Dólar sobe 5,3% em setembro e fecha a R$ 5,44; Bolsa cai 6,5% e volta aos 110 mil pontos
Mercados são pressionados pelo aumento das expectativas de inflação no Brasil e nos Estados Unidos; risco fiscal reforça mau humor no cenário doméstico
Os principais indicadores do mercado financeiro brasileiro fecharam no campo negativo nesta quinta-feira, 30, pressionados pelo aumento das expectativas com a inflação doméstica e nos Estados Unidos, além do retorno do risco fiscal ao radar. O dólar encerrou o dia com alta de 0,29%, cotado a R$ 5,446. O câmbio chegou a bater a máxima de R$ 5,476, enquanto a mínima não passou de R$ 5,369. O resultado faz a moeda norte-americana fechar setembro com alta de 5,3%. Desde o início do ano, o dólar avançou 5% ante o real. Seguindo o mau humor dos mercados internacionais, o Ibovespa, referência da Bolsa de Valores brasileira, encerrou o dia com queda de 0,11%, aos 110.979 pontos. O pregão acumulou queda de 6,5% no mês, e desde janeiro acumula recuo de 6,7%.
Mercados em todo o mundo repercutiram o aumento das expectativas com a inflação nos Estados Unidos. O presidente do Banco Central norte-americano (Fed, na sigla em inglês), Jerome Powell, afirmou nesta manhã que a variação de preços deve se manter elevada até o próximo ano. O cenário aumenta as apostas de a autoridade monetária antecipar a redução dos estímulos com o aumento da taxa de juros e a redução da compra de títulos públicos, atualmente em US$ 120 bilhões ao mês. Investidores também acompanham a crise energética na China e os impactos que a sequência de apagões terá na segunda maior economia do mundo. Ainda no cenário chinês, o risco de colapso da Evergrande, uma das maiores empreiteiras do país, reforça o clima negativo com os possíveis reflexos nos negócios locais e no resto do globo.
Na pauta doméstica, o avanço da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a assombrar os investidores. A prévia de setembro mostrou que o índice continua pressionado pelo encarecimento dos combustíveis e da energia elétrica, fatores que não têm previsão de se dissiparem no curto prazo. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a afirmar nesta manhã que a autoridade monetária vai continuar com a alta dos juros até que a meta da inflação seja atingida. O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic a 6,25% na semana passada e indicou novo acréscimo de 1 ponto percentual na reunião no fim de outubro. Segundo Campos Neto, o arcabouço da política monetária não vai ser alterado. “Vamos continuar perseguindo na forma que tem sido feito. Acreditamos que é importante atingir a meta no horizonte relevante”, disse. No Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o Banco Central estimou não haver mais possibilidade de a inflação fechar 2021 dentro da meta. A autoridade monetária espera que o indicador some alta de 9,22% nos 12 meses encerrados em novembro.
O risco fiscal também voltou a tomar força no radar dos investidores com as discussões para a renovação do auxílio emergencial. O governo federal busca um acordo para estender o benefício ao menos até dezembro, mas encontra resistência na equipe econômica comandada por Paulo Guedes. À Jovem Pan, auxiliares do Executivo afirmaram que o Ministério da Cidadania dialoga diretamente com pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e com lideranças do Congresso para estender o pagamento, que tem prazo para encerrar em outubro. As tratativas caminham na direção de acrescentar dois meses no calendário, prazo visto como o suficiente para que a União consiga definir as fontes de recursos do Auxílio Brasil, o programa social projetado para substituir o Bolsa Família.
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