Dólar bate R$ 5,75 com ameaças ao teto de gastos e baixas na equipe de Guedes

Bolsa chega a cair 4% e volta aos 103 mil pontos com forte aversão do mercado às tratativas do governo para mudar a regra fiscal

  • Por Jovem Pan
  • 22/10/2021 10h21 - Atualizado em 22/10/2021 17h24
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Antara Foto/Hafidz Mubarak/via Reuters Mão segura diversas cédulas de dólar Dólar avança com pressão internacional em meio entraves da guerra no Leste Europeu

Os principais indicadores do mercado financeiro brasileiro operam no campo negativo nesta sexta-feira, 22, em reflexo à piora do cenário fiscal após as movimentações do governo federal para mudar as regras do teto de gastos e a debandada de secretários do Ministério da Economia. Por volta das 13h30, o dólar operava com alta de 0,90%%, cotado a R$ 5,719. A divisa norte-americana chegou a bater máxima de R$ 5,755, enquanto a mínima não passou de R$ 5,674. O câmbio encerrou a véspera alta de 1,92%, a R$ 5,668, o maior valor desde 14 de abril, quando foi a R$ 5,670. O Ibovespa, referência da Bolsa de Valores brasileira, opera com baixa de 3,71%, aos 103.735 pontos. Nos piores momentos, a queda chegou a superar 4%. O pregão desta quinta-feira, 21, encerrou com forte recuo de 2,75%, aos 107.735 pontos, a pior pontuação desde 23 de novembro, quando fechou com 107.378 pontos.

Um acordo entre o governo federal e o Congresso mudou o relatório da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, aprovado na sessão especial da Câmara nesta quinta-feira, para acrescentar o trecho que altera o prazo de correção do teto de gastos, com potencial de abrir mais de R$ 80 bilhões no Orçamento de 2022, ano que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve tentar a reeleição. O novo parecer do relator Hugo Motta (Republicanos-PB) prevê mudar o período acumulado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro a dezembro. Desde 2017, quando a regra fiscal entrou em vigor, o valor leva em consideração o acumulado nos 12 meses encerrados em junho. De acordo com o relator, a mudança vai resultar em um ganho de R$ 39 bilhões nas contas públicas. Somado ao acumulado de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões previsto com o adiamento do pagamento dos precatórios, a PEC traria espaço estimado de R$ 83 bilhões. O texto deve ir para o plenário da Câmara na próxima semana, onde precisa ser aprovado em dois turnos com ao menos 308 votos, e depois segue para debate no Senado.

As mudanças na principal âncora fiscal do governo levaram ao pedido de demissão de quatro auxiliares de Paulo Guedes, incluindo o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt. “A decisão de ambos é de ordem pessoal. Funchal e Bittencourt agradecem ao ministro pela oportunidade de terem contribuído para avanços institucionais importantes e para o processo de consolidação fiscal do país”, informou a nota. A debandada foi completada pela saída da secretária especial adjunta do Tesouro e Orçamento, Gildenora Dantas, e do secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Araujo. Segundo a pasta, eles também saíram por razões pessoais. Como agravante ao risco fiscal, Bolsonaro anunciou na tarde de ontem que o governo vai pagar um auxílio de R$ 400 para 750 mil caminhoneiros autônomos no intuito de compensar os aumentos do preço do diesel. O presidente, no entanto, não explicou de onde os recursos para bancar o benefício virão e nem quais serão os valores pagos aos profissionais. Horas depois, Bolsonaro minimizou as críticas e comemorou a aprovação do texto base da PEC dos Precatórios. “Estou buscando solução. O auxílio de R$ 400 para caminhoneiros, que vai estar abaixo de R$ 4 bilhões por ano, dentro do orçamento. Aí fica o mercado nervosinho. Se vocês explodirem a economia do Brasil, o pessoal do mercado, vocês vão ser prejudicados também”, afirmou o presidente. Bolsonaro falou ainda que existe uma resistência grande dentro da própria equipe econômica. “Tem secretário que quer fazer valer a sua vontade. Então, o ministro deu uma decisão, vamos gastar dentro do teto, então as reformas continuam, a gente espera que a reforma administrativa continue, a tributária continue, como foi feito com a da previdência no passado”, comentou.

 

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