divisa chegou a bater a máxima de R$ 5,420, enquanto a mínima não baixou de R$ 5,306. Na sexta-feira passada, 5, o dólar encerrou a R$ 5,383, com queda acumulada de 1,66% na semana. A Bolsa de Valores brasileira não manteve o otimismo e passou a cair no início da tarde. O Ibovespa, principal índice da B3, fechou o dia com recuo de 0,45%, aos 119.696 pontos. A última semana fechou com alta de 0,82%, aos 120.240 pontos. “Contrariando o movimento de alta das bolsas internacionais, o Ibovespa caminha para iniciar a semana em ligeira queda e sem forças para romper a faixa de 120 mil pontos, com os investidores céticos com o avanço da agenda de reformas e preocupados com os riscos de intervenção estatal na política de preços da Petrobras. A mudança da política de preços anunciada em fato relevante na última sexta-feira levantou dúvidas sobre a transparência da decisão e elevou o nível de risco da empresa, o que acabou motivando o rebaixamento de recomendações por bancos e corretoras, vendo que no atual patamar o nível de risco x retorno não está tão atrativo”, afirma Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, afirmou neste fim de semana que a aprovação do pacote de quase US$ 2 trilhões para a economia norte-americana pode levar à retomada do emprego já no próximo ano. A medida ainda precisa do aval do Congresso. Nesta segunda-feira, o porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que o presidente Joe Biden pode ajustar o sua proposta de pacote fiscal e retirar o item que eleva o salário mínimo nacional, hoje em US$ 7,25 por hora, para US$ 15 por hora. “É claro que haverá ajustes na proposta de pacote fiscal. O presidente Biden ficou no Senado por 36 anos e sabe como uma negociação funciona”, declarou ela, em coletiva de imprensa. Após deixar a oposição de lado, Biden anunciou, na última sexta-feira, que decidiu manter a proposta de novos cheques de US$ 1.400 a pessoas em situação de vulnerabilidade, como forma de atenuar os impactos econômicos da crise da Covid-19. A posição revoltou o Partido Republicano, que negociava enxugar os benefícios, alegando a iminência de pressões na inflação e na dívida pública.
Na pauta doméstica, investidores analisam o aumento da Petrobras no preço da gasolina, diesel e gás de cozinha aos distribuidores a partir desta terça-feira, 9. O novo valor vem depois de dois anúncios da estatal ao mercado sobre mudanças na política de preços nos últimos dias. Na sexta-feira, 5, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) convocou o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco para explicar o valor dos combustíveis, e anunciou que o governo federal vai encaminhar um projeto de lei para mudanças na cobrança do ICMS, de arrecadação estadual. Em conversa com apoiadores, Bolsonaro afirmou que o reajuste divulgado nesta manhã trará uma “chiadeira com razão” e que não é ditador para impôr mudanças na formulação de preços da estatal. Também no âmbito nacional, o mercado foi impactado pelas declarações do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de que a liberação de novas parcelas do auxílio emergencial não devem estar atreladas a aprovação da PEC do Pacto Federativo, que visa liberar amarras do orçamento. A fala reacendeu a preocupação dos investidores para o risco fiscal e aumento dos gastos públicos.
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